No Dia Internacional da Consciencialização para a Colangite Biliar Primária (CBP), que se assinala a 8 de setembro, somos convidados a refletir sobre esta condição que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. Cerca de dois mil portugueses, predominantemente mulheres entre os 40 e os 60 anos, vivem com esta doença autoimune, verificando-se uma inflamação lenta das vias biliares intra-hepáticas, que compromete progressivamente as funções do fígado.

Esta é uma condição que avança sem pressa, inicialmente sem deixar rastos visíveis. Por vezes, passam-se anos ou mesmo décadas até que os primeiros sinais se manifestem, nomeadamente um cansaço inexplicável ou um prurido cutâneo persistente. Sintomas estes que facilmente podem ser desvalorizados ou associados ao ritmo acelerado da vida moderna.

No entanto, é precisamente neste silêncio que reside o maior perigo da CBP. A falta de sintomas imediatos dá à doença o tempo necessário para se infiltrar, comprometendo cada vez mais o fígado até que, finalmente, se manifestem sinais mais graves: olhos e pele amarelados (icterícia), urina escura, inchaço do baço ou acumulação de líquido no abdómen (ascite), que traduzem a evolução para cirrose hepática. A cirrose é um quadro clínico quase sempre irreversível, representando em Portugal a quarta maior causa de morte precoce.

Apesar de ainda não existir cura, o diagnóstico precoce da CBP é urgente, pois existem tratamentos que, iniciados na altura certa, impedem o agravamento da doença e evitam os danos no fígado. Um simples exame de rotina, com análises ao sangue, é uma forma eficaz para detetar a CBP, especialmente se revelar níveis elevados de fosfatase alcalina, um marcador que denuncia que algo afeta as vias biliares. Contudo, a deteção precoce é um desafio, particularmente para mulheres em idade ativa, que, enfrentando múltiplas responsabilidades, podem não dar a devida atenção aos sinais subtis que o corpo vai enviando.

O Dia Internacional da Consciencialização para a CBP é mais do que uma data no calendário. É um apelo à ação e à sensibilização, com a finalidade de aumentar o conhecimento sobre esta doença e incentivar aqueles que possam estar em risco a procurar avaliação médica.

Nesta data, e também no resto do ano, o “trabalho de casa” é claro e urgente: se sente um cansaço inexplicável ou um prurido persistente, não ignore os sintomas que o corpo lhe dá. Procure um médico, especialmente se está na faixa etária de risco ou se tem um histórico familiar de doenças autoimunes. Lembre-se de que a saúde do fígado não é um bem adquirido.

Dr. Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)

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