O arcebispo de Évora considera que o caminho da sinodalidade, que a Igreja está a fazer, “acompanha a pluralidade do tempo”, lembra que a matriz cristã “são as comunidades”, alertando para a “dupla dimensão” do clericalismo.

“Estamos a fazer um caminho muito grande de sinodalidade que eu considero que acompanha o tempo, a pluralidade do tempo. Já não é possível ser de outra maneira, ficaremos de facto totalmente fora do tempo”, disse D. Francisco Senra Coelho, à Agência ECCLESIA, na jornada de atualização do clero das quatro dioceses do sul de Portugal.

O arcebispo de Évora explica que o mundo “reclama cada vez mais o sentido de respeito, da tolerância, pela diferença”, e a Igreja Católica não ter “um olhar aberto, uma tenda alargada”, ficará numa estreiteza,

“Há uma abertura e há um caminho a fazer juntos, que é a Palavra de Deus que nos faz e que nos conduz. Somos uma comunidade em conversão, mas todos, não apenas o outro. Estamos todos em formação, não há o que é mestre e o que está a aprender, não há aquele que diz como é e o outro que aprende como se é, mas somos todos caminhantes, discípulos, o mestre é um só”, desenvolveu.

‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’ é o tema da jornada de atualização do clero das quatro dioceses do sul de Portugal continental, que começou segunda-feira; com a participação de 77 pessoas – 22 do Algarve, 10 de Beja, 27 de Évora e 18 de Setúbal, mais nove formadores -, decorre até sexta-feira, em Albufeira.

A partir do tema geral desta formação, do processo sinodal em curso e da questão do clericalismo, o arcebispo de Évora observa que “é mais fácil tomar nas mãos a decisão de tudo”, e não ter de fazer o exercício da pluralidade que “parte exatamente da escuta e o ser capaz de entrar no coração do outro, na mente do outro, pôr-se na pele do outro”, mas também “é mais fácil delegar no Senhor Padre”.

“O clericalismo tem esta dupla dimensão da moeda, para o padre, não ouve, decida, para o povo, não se empenha, não se compromete, vai à Igreja, mas não é Igreja”, explica D. Francisco Senra Coelho.

O responsável diocesano acrescenta que este é um momento que “tem de ser ultrapassado”, contextualizando que por um “número muito elevado de sacerdotes” se prescindiu “do diaconado, dos ministérios e o povo de Deus viveu esta dimensão estranhíssima, uma evolução semântica”, e de leigo que “significa pleno participante, aquele que tem palavra”, passou-se “para ignorante, hoje um leigo é ignorante”.

Somos todos causa deste acontecimento que herdamos e como a herança propõe também a transformação, somos todos chamados a mudar. E há diversas dimensões de clericalismo; isto choca com a capacidade de inserir, de abraçar, e, ao mesmo tempo, fazer com que seja possível cada um participar com a sua história, com a sua personalidade, com a sua vida”.

D. Francisco Senra Coelho salienta que é preciso “ir à origem”, às fontes, como quis e quer o Concílio Vaticano II, aquilo que é a matriz cristã, “que são as comunidades”, que vêm exatamente no encontro de família.

“O nosso modelo nem é a escola, nem é o Estado, nem é o funcionalismo público ou o funcionalismo de que tipo for: Nós não somos funcionários, nem os padres, nem os servidores da Igreja, nem os cristãos. O nosso modelo é família, a comunidade, Jesus no meio”, acrescentou.

O arcebispo de Évora afirma que “dizer Igreja é dizer sinodalidade”, e é nessa dimensão “sem a atitude clerical, mas numa atitude fraternal” que a Igreja é “e foi pena ter deixado de ser, por isso, está a reencontrar-se consigo e a ser aquilo que sempre foi e deveria ter sido”.

“Não é possível dizer a palavra Igreja sem dizer a palavra caminhar junto. Temos aquela imagem tão bela dos companheiros de Emaús, caminhar junto. É o que o Papa Francisco pretende fazer com a Igreja. Ele caminha junto e faz-se irmão, expõe-se, diz o que o espírito ilumina e muitas vezes não procura dizer para agradar, até sabemos que há pessoas que não concordam com ele”, exemplifica D. Francisco Senra Coelho.

OC/CB – Agência ECCLESIA

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