O cristão Nazir Gill Masih morreu, no dia 3 de Junho, num hospital em Rawalpindi, para onde foi levado depois de ter sido brutalmente espancado por uma multidão em Sargodha, a 25 de Maio, na sequência de mais um caso de uma falsa acusação de blasfémia. D. Samson Shukardin, presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, diz mesmo, em declarações à Fundação AIS, que se está a viver “uma situação alarmante” e que os incidentes “estão a aumentar de dia para dia”.
Nazir Masih, de 70 anos, é a mais recente vítima do abuso da lei da blasfémia que tem sido usada no Paquistão para intimidar as minorias religiosas. O falecimento deste cristão foi uma consequência da violência desencadeada por uma multidão de extremistas após Masih e o seu filho terem sido acusados de blasfémia por terem queimado, no sábado, dia 25 de Maio, um exemplar do Alcorão, após algumas páginas do livro sagrado islâmico terem sido encontradas nas imediações da sua casa, em Sargodha. Masih não resistiu aos ferimentos apesar dos procedimentos médicos e cirúrgicos a que foi submetido, de acordo com o porta-voz da polícia local, Sharik Kamal Siddiqui.
O falecimento de Nazir Masih provocou já diversas reacções, nomeadamente do Bispo de Islamabad-Rawalpindi, D. Joseph Arshad. Num comunicado enviado para a Fundação AIS Internacional, o prelado expressou as suas profundas condolências pela morte violenta de mais um cristão no país, e apelou às autoridades para tomarem “fortes medidas contra os culpados deste incidente”, sublinhando que os cristãos “são uma comunidade pacífica” e empenhada no “progresso e desenvolvimento do Paquistão”.
O Bispo afirmou ainda que, “ao longo dos últimos anos”, os cristãos, tal como outras minorias no seu país, “têm sido continuamente prejudicados com base na religião, inimizade pessoal ou alegações sem fundamento”.
“ISTO É UM DESASTRE”
Entretanto, o presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, D. Samson Shukardin, lançou também um veemente apelo para a protecção das minorias religiosas vítimas constantes do abuso da lei da blasfémia. “É muito importante que seja introduzida legislação que permita que as pessoas acusadas injustamente de blasfémia sejam condenadas a penas que incluam penas de prisão”, disse o Bispo em declarações à Fundação AIS.
O Bispo enfatizou o facto de como o analfabetismo é comum entre os cristãos paquistaneses, torna-se pouco provável que a maioria cometa alguma vez algum acto de blasfémia de forma intencional. O bispo, que é também presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, o braço da Igreja para a defesa dos direitos humanos, acusou ainda as autoridades paquistanesas de não terem feito justiça às vítimas da onda de violência contra os Cristãos no distrito de Jaranwala, no Punjab, em Agosto passado, um incidente também desencadeado por uma alegação falsa de blasfémia.
“Não aconteceu nada para fazer justiça na sequência do incidente de Jaranwala. Isto é um desastre. Não é bom para as minorias. Enquanto o Governo não for sério e não criar leis que protejam as minorias, especialmente os Cristãos, que são a minoria mais significativa no Punjab, a situação relativa à utilização abusiva da legislação sobre a blasfémia só irá piorar. Não estamos a pedir nada que seja contra o país. Estamos simplesmente a pedir a protecção das nossas vidas e das vidas das nossas famílias.”
Face a toda esta realidade, o prelado adverte para a necessidade de haver pressão internacional para a actuação do governo paquistanês. “É preciso que a pressão venha de fora, de governo para governo”. O bispo disse ainda à Fundação AIS que “a perseguição está a piorar”.
“Temos grandes incidentes, como o que aconteceu em Jaranwala em Agosto e o que aconteceu no final de Maio em Sargodha, mas há muitos outros acontecimentos menores. É uma situação alarmante. Em geral, quando se observa o número de incidentes ocorridos, começa a perceber-se que estes incidentes estão a aumentar de dia para dia.”
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal