A Semana Santa 2024 começou a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.

Em Évora, neste dia 24 de março, Domingo de Ramos, pelas 17h30, D. Francisco José Senra Coelho, presidiu à Bênção dos Ramos, na igreja da Misericórdia, seguindo-se a Procissão para a Catedral eborense onde foi celebrada a Eucaristia.

A celebração, transmitida em direto pelo canal de Youtube da Arquidiocese, numa produção do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, foi animada liturgicamente pelo Coro Stela Matutina e contou com a participação de um número significativo de fiéis.

À homilia, o Prelado eborense começou por dizer que “o Domingo de Ramos é a entrada na magna Semana do Tempo Litúrgico, a Semana Santa. É um clima de paradoxos, começamos por contemplar a entrada triunfal do Salvador em Jerusalém e terminamos por nos compadecer dele diante das traições e torturas da sua gloriosa paixão.”

“O centro da liturgia de hoje é a resposta à questão fundamental do cristianismo: Quem é Jesus Cristo?”, prosseguiu, acrescentando que “esta pergunta percorre todo o Evangelho segundo São Marcos. É o próprio Jesus quem toma a iniciativa de colocar a questão – Quem dizeis que eu sou? – Agora no relato da paixão volta a aparecer na expectativa de resposta uma pergunta semelhante: És tu o Messias, o filho de Deus?”.

“A chave para desvendar quem é Jesus está nos seus últimos dias da sua existência terrena. A resposta inequívoca está latente desde o princípio ao fim do Evangelho, formando um arco perfeito entre as primeiras palavras do evangelista: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus”; e as últimas do seu relato evangélico expressas pelos lábios do Centurião: “Na verdade este homem era filho de Deus”.

“O verdadeiro significado de filho de Deus não pode ser compreendido sem o conteúdo da Paixão. O filho de Deus é a revelação plena do Pai, o Servo sofredor, o Messias crucificado, o Salvador ferido, a entrega gratuita até à morte na Cruz, como tão bem expressa o profeta Isaías no texto escutado e ainda tão inspiradamente nos descreve o Salmo responsorial: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? O Salmo messiânico que Cristo reza, identificando-se com esse Messias prometido, fazendo acontecer n’Ele essa entrega pelo povo, pela humanidade, segunda vontade do Pai”, desenvolveu o Prelado.

Depois, falando sobre a figura de Pedro no relato da Paixão, o Arcebispo de Évora sublinhou que “quando se apercebeu (Pedro) da sua incredibilidade, da sua diferença na esperança, do reino de Deus que chegara, que Jesus se apresentara como servo sofredor (…) Pedro chorou amarga e arrependidamente, e por esse meio fez descoberta do rosto amoroso de Deus em Jesus de Nazaré, o Filho de Deus e Salvador”.

“Caros irmãos, tal como Pedro, só compreenderemos esta pergunta, – quem é Jesus Cristo? – depois de fazermos semelhante experiência vital, aquilo a que chamamos o encontro com a misericórdia de Deus. Depois de nos descobrirmos pobres e nos encontrarmos nesta dimensão da finitude com todos os irmãos. É nessa escola, percorreremos com os irmãos a consciência da solidariedade fraterna dos que na sua pobreza sabem repartir, que nas suas diferenças se sabem respeitar, que na sua dimensão de consciência se sabem aceitar, tolerar numa atitude profunda de consciência de um povo que na sua dimensão de sofrimento se encontra e se descobre fraterna e solidariamente”, explicou o Prelado.

“Quantas vezes nós juramos um amor incondicional, mas seguimos os nossos ídolos e caprichos próprios? Queremos amar sim, mas amamos às metades. De alguma maneira negamos e traímos esse nosso desejo profundo de nos entregarmos à dimensão do amor, do serviço dedicado e gratuito”, questionou os presentes o Arcebispo de Évora, acrescentando que “é nesta descoberta da nossa incoerência e da nossa inconsistência que reclamamos pedindo a presença de Deus Pai. E é nesse encontro que descobrimos a Sua mão paterna e o seu olhar desafiante: “Levanta-te e segue-me”.

“É nestas vivências relatadas que o ato de amor oblativo e agápico d’Aquele que dá a vida por nós, apresenta o mais belo sinal da presença de Deus no mundo. A plenitude da revelação do rosto misericordioso do Pai, Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador, a primeira proclamação do Kerigma, a descoberta dos cristãos, dos discípulos, de quem é Jesus de Nazaré, Filho de Deus, Salvador”, prosseguiu D. Francisco Senra Coelho.

