A Arquidiocese de Évora promoveu, neste domingo, dia 23 de novembro, uma jornada especial dedicada à Solenidade de Cristo Rei, integrada no Jubileu do Ano Santo 2025, com a celebração da Solenidade que foi antecedida pelo Encontro dos Movimentos Eclesiais com o Arcebispo de Évora.

A Jornada iniciou no Auditório da Fundação Eugénio de Almeida, reunindo cerca de duas centenas de representantes de Movimentos Eclesiais e fiéis sob o lema “Em Cristo, Peregrinos de Esperança”. Do Apostolado da Oração participaram 136 membros.

O programa iniciou-se às 15h00, com um momento de acolhimento e boas-vindas dirigido pelo Arcebispo de Évora. Seguiu-se um diálogo com os Movimentos Eclesiais, promovendo a comunhão e o espírito sinodal que marcam este tempo jubilar.

De seguida foi apresentada a conferência “Do Jubileu ao Ano Santo”, orientada pelo Cón. José Morais Palos, oferecendo uma reflexão teológica e pastoral sobre o significado do jubileu na vida da Igreja.

O encontro culminou com a Peregrinação jubilar dos Movimentos Eclesiais até à Sé de Évora, terminando com a Solene Celebração da Eucaristia, às 17h00, na Catedral.

Cada Movimento trouxe os seus símbolos, que integraram o cortejo e enriqueceram o caráter celebrativo da peregrinação.

À homilia, o Arcebispo de Évora saudou todos os presentes, deixando uma saudação especial aos diáconos permanentes que foram ordenados há 18 anos, nesta solenidade, pelo saudoso D. Maurílio de Gouveia. “Parabéns, caros diáconos pelos 18 anos dos vossos ministérios. Connosco nesta celebração encontra-se o Diácono Luís Rodrigues e o Diácono Bernardino Melgão. Lembramos o saudoso Diácono Fernando Santana, já falecido, e rezamos pelas melhoras do Diácono José Carlos Frausto”, disse.

“A última palavra não pertence aos poderes do mundo, mas Àquele que reina do alto da cruz”

“Amados irmãos e irmãs, na sua sabedoria, a Igreja convida-nos no último domingo do Ano Litúrgico a voltar o olhar para aquele que é o Alpha e o Omega, o sentido e a finalidade da História,  Nosso Senhor Jesus Cristo,  Rei do Universo”, começou por dizer o Prelado, acrescentando que esta solenidade encerra o Ano Cristão, o Ano Litúrgico, e recorda-nos que apesar dos conflitos, contradições e desumanidades que reinam neste momento da história, a última palavra não pertence aos poderes do mundo, mas Àquele que reina do alto da cruz, onde a sabedoria se expressa, não de modo tirânico ou impositivo, mas no auge do amor doado e sacrificado”.

“Na instituição da Solenidade de Cristo Rei, há 100 anos, por parte do Papa Pio XI, em 1925,  através da encíclica Quas Primas, o contexto social e histórico era tão preocupante quanto o atual”, recordou, referindo que  “as guerras movidas por espíritos de nacionalismos e regimes totalitários conduziram o Papa a reafirmar,  nesse ano de 1925 e nesse documento, uma verdade inabalável. A Festa de Cristo Rei proclamará ao mundo inteiro que a Igreja tem o direito e o dever de recordar aos povos o amor de Cristo, o domínio universal de Cristo através do seu reino de justiça, de paz e de amor.  Únicas realidades capazes de renovar a Humanidade e de solidificar em pedra rocha inabalável o dom da paz”. 

“A história não se repete, mas como diz um grande historiador, rima – não se repete, mas rima. Também hoje assistimos ao aumento da violência,  à guerra,  às polarizações, à manipulação da verdade e aos atos cada vez mais frequentes de desumanidade. Os conflitos atuais, internacionais,  sociais e familiares revelam o afastamento de Cristo e do seu domínio santo sobre os corações dos homens”, desenvolveu o Prelado, sublinhando que “é inevitável constatar as consequências de um reino deste mundo, do príncipe deste mundo, um reino sem Deus, sem espiritualidade, sem interioridade, sociedades desorientadas, ideologias que destroem a dignidade humana, vidas descartadas, novas gerações de juventude sem horizontes de esperança e de sentido para a vida. Famílias feridas.  Crianças que buscam, já num olhar vazio e vago,  a resposta a uma pergunta: Onde está o amor? Onde mora o amor?”

