“O Mundo e as Pessoas Guardadas” é o título da conferência que vai decorrer no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (MNFMC), em Évora, no próximo dia 11, sábado, para assinalar os 80 anos do fotógrafo Homem Cardoso. No âmbito deste evento, partilhamos uma entrevista de João Palmeiro a Homem Cardoso:

Qual é a importância deste segmento na sua obra fotográfica?

É para mim uma grande honra que um Museu com a projeção deste e numa cidade como Évora, que se prepara para ser Capital Europeia da Cultura dedique espaço e tempo à minha obra (e no dia dos meus 80 anos, estou muito reconhecido).

Estou quase a atingir a publicação de 120 livros com a temática do património, material e imaterial. Relacionar a fotografia com a cultura foi um dos meus objetivos profissionais e também como cidadão, pois permite, em relação aos detalhes (que colaboram na grandeza do património português), explorar o potencial simbólico e estético da imagem, como José Manuel Rodrigues tem referido. Aliás foi com duas edições sobre o património (O Ocidente e Oriente nos Interiores em Portugal e o Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal ) que lancei, em coautoria com o arquiteto Hélder Carita – conferencista no Museu de Évora no próximo sábado, conjuntamente com José Manuel Rodrigues – uma primeira edição de autor, que se tornou um êxito de vendas em Portugal e na Europa, depois de uma editora europeia ter editado e distribuído fora de Portugal.

A Luz da Cal, obra icónica sobre o Alentejo, em coautoria com o saudoso Urbano Tavares Rodrigues (1923/2013) influenciou a sua decisão de instalar em Alcáçovas o centro da sua atividade de memória expositiva?

– Influenciou bastante, pois não só trouxe para Alcáçovas parte do meu espólio fotográfico como é lá que procuro o descanso e a serenidade que só o Alentejo permite.

Fale-me um pouco da sua vida e, como se interessou pela fotografia?

– Pode parecer um pouco absurdo mas ao fim destes anos todos acho mesmo que foi a fotografia que se interessou por mim… Desde que tive uma máquina fotográfica nunca pensei fazer outra coisa que não fosse espreitar o mundo, as pessoas, as coisas e os objetos através das lentes, do olho fotográfico que se me colou como uma pele.
Depois foi ouvir e estar atento aos outros, aos atores da vida, e também ter tido a sorte de ter conseguido encontrar na fotografia o sustento de uma vida.


Sente que, de algum modo, os retratos que tem feito influíram na sua maneira de ver a vida?

– Claro que sim, vejo a vida através dos olhos de muitos dos meus fotografados, embora eles nunca tenham tido qualquer responsabilidade no que me transmitem e no apego que tenho à vida.

Que retrato gostaria de voltar a fazer?
– Fotografar de novo o Presidente Eanes seria sempre um desafio pela maneira como ele foi interpretando o seu papel na sociedade e no País.
Gostaria de poder repetir a emoção da primeira imagem de D. Afonso, herdeiro da Casa Real.
Amaria repetir o retrato de Amália embora saiba que ela é uma paixão que nunca se esgotaria numa só fotografia, num só click….

Há quanto tempo trabalha com a fotografia?
– Há uma eternidade se contar os segundos pelos grãos de areia de uma ampulheta, mas é um ápice se pensar nos disparos que deixei de fazer ao longo da vida. Sempre são mais de sessenta anos a espreitar lentes, diafragmas e obturadores, e uma infinidade de modelos e marcas de aparelhos de fotografia.

Que dificuldades teve que ultrapassar para se impor como fotógrafo, numa época em que a fotografia não era valorizada como uma forma de arte?
– No final dos anos 50 do século passado, quando comecei, a fotografia não fazia parte do panorama cultural português.
Sendo ou não arte, a fotografia é sempre um trabalho singular, que depende de uma ideia prévia e muitas vezes de uma equipa, e também do momento e do tema fotografado. Estas circunstâncias fazem com que por vezes sejamos avaliados não pelo que somos como captadores de memórias ou de emoções, mas como banais reprodutores do que todos veem!


Considera-se um artista?
– Se sou ou não artista foi coisa que nunca me preocupou por aí além. O que sei é que por vezes me sinto uma espécie de engenheiro que domina uma câmara, um mago que domina a luz, um decorador que embeleza o mundo.

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