Entrevista com Reinhard Backes, director de projectos da Fundação AIS para o Médio Oriente, após a sua viagem à Terra Santa: “Estamos a enviar ajuda de emergência desde Outubro passado.”

À medida que a guerra continua na Faixa de Gaza e as tensões entre israelitas e palestinianos aumentam, os Cristãos na Cisjordânia e em Jerusalém enfrentam uma situação cada vez mais desesperada. Reinhard Backes, responsável pelos projectos do Médio Oriente da Fundação AIS, relata a sua viagem à Terra Santa em Julho de 2024. Durante a visita, ele e uma delegação da Fundação AIS encontraram-se com o Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, bem como com muitos cristãos locais.

A Fundação AIS, preocupada com o povo da Terra Santa, também manifesta o seu apoio deslocando-se às zonas afectadas. Que locais visitou na sua última viagem?

Estivemos na Cidade Velha de Jerusalém e, claro, em Jerusalém Oriental, onde vivem sobretudo cristãos. Também estivemos na Cisjordânia. Não nos foi possível visitar a Faixa de Gaza devido à situação actual, mas pelo menos tivemos a oportunidade de falar com muitas pessoas que estão em contacto próximo com as duas comunidades cristãs, ortodoxa e católica. Também tivemos a oportunidade de nos encontrarmos com a juventude cristã – algo especialmente importante para o Cardeal Pizzaballa. Antes do início da guerra e da crise actual, já tínhamos combinado que iríamos ajudar os jovens da Terra Santa a encontrar perspectivas, não só de fé, mas também profissionais.

Na sua opinião, a guerra mudou o país?

Sim, muitíssimo. O mais grave é, sem dúvida, o facto de a confiança entre israelitas e palestinianos ter sido completamente quebrada. Tenho a impressão de que os extremos de ambos os lados são muito semelhantes na sua forma de pensar: argumentam com base na religião e utilizam-na como justificação para negar aos seus adversários qualquer direito à existência. Este facto demonstra a necessidade da mensagem cristã: apesar de tudo, temos de nos aproximar uns dos outros e procurar encontrar uma solução em conjunto. Isto é extremamente difícil – talvez mesmo impossível aos olhos humanos – porque mesmo entre os Cristãos há tensões: há cristãos de língua hebraica e cristãos de língua árabe. Além disso, no exército israelita há jovens católicos que servem em Gaza, enquanto os cristãos árabes estão entre as vítimas da mesma acção militar. Podem imaginar como é difícil a união. E é por isso que, no nosso encontro, o Cardeal Pizzaballa explicou que é extremamente difícil falar de neutralidade ou de diálogo, apesar de serem tão necessários. No entanto, sublinhou também a necessidade de empatia com os Cristãos – tanto do lado árabe como do lado judeu – e de os ouvir e acompanhar. E aqui, obviamente, manter o equilíbrio é muito, muito difícil.

A população cristã na Terra Santa está a diminuir há décadas. A guerra intensificou e alimentou ainda mais este êxodo?

Por um lado, sim, há um forte desejo de emigrar por causa do conflito armado. No entanto, há também a tendência oposta: há cristãos que estão a vir para a Terra Santa. À primeira vista, isto pode parecer surpreendente, mas pode explicar-se pelo facto de a sociedade israelita estar a enfrentar um problema que nós, na Europa, conhecemos bem: o envelhecimento da população. Para responder a esta situação, Israel recruta jovens, sobretudo mulheres, para trabalharem na saúde e na assistência aos idosos. Estes imigrantes, maioritariamente católicos, vêm das Filipinas e da Índia. Foi assim que, nos últimos anos, chegaram a Israel cerca de 100 mil cristãos. É claro que a sua situação é difícil, porque o Estado israelita pode revogar a autorização de trabalho e o direito de residência dos imigrantes que casam ou têm filhos. De facto, os filhos de imigrantes nascidos em Israel não têm uma autorização de residência clara; estão no país ilegalmente e podem ser deportados a qualquer momento depois de completarem 18 anos, apesar de terem crescido em Israel, de falarem hebraico e de nunca terem estado nos seus países de origem, sejam eles as Filipinas ou a Índia.

O que é que a Fundação AIS está actualmente a fazer para apoiar os Cristãos na Terra Santa?

A Fundação AIS está a prestar assistência de emergência desde Outubro passado, quando rebentou a guerra. Foram enviados 700 mil euros para ajuda alimentar e sanitária. Este programa não deve ser interrompido porque ainda existem cerca de 600 cristãos na Faixa de Gaza e, em particular, na cidade de Gaza. A cidade está praticamente destruída, mas a vida tem de continuar de alguma forma e estes cristãos querem ficar lá. A maior parte deles vive nas instalações da paróquia católica, mas também nas da paróquia ortodoxa.

Na Cisjordânia, muitas pessoas – especialmente jovens – perderam os seus empregos, uma vez que Israel fechou as fronteiras com a Cisjordânia e já não permite que os palestinianos entrem em Israel. Antes da guerra, mais de 100 mil palestinianos – incluindo muitos cristãos – deslocavam-se diariamente a Israel para trabalhar. Além disso, quase não há peregrinos por causa da guerra, e este rendimento, que é particularmente importante para os Cristãos, também se perdeu. É por isso que o Patriarcado Latino, juntamente com a Fundação AIS, criou programas de criação de emprego. O objectivo é ajudar as pessoas a encontrar trabalho – principalmente em instituições da Igreja – como, por exemplo, trabalhos de renovação de edifícios.

Então, sem ajuda externa, a situação dos Cristãos na Terra Santa seria terrível…

Sem dúvida. Neste momento, o nosso apoio através da oração é fundamental, mas a ajuda material é também essencial para a sua sobrevivência. A situação no terreno é muito complexa, e é por isso que é tão importante não esquecermos os nossos irmãos e irmãs na Terra Santa.

O nosso apoio continua a ser vital e urgente junto dos nossos irmãos na Terra Santa.

Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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