“Conhecer Jesus Cristo implica fazer o caminho que fizeram aqueles homens e mulheres, assumindo-nos como novos discípulos. Este é o ponto central: colocarmo-nos no caminho do discipulado, dispostos a aprender com Ele e a segui-Lo, deixar de lado todas as resistências e entrarmos na história da Salvação”, sublinhou o Prelado, apelando a todos para nos “encontrarmos com o Senhor com toda a nossa realidade, tendo esta consciência que Ele nos acolhe, nos ama como somos. Na verdade, da nossa vida, nada Ele exclui, tudo lhe entregamos para que a nossa conversão implique todo o nosso ser humano, sem dicotomias, sem divisões em nós, mas na unidade do nosso ser”.

“Que nesta tarde, esta contemplação do relato da Paixão nos convença de que Cristo é o único Caminho, a única Verdade e a única Vida rumo à Páscoa Redentora. Que é Ele o centro da história e a chave da história. Que só n’Ele, verdadeiramente, nos redescobrimos. Ele é para nós a referência da nossa própria identidade”, apontou o Prelado, acrescentando que “n’Ele, filhos de Deus, fazemos a experiência da nossa dimensão mais sagrada. Sem ele, percebemos como o homem se destrói, como o homem se aniquila, como o homem se desconhece, como o homem se coisifica, como o homem se pode manipular. Sem Ele, a família perde a sua beleza, o seu encanto. A vida desde o seu nascer ao seu declinar não se sente como sagrada, mas como vida manipulável. É Ele que dá a última palavra à dignidade do ser humano, à dimensão da nossa vivência e convivência”.

“Que Maria Santíssima nos fortaleça e nos anime a permanecer junto à Cruz do nosso tempo, à Cruz do Seu divino Filho, tão presente em tantos momentos da nossa existência e a perseverar na fé até ao fim da nossa vida”, referiu o Arcebispo de Évora, destacando que “muitas vezes sentimos e ouvimos o desabafo do silêncio de Deus, de um Deus que não se faz ouvir na história e no mundo de hoje. Porém, olhando bem para os sinais dos tempos, lendo bem os acontecimentos que nos envolvem, Deus grita tão alto nos que têm fome e sede de paz, nos que têm direito à dignidade humana e são espezinhados, na morte dos inocentes, no desprezo dos sós e dos idosos, nas vítimas da guerra, no clamor dos campos de imigrantes e desterrados, no sofrimento de um mundo que na sua dor grita por sentido, por luz, caminho, verdade e vida”.

“Um mundo que nos interpela e que nos pede que sejamos Igreja em saída, Discípulos Missionários da Esperança e que levemos na verdade este Cristo tão interpelado nos sinais que o mundo faz chegar até ao nosso coração”, disse o Prelado, apelando que “sejamos contados, sempre contados, entre os discípulos do Salvador. Que permaneçamos fiéis até ao fim, em meio das tormentas e dificuldades próprias da história de cada tempo, no nosso tempo e na nossa geração. E que por fim alcancemos o fruto supremo da paixão do Senhor, a vida nova da graça e da verdade eternas. Com Cristo, permaneceremos na luz e seremos capazes de refletir e de testemunhar em gestos concretos de fraterna solidariedade, de caridade perante os homens que O buscam e O procuram”.

“Que cada um de nós, com o seu encontro com Cristo, à maneira de Pedro, saibamos indicar onde Ele está, onde Ele mora, quem é que Ele é e o que significa para nós na história da salvação da nossa história pessoal, da nossa vida. Que sejamos capazes de dizer com a nossa vida que somos pessoas salvas e que Ele é o único Salvador e que, por isso, o queremos entregar à humanidade que o procura mesmo tantas vezes sem saber”, disse D. Francisco Senra Coelho

“Que esta Semana Santa nos faça viver momentos de encontro, de renovação da nossa vida. Que voltemos a fundo do nosso batismo, ao nosso renascimento espiritual. Que façamos parte dos amigos de Jesus, do corajoso José de Arimateia, daqueles que O procuram de noite e que vão ao Seu encontro e Lhe perguntam o que tem que fazer para ser salvo. Como Nicodemos, saibamos renascer das nossas noites em madrugadas de Páscoa. Para lá vamos, será esse o fim, a aurora, a madrugada desta Semana Santa”, concluiu o Arcebispo de Évora.

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