“Estas são algumas das realidades que se revestem de tristezas, testemunhadas todos os dias por nós. A paz tão desejada torna-se frágil, fragilíssima no mundo sem fé. As ideologias sem Deus, prometendo escatologias de paraíso neste mundo acabam por terminar em aberrações de desumanidade,  em gravíssimas formas de desrespeito à dignidade humana”, afiançou, recordando que foi o Papa Pio XII que um dia lembrou com lucidez: A verdadeira paz só pode surgir onde Cristo reina realmente”.

“O trono deste Rei é a cruz, dois madeiros toscos e o seu modo de reinar é o serviço humilde e amoroso”

Explicando as leituras proclamadas, o Arcebispo de Évora explicou que “o Messias chamado por Deus para apascentar o seu povo é prefigurado lá longe na história,  quase antes do milénio, como aquele que vem apascentar o meu povo. A figura da realeza segundo os desígnios divinos revelado já desde o Antigo Testamento caracterizam-se pelo homem que serve, que orienta para a vida, que protege o seu povo. O rei confunde-se ou identifica-se mesmo como o pastor do povo”. 

“No Evangelho,  como ícone supremo da realeza,  estas particularidades surgem  em Cristo, o verdadeiro e perfeito Messias, apresentado no seu verdadeiro trono de amor,  a cruz”, apontou o Prelado, sublinhando que “são os paradoxos divinos que confundem os orgulhosos do mundo e perturbam os medíocres na aparente fraqueza Cristo reinava e triunfava. O trono deste Rei é a cruz, dois madeiros toscos e o seu modo de reinar é o serviço humilde e amoroso. Foi mediante a paixão que, como afirma São Paulo,  Deus quis, por Cristo,  reconciliar consigo todas as coisas,  estabelecendo a paz pelo sangue da sua cruz”. 

“Reparei, minhas irmãs e meus irmãos, aquela cruz foi programada, foi projetada. Aquela multidão, em forma de caciquismo, foi preparada previamente. Tudo estava feito para que aquela cruz fosse a humilhação, a morte, o esmagamento do que se dizia Filho de Deus. E começou nesse dia a Páscoa. Essa cruz, sinal de mais, não foi morte, mas foi ressurreição,  vitória,  amor!”, afiançou.

“Conforme olhamos para a cruz, podemos perguntar porquê a mim, esta injustiça, tremendo como fez o ladrão que não percebeu a cruz. Ou podemos, em vez de perguntar,  entregarmo-nos à cruz,  dar-lhe um sentido de amor. E começou aí a ressurreição e a Páscoa”, apelou.

“Cruz construída e programada para esmagar e matar,  tornou-se sinal de amor e de vida por todos os séculos dos séculos”, recordou..

“O ladrão que estava revoltado com a cruz também lhe disse,  salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós. A ti mesmo!  Pensa em ti! Vive para ti!  Ser autossuficiente!  Salva a tua pele! Pisa os outros e passa em frente. Mas Jesus agarrou a cruz com amor pelos outros. Deu a vida pelos outros. Não se ficou na atitude de se salvar a si mesmo, mas de dar a vida pela salvação de todos”, explicou o Arcebispo de Évora.

Jesus reina pela verdade e pela misericórdia

“Podemos extrair alguns princípios de modo de reinar segundo Cristo. Em primeiro lugar, Jesus reina pela verdade. São João Paulo II confirma que Cristo é Rei porque veio para testemunhar a verdade e conduzir a humanidade ao Pai. No mundo saturado de propaganda, de manipulações,  fake news, precisamos do Rei da verdade,  eixo da clareza e da reta consciência, libertador dos enganos, das falsas interpretações,  da soberba, do egoísmo, do sucesso a qualquer preço, de uma ética que não olha aos meios para alcançar os fins”, desenvolveu, apelando que “não basta proclamá-lo, Irmãos. Proclamá-lo Rei com palavras. É preciso permitir que ele transforme as nossas atitudes, relações e escolhas”. 

“No entanto, o modo mais deslumbrante de Cristo exercer o seu reinado revela-se na sua misericórdia. O bom ladrão no Evangelho por nós acolhido reconhece e implora a misericórdia daquele que já conquistou o seu coração arrependido e obediente à sua autoridade de amor, exclamando, Jesus, lembra-te de mim quando vieres com a tua realeza”, sublinhou, apontando que “esta atitude é o modelo a imitar por todos os homens, diante deste humilde e confiante reconhecimento, como que a bondade de Deus se sente rendida. Hoje estarás comigo no paraíso”. 

“O bom ladrão compreendeu o reino de paz, justiça e amor. E com ele, um estrangeiro, o centurião. Na verdade este homem é filho de Deus”, sublinhou.

“Nas palavras do saudoso Papa Francisco, Jesus é um rei diferente, reina servindo,  atrai com a ternura do seu amor”, recordou. 

