O Papa está preocupado com a violência que tem ocorrido em várias cidades moçambicanas, já com dezenas de mortos em manifestações de protesto após o anúncio dos resultados das eleições de 9 de Outubro. O Santo Padre pede “diálogo” e “tolerância” em defesa da paz e da democracia. Com as suas palavras, Francisco vem dar força aos apelos da Igreja moçambicana pelo direito “à manifestação pacífica” e para se evitar “derramamento de sangue” no país. Hoje, dia 11, estão previstas novas acções de protesto…

Papa Francisco voltou a falar de Moçambique. Desta vez não por causa do terrorismo em Cabo Delgado, que continua activo, mas para apelar ao fim da violência que tem atingido diversas cidades deste país lusófono desde que foram divulgados os resultados oficiais das últimas eleições gerais e presidenciais de 9 de Outubro. Calcula-se que terão morrido já pelo menos cerca de 30 pessoas, havendo ainda centenas de feridos e muitos detidos.

Ontem, logo após a oração do Angelus, Francisco exortou os moçambicanos a não perderem a fé no caminho da democracia e da paz, pedindo, para isso, diálogo e tolerância. “As notícias que chegam de Moçambique são preocupantes. Convido todos ao diálogo, à tolerância e à busca incansável por soluções justas”, disse o Papa desde a janela do apartamento pontifício, perante milhares de pessoas que estavam reunidas na Praça de São Pedro. “Rezemos por toda a população moçambicana, para que a situação actual não faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz”, acrescentou o Santo Padre. Estas palavras vieram sublinhar e dar força aos apelos da Igreja de Moçambique também pela tolerância e pelo respeito à vida.

Na passada quinta-feira, dia 7 de Novembro, como a Fundação AIS noticiou, o arcebispo de Maputo, D. João Carlos Hatoa Nunes, divulgou uma mensagem-vídeo onde apelava ao “respeito à vida de cada pessoa e [para] não [se] usar a violência para abafar o anseio dos manifestantes, evitando o derramamento de sangue”. No seguimento dessa mensagem – os responsáveis da Igreja moçambicana estão reunidos em Assembleia Plenária até amanhã, dia 12 –, logo na sexta-feira, 8 de Novembro, também os Bispos católicos da África do Sul, Botswana e Essuatíni (SACBC) se manifestaram sobre a situação, afirmando-se “chocados” com o rumo dos acontecimentos no país lusófono e lamentando a decisão do governo sul africano em certificar o resultado das eleições em Moçambique “apesar das queixas generalizadas” da população.

“FRAUDE GROSSEIRA” NAS ELEIÇÕES

“Ficámos muito chocados e entristecidos ao assistir à dura repressão das forças de segurança em resposta a um protesto tão pacífico. Rezamos por aqueles que morreram devido aos efeitos da violência e desejamos uma recuperação rápida aos que ficaram feridos”, afirma o comunicado dos Bispos católicos da África do Sul, Botswana e Essuatíni (antiga Suazilândia) onde se pode ler também que “será difícil continuar a reprimir a vontade das pessoas que querem ser livres”. O processo eleitoral em Moçambique já tinha sido objecto de uma forte crítica por parte do episcopado deste país de língua oficial portuguesa. Num comunicado emitido a 22 de Outubro, já se apelava à “coragem para o diálogo” no seguimento das eleições gerais que, segundo os bispos, indiciavam uma “fraude grosseira”. O documento, enviado para a Fundação AIS, referia que nas eleições se repetiram os “enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade”.

Os bispos alertavam ainda para o facto de estas “irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçarem a falta de confiança nos órgãos eleitorais”. O documento fazia também referência ao assassinato dos dois dirigentes do Podemos – partido que ficou oficialmente em segundo lugar nas eleições, e cujo líder, Venâncio Mondlane, tem sido o grande promotor desta onda de protestos – como tendo sido um acontecimento “bárbaro”, e terminava com um “forte apelo para que travemos a violência, os crimes políticos e o desrespeito pela democracia”.

Enquanto tudo isto, na província de Cabo Delgado continuam os ataques dos grupos terroristas. O mais recente episódio ocorreu na sexta-feira, dia 8, em Mapate, havendo o relato de duas pessoas decapitadas. No dia anterior, também na comunidade de Minhanha, no distrito de Meluco, se registou a presença de homens armados, embora aqui sem haver registo de mortos nem feridos. No entanto, em ambos os casos as populações puseram-se em fuga. Desde 2017 que a região norte de Moçambique está a ser assolada pela violência de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado islâmico, tendo causado já mais de cinco mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados.

Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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