A demência, alteração de múltiplos domínios cognitivos incluindo da memória, com prejuízo da autonomia do indivíduo, é uma condição muito frequente e com tendência a ser ainda mais comum. Estima-se que, acima dos 60 anos, existam cerca de 40 milhões de pessoas com demência em todo o mundo e prevê-se que este número duplique, a cada 20 anos, até 2050.

A doença de Alzheimer, principal causa de demência, cursa com perda da memória (sobretudo a recente), desorientação no tempo e no espaço, dificuldade no reconhecimento de pessoas e alteração da linguagem. Trata-se de uma doença degenerativa, progressiva e até ao momento incurável.

Para o diagnóstico destas patologias é fundamental a história clínica relatada e/ou confirmada pelo acompanhante e implica exclusão de causas tratáveis. Socorremo-nos para este efeito, e também para melhor caracterização da síndrome demencial de alguns exames complementares de diagnóstico como análises, TAC ou ressonância, estudo neuropsicológico, eletroencefalograma e em alguns casos punção lombar e PET.

A demência afeta todo o agregado familiar, sobretudo o cuidador principal. A procura de ajuda médica, a aceitação do diagnóstico e sua compreensão são fundamentais para ajustar expectativas e definir planos a curto e longo prazo. Não é invulgar o cuidador precisar de alterar os seus hábitos de trabalho, hobbies e até residência de modo a poder prestar apoio. Numa fase inicial, o cuidador vê-se obrigado a não permitir que o doente, sobretudo para sua segurança, continue a executar determinadas tarefas (condução de veículos, cozinhar, gerir a toma dos medicamentos, controlar as contas bancárias), o que nem sempre é bem aceite.

Em estadios intermédios, as dificuldades modificam-se e o cuidador depara-se com necessidades como higiene, vestir, continência de esfíncteres, preparação das refeições e orientação no tempo e no espaço. É maioritariamente nesta fase que surgem os problemas relativos ao controlo do comportamento e à insónia. O profissional de saúde tem um papel fulcral quer no ajuste farmacológico, quer na transmissão de estratégias que permitam minimizar os períodos de confusão e agitação – manter um ambiente tranquilo, com hábitos/horários bem definidos, luminosidade adequada e uma atitude compreensiva. Nas fases finais da doença, somam-se problemas de mobilidade e dificuldade em deglutir os líquidos e os alimentos.

A exaustão do cuidador deve ser diagnosticada, aceite e abordada precocemente.

Dado o conhecido envelhecimento da população, a alta prevalência desta doença representa um elevado peso social, económico e emocional. Devemos por isso estar cientes de algumas estratégias que podem ajudar na prevenção da deterioração cognitiva em todas as idades: exercício físico aeróbico de intensidade moderada; controlo de fatores de risco para doença vascular como a hipertensão, colesterol, diabetes e excesso de peso; evitar o tabagismo; dieta saudável; sono eficaz; tratar a síndrome de apneia obstrutiva do sono; evitar o stress e a sintomatologia depressiva; corrigir a visão e audição; socializar e manter-se cognitivamente ativo.

Dra. Sofia Rocha, Neurologista no CNS Braga

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