O padre José de Leão Cordeiro, do presbitério da Arquidiocese de Évora e membro do Secretariado Nacional de Liturgia (SNL), faleceu neste dia 2 de junho, aos 91 anos de idade.
No âmbito das Exéquias do P. José de Leão Cordeiro, neste domingo, às 21h, na Paróquia do Couço, será celebrada Eucaristia Exequial, presidida pelo Arcebispo de Évora. Depois o funeral seguirá para a sua terra natal, onde será sepultado.
Nasceu a 12 de outubro de 1932, em São Joaninho, concelho de Santa Comba Dão, filho de Manuel Gomes Cordeiro Júnior e de Raquel de Leão Cordeiro.
Frequentou o Seminário de Évora, onde estudou Filosofia, tendo feito o curso da Escola Técnica de Lourenço Marques. Na Universidade de Estrasburgo licenciou-se em Teologia Dogmática e no Instituto Católico de Paris, especializou-se em Pastoral e Catequética.
Foi ordenado presbítero a 27 de Junho de 1965 por D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de Évora, na Matriz de Montemor-o-Novo, tendo ficado ao serviço da Arquidiocese de Évora.
A 12 de setembro de 1970 foi nomeado Prefeito do Seminário Maior de Évora.
Em 1976, a 27 de novembro, foi nomeado coPároco das freguesias de Mora, Cabeção, Brotas, Peso, Couço e Santa Justa.
A 1 de novembro de 1978, assumiu a direção da Gráfica Eborense.
Em 1981, a 24 de setembro, foi nomeado para o Serviço de Acção Litúrgica e Pastoral.
A 27 de abril de 1984 foi nomeado assistente diocesano das Conferências de S. Vicente de Paulo.
Em 1984, a 7 de outubro, foi nomeado Diretor do Departamento da Pastoral Litúrgica. Da Arquidiocese de Évora, do qual ficou desvinculado a 30 de julho de 2008.
“Foi membro do SNL desde 1972, onde colaborou na publicação, tradução e revisão dos livros litúrgicos, um inestimável contributo dado à inteligência da Sagrada Liturgia e ao estudo da Ciência litúrgica”, assinala o comunicado do SNL enviado à Agência ECCLESIA.
O organismo da Igreja Católica evoca o padre José de Leão Cordeiro como um “grande obreiro da Reforma Litúrgica em língua portuguesa, em ordem à Pastoral e à Espiritualidade litúrgicas indispensáveis na ação evangelizadora da Igreja”.
“O SNL dá graças a Deus pelo dom, pela vida e pelo ministério do Padre Cordeiro. Rezemos ao Senhor para que acolha o Padre Cordeiro na sua comunhão e lhe conceda o eterno descanso, nos esplendores da luz perpétua”, conclui o comunicado do SNL.
O Arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho, em seu nome pessoal e em nome da Arquidiocese de Évora, apresenta sentidas condolências à extremosa família do muito estimado P. José de Leão Cordeiro.
“Continuar a ser, apenas e só, discípulo de JESUS CRISTO” – P. José de Leão Cordeiro
No dia 27 de Junho de 2015, o Pe. José de Leão Cordeiro celebrou os 50 anos de ordenação sacerdotal. O jubileu foi marcado por uma celebração de ação de graças a 28 de junho de 2015, presidida pelo arcebispo de Évora, D. José Alves.
Por ocasião das Bodas de Ouro Sacerdotais celebradas em 27 de junho de 2015, o P. José de Leão Cordeiro deu uma entrevista ao jornal “a defesa”, que agora republicamos na íntegra:
“a defesa” – Pode contar-nos de forma breve, a sua história vocacional?
Pe. Cordeiro – A minha história vocacional tem três momentos decisivos, de entre muitos outros que também fazem parte dela.
O primeiro no tempo e em importância foi o meu Baptismo, que teve lugar na Igreja Paroquial da terra onde nasci. Estávamos em Janeiro de 1933 e eu tinha então pouco mais de dois meses. Deus Pai chamou-me a ser seu filho, Deus Filho a ser cordeiro do seu rebanho, o Espírito de Deus a ser santo e a desejar a vida eterna. Alguém respondeu “sim” em meu nome. Por diversas vezes, ao longo da vida, tenho tido a oportunidade e o gosto de confirmar, pessoalmente, essa pequena palavra. Sempre que o faço, ecoa dentro de mim a célebre frase de S. Agostinho: «Criaste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansa em Ti».