“Minhas irmãs e meus irmãos, já distinguimos o seu reino? Já pertencemos ao seu reino? Já não procuramos apenas salvar a nossa pele? Já não pretendemos apenas ter sucesso? Já somos capazes de dar a vida pelo outro? Pelo meu irmão, pela minha irmã?, questionou, acrescentando, “perante estas conclusões, perguntámos-nos a nós mesmos, como cristãos conscientes, membros de movimentos apostólicos e eclesiais,  sendo Cristo um Rei a quem pertença o dever de anunciar o seu reino? Caberá somente ao clero, aos Padres, aos Diáconos, aos Bispos, aos Consagrados?  Sabeis muito bem, e há muito tempo que não, todo o povo de Deus participa pelo poder da Graça Divina na Potestade de Cristo e torna-se um prolongamento eficaz da sua realeza no mundo”.

Recordando a intenção de Pio XI de suscitar um laicado forte através da ação católica e do Concílio Vaticano II ao explicitar que cada cristão batizado é sacerdote, profeta e rei, e as palavras do Papa Francisco, o Arcebispo de Évora apontou que cada cristão é discípulo-missionário.

“Nos tempos hodiernos, o sucesso da evangelização dependerá de homens e mulheres convictos desta tríplice missão que advém do seu batismo. Devem os cristãos de hoje encarnar o reinado de Cristo em todos os âmbitos, na política, na cultura, na economia, na educação, na comunicação social, na vida familiar e profissional”, apontou.

“A Igreja chegará onde vós chegardes. A Igreja chegará onde chegarem os leigos”

“O Reino de Cristo não avançará mediante as estratégias de poder ou demagogias, mas isto sim através de discípulos missionários que deixam Cristo reinar em seus corações e resplandecem através da Luz interior aos demais com o seu testemunho de vida”, sublinhou, afiançando que “a Igreja chegará onde vós chegardes. A Igreja chegará onde chegarem os leigos”.

“Que Maria nos ensine a plena conformidade com os valores do reino de Deus, humildade, obediência e espírito missionário, conformando cada um de nós à vontade do Pai Celeste.  Senhor, Vós que reinais com Cristo nos corações humildes, concedei-nos deste rendimento para compreender os sinais dos tempos e viver com sabedoria,  espírito de comunhão sinodal para caminhar juntos e promovermos a unidade e, em ousadia, para anunciarmos o reinado da paz, do amor que a humildade nos apresenta e que o mundo tanto necessita”, suplicou, concluindo “renovamos por vossas mãos maternais, nesta celebração,  a nossa entrega ao Rei do Universo. E, confiantes, Lhe pedimos que cure, que pacifique,  ilumine e fortaleça ao seu povo, a Ele que vive e reina, para sempre,  a honra e a glória pelos séculos dos séculos”. 

Antes da Bênção final, o Prelado agradeceu aos Movimentos Eclesiais a significativa presença e participação.

“O Concílio Vaticano II quis trazer à Igreja este florescimento desta árvore maravilhosa, árvore da vida à Igreja, os ramos e os troncos renovados pela sua reflexão nos ministérios, sobretudo os ministérios exercidos pelo sacramento da ordem. Mas fez também florescer os carismas, os dons”, recordou, agradecendo “aos senhores Padres que dedicam o seu tempo para apoiar os movimentos eclesiais”. 

“Imploro a bênção do Senhor para todos os responsáveis e coordenadores dos Movimentos Laicais e Eclesiais, como são as associações de fiéis, grupos de vida,  associações privadas ou públicas, canónicas, que fazem o seu trabalho nas paróquias, aos líderes paroquiais. A todos vós que sois pequeninas formiguinhas, que andais pelos caminhos da vida quotidiana e fazeis chegar a migalhinha de pão, o Evangelho, à última pessoa, ao mais pequenino,  ao doente, ao só,  àquele que só recebe Cristo através de vós.  Muito obrigado do fundo do meu coração!”, agradeceu.

“Sede Movimentos fecundos e através de uma Esperança fundada na alegria, procurai testemunhar a beleza do Evangelho e fazer a renovação dos Movimentos pelas novas gerações. É com a nossa alegria, é com a nossa esperança, é com o nosso testemunho de vida que se dirá que vale a pena seguir o caminho que aquele irmão, que aquela irmã segue e que se renovarão os movimentos”, apelou.

“Obrigado por terdes vindo à Igreja Mãe da Arquidiocese. Obrigado por esta tarde maravilhosa que permitistes que todos vivêssemos. Afinal, fomos uns para os outros e não privámos, não fizemos que nenhum de nós não usufruísse da beleza. Imploro a bênção do Senhor para todos vós”, concluiu o Arcebispo de Évora.

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