D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, alerta para a “intensificação” da violência terrorista sobre as populações de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, fala em “dezenas de aldeias atacadas”, com a “destruição de infraestruturas públicas e sociais, nomeadamente capelas”, e lança um apelo para a ajuda imediata à Igreja local através da campanha lançada em Portugal pela Fundação AIS. Um apelo que é secundado por um missionário saletino que descreve um “clima de terror”, o aumento da fome, da pobreza e da insegurança na região.

A mais recente onda de violência no norte de Moçambique onde actuam grupos terroristas que reivindicam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico, terá causado, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 50 mil novos deslocados, aproximadamente 10 mil famílias, só entre os dias 17 de Abril a 1 de Maio nos distritos de Ancuabe, Chiúre e Erati. Novos deslocados que são, na sua esmagadora maioria, constituídos por crianças, mulheres e idosos.

Nos mais recentes ataques, os terroristas reclamam ter queimado cerca de 200 casas, escolas e pelo menos uma igreja. Mas desde Dezembro que tem sido assim, com dezenas de aldeias atacadas, centenas de pessoas mortas e milhares em fuga. A situação foi particularmente grave em Fevereiro, com uma série de ataques no distrito de Chiúre “em que todas as capelas cristãs foram destruídas”, como denunciou então o Bispo de Pemba, D. António Juliasse, numa mensagem enviada para a Fundação AIS. 

Com o agravamento da situação humanitária nas últimas semanas, é a vez agora de outro prelado, o Bispo de Tete, juntar a sua voz aos que pedem ajuda imediata para Cabo Delgado. “Desde o final do ano passado dezenas de aldeias foram atacadas, houve pessoas raptadas e mortas, destruição das infraestruturas públicas e sociais e também infraestruturas da Igreja, nomeadamente capelas. Aumentou o número de pessoas deslocadas, que deixaram as suas casas sem nada e precisam neste momento de tudo”, explica D. Diamantino Antunes na mensagem enviada para Lisboa. 

Face a esta situação, o prelado, em nome do povo moçambicano, lança mesmo um apelo:

Precisamos de socorro! Este é um grito à solidariedade para com a Diocese de Pemba que está, desde há anos, na primeira linha na ajuda às vítimas da violência que assola a região desde 2017 e que, infelizmente, se intensificou nestes últimos tempos.”D. Diamantino Antunes

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“CLIMA DE TERROR E INSTABILIDADE”

Também um sacerdote, o missionário saletino Edegard Silva enviou uma mensagem para a Fundação AIS lembrando a situação extremamente grave que se vive na província de Cabo Delgado em resultado dos ataques de grupos terroristas.

“A população vive um clima de terror e instabilidade. Com os constantes ataques aumentou a população deslocada. Se aumenta a população deslocada aumenta também a fome, a pobreza, a insegurança e tantas outras situações. Neste contexto, a comunidade católica desempenha um papel fundamental na sustentação espiritual e material dos seus fiéis. É fundamental o nosso apoio”, diz o sacerdote.

Nos mais recentes ataques, recorde-se, os terroristas reclamam ter queimado cerca de 200 casas, mas também escolas e pelo menos uma igreja. A situação revela-se particularmente grave pois demonstra o regresso a uma forte actividade terrorista após um período de relativa acalmia durante o período do Ramadão, entre 11 de Março e 9 de Abril.

O padre Edegard conhece bem a violência causada pelos terroristas em Cabo Delgado. A missão em que ele se encontrava, em Nangololo, a segunda mais antiga na Diocese de Pemba, foi atacada pelos terroristas em Novembro de 2020 e praticamente toda destruída. Sacerdote e população tiveram então de fugir, havendo o relato de “massacres” com muitas pessoas “decapitadas, casas queimadas e derrubadas”.

“SEJA SOLIDÁRIO PARA COM CABO DELGADO…”

Este conhecimento concreto do que significa ser deslocado entre os deslocados, ser uma das vítimas do terrorismo, leva o padre Edegard a estar sempre muito próximo de todas as iniciativas de apoio à Igreja local que é, tantas vezes, o único porto de refúgio para os que perderam tudo o que possuíam. “Conheço de perto a situação em Cabo Delgado”, diz o sacerdote na mensagem enviada para a Fundação AIS, lembrando que “esta guerra” – como se refere à violência terrorista – começou em Outubro de 2017.

“Conheço de perto o sofrimento e as lágrimas de pais, mães e irmãs que choram os seus desaparecidos ou aqueles que morreram e eles não tiveram nem a oportunidade para fazer o sepultamento dos seus ente-queridos. Conheço de perto este quadro tão dramático e tão cruel dos ataques terroristas em Cabo Delgado”, diz o sacerdote apelando a toda a solidariedade possível para com a Igreja. Uma solidariedade que, afirma ainda, deve ser canalizada através da Fundação AIS que lançou precisamente nas últimas semanas uma campanha nesse sentido em Portugal.

“Quero apelar, quero pedir o seu gesto solidário em favor de Cabo Delgado, através da associação Igreja que Sofre. Aliás, nesse sentido, mudaria até o significado da AIS. Neste momento, AIS significa Associação de Irmãos Solidários, Associação de Irmãs Solidárias, que sentem a dor do próximo, que sentem a dor do outro. Portanto, este pedido: seja solidário para com a causa de Cabo Delgado. Cabo Delgado necessita da sua solidariedade. Ajuda à Igreja que Sofre, associação dos irmãos solidários…”

DAR VOZ E APOIO À FUNDAÇÃO AIS

Também no mesmo sentido é a mensagem que também o Bispo de Tete enviou para Lisboa. Uma mensagem em que D. Diamantino Antunes assume “dar voz e apoio à campanha lançada pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, para apoiar a população de Cabo Delgado, no norte de Moçambique”.

O Bispo recorda que, com o auxílio da Fundação AIS, “a Igreja Católica tem feito um trabalho muito importante a favor desta população tão sofrida, dando-lhe apoio em comida, roupa, casa e acompanhamento espiritual”. E a mensagem termina com um apelo directo para que essa solidariedade não esmoreça nesta altura em que os grupos terroristas continuam a flagelar violentamente com os seus ataques as populações indefesas de Moçambique. “Queridos irmãos e irmãs, por favor, solicito-vos, que possam continuar a abrir os vossos corações ao grito destes nossos irmãos, rezando por eles e apoiando com a vossa solidariedade aqueles que os ajudam”, diz D. Diamantino Antunes no final da mensagem enviada para a Fundação AIS.

Tal como o Bispo de Tete refere, Moçambique é de facto um país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. A solidariedade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre tem permitido levar a este país, especialmente à região de Cabo Delgado, ajuda essencial para estes tempos extremamente difíceis, nomeadamente ajuda de emergência, projectos de assistência pastoral e de apoio psicossocial às populações vítimas do terrorismo, mas também fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos, algo de absolutamente prioritário para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam milhares de famílias fugidas da violência.

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Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS

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