O segundo momento aconteceu num espaço bem pouco propício a coisas do espírito. Foi numa caserna militar, habitada por 400 rapazes da minha idade (tinha então 20 anos), situada a cerca de trinta quilómetros de Lourenço Marques, por volta das onze horas da noite. Nada fazia prever o que então se passou. Depois de ler uma carta que recebera de meu pai, que estava em Portugal, na qual me falava das saudades que sentia e me dava outras notícias da família, sobrepondo-se a todas as palavras que acabava de ler, uma outra “Palavra” ecoou dentro de mim, simples mas incisiva: «Tu não queres ser padre»? Respondi: «E porque não»? Foi este o início de um processo que havia de se prolongar por cinco anos, tantos quantos faltavam para concluir os estudos que então frequentava, que viria a culminar na minha entrada no Seminário Maior de Évora, em Outubro de 1958, antecedida de algumas peripécias que não é oportuno recordar.
O terceiro momento deste percurso foi aquele em que o Senhor D. Manuel Trindade Salgueiro, arcebispo de Évora, pronunciou estas palavras, durante a celebração a que presidia, no largo da igreja de S. João de Deus, em Montemor-o-Novo, no dia 27 de Junho de 1965: «Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem dos presbíteros», às quais se seguiram a imposição das mãos e a oração de ordenação, os dois elementos fundamentais do sacramento da Ordem.
Como é fácil de imaginar, muitas outras coisas, para mim importantes, ficam por dizer, pois a vida é imensamente mais do que os três momentos referidos.
“a defesa” – Quais as principais actividades (pastorais, profissionais…) que desenvolveu ao longo destes 50 anos.
Pe. Cordeiro – Começo pelas actividades estudantis e profissionais. Fui estudante dos 7 aos 16 anos e trabalhador agrícola dos 16 aos 19, razão pela qual costumo dizer que nenhum trabalho do campo me é estranho. Em 1951 fui para Moçambique, onde permaneci até 1958, dando continuidade ao que já era uma tradição familiar.
Foi um tempo muito importante para mim, com duas experiências marcantes: a da vida militar durante 15 meses, e a da vida cristã vivida com o entusiasmo da juventude, no movimento da JOC, durante 7 anos. Entre 1952 e 1958 estudei na Escola Comercial de Lourenço Marques, onde terminei o respectivo curso e simultaneamente fui funcionário administrativo numa grande empresa local. Devo dizer que esses estudos comerciais foram e continuam a ser de grande utilidade para mim, não só mas também na vida pastoral.
Entre Outubro de 1958 e Julho de 1970 frequentei, sucessivamente, o Seminário Maior de Évora (7 anos), a Faculdade de Teologia da Universidade de Estrasburgo (3 anos) e o Instituto Superior de Liturgia de Paris (2 anos).
Resumo agora as actividades pastorais.
De 1970 a 1976 fiz parte da equipa orientadora do Seminário Maior de Évora e simultaneamente, até 2004, leccionei diversas matérias de estudo, primeiro naquele Seminário e a seguir no Instituto Superior de Teologia de Évora.
Em 1976 fui nomeado pároco do Couço e Santa Justa, onde continuo a exercer essas funções, com as quais acumulei, durante 20 anos, a animação da vida cristã da paróquia de Cabeção.
Como acontece sempre que o clero é em número reduzido, fui sendo encarregado, ao longo dos anos, de diversas funções diocesanas, que não vale a pena enumerar.
Desde 1972 sou membro do Secretariado Nacional de Liturgia.
“a defesa” – Ao cumprir 50 anos de ordenação, que balanço faz?
Pe. Cordeiro – Graças aos meus estudos específicos e ao meu trabalho durante alguns anos na área comercial estou habituado a “balanços”. Mas deixo os da minha vida entregues aos que os queiram fazer.
Por mim direi apenas que gosto do que faço, mas que estou longe de ser aquilo a que me sinto chamado como homem, como cristão e como padre. Verdadeiramente, só Deus me conhece. Peço-Lhe que não leve em conta o que na minha vida fiz e faço contra a sua vontade.
Mas dou-Lhe graças, infinitas graças, pelo que Se dignou realizar de bom através de mim. Sobretudo quero cantar-Lhe um cântico novo por me ter feito acreditar em seu Filho, meu Salvador e meu Deus, e me ter entregue aos cuidados daquela que, ao longo da vida, ocupou o lugar da mãe que não conheci na terra, a Mãe do Céu.
“a defesa” – Que votos faz para o futuro?
Pe. Cordeiro – Esta é a resposta mais simples e mais breve às perguntas que acaba de me fazer. Eis os meus votos: continuar a ser, apenas e só, discípulo de JESUS CRISTO.