Uma bomba explodiu na sexta-feira, dia 3 de novembro, na casa das irmãs salesianas em Cartum, a cidade capital do Sudão, provocando alguns feridos, entre os quais duas religiosas, e algumas das pessoas que estavam abrigadas na missão da Igreja. Testemunhas no local afirmam que foi “milagre” ninguém ter morrido.
Uma bomba atingiu na passada sexta-feira, dia 3 de Novembro, a missão das irmãs salesianas na capital do Sudão. A explosão causou graves danos no edifício e ferimentos em algumas das pessoas que se encontravam no local, nomeadamente duas religiosas e alguns dos residentes.
A casa das irmãs em Dar Mariam, um bairro de Cartum, alberga cinco religiosas, todas com mais de 65 anos, e ainda cerca de vinte mulheres, 45 crianças, um sacerdote e um grupo de homens, entre os quais um professor e alguns idosos e doentes. A explosão, que ocorreu às 06:50 horas, atingiu principalmente o primeiro andar do edifício, onde existem alguns quartos. Na altura do impacto, a bomba ter-se-á fragmentado causando danos em duas zonas distintas da casa.
Em mensagem enviada para a Fundação AIS, o Padre Jacob Thelekkadan – o sacerdote residente – explicou como tudo aconteceu. “Não podemos imaginar os danos que estas explosões teriam causado se tivessem caído no rés do chão”, diz o Padre Jacob, embora uma jovem mãe e os seus dois filhos, de 7 e 4 anos, tenham sofrido ferimentos ligeiros na cabeça.
Na altura do impacto, a bomba como que se dividiu atingindo duas áreas distintas do edifício. Uma parte “destruiu o quarto do professor, ferindo-o nas duas pernas, mas sem grande gravidade”. O segundo fragmento da bomba, explicou o sacerdote, “destruiu os dois quartos das irmãs”, tendo as portas sido projectadas a um metro de distância.
Duas das Irmãs Salesianas estavam num quarto e a porta do quarto e a da casa de banho caíram sobre elas. Uma das irmãs ficou ferida nas costas, mas não com gravidade. As portas provavelmente salvaram-na dos pesados estilhaços da bomba”Padre Jacob Thelekkadan
Todos os feridos foram levados para o hospital, mas já tiveram alta e estão bem.
“MUITAS IGREJAS BOMBARDEADAS…”
A guerra civil no Sudão, iniciada a 15 de Abril – está prestes a completar sete meses – já terá causado, segundo o enviado especial da ONU, Volker Perthes, pelo menos 5 mil mortos e mais de 12 mil feridos. Por causa da violência dos combates, algumas igrejas sofreram dados ou foram mesmo destruídas, mas outras abriram entretanto as suas portas para oferecer abrigo e refúgio.
A situação é preocupante e está a ser seguida com atenção. D. Syephen Ameyu Mulla, Arcebispo de Juba, no Sudão do Sul, e desde 30 de Setembro, Cardeal da Igreja Católica, referiu recentemente à Fundação AIS que, de facto, “muitas igrejas foram bombardeadas” no país, e que “todas as igrejas em Cartum sofreram danos, todas as paróquias…”. Mas, embora a maior parte dos missionários tenha saído do país por absoluta falta de segurança, alguns sacerdotes e religiosas permaneceram junto das populações. É o caso do Padre Jacob Thelekkadan e das irmãs salesianas.
O Padre Jacob, por exemplo, era responsável pelo Centro Vocacional de S. José, em Cartum, instituição que teve de encerrar por se encontrar numa zona de combates intensos. Apesar disso, o padre decidiu ficar no país para apoiar as Irmãs Salesianas.
Na mensagem enviada para a Fundação AIS pede as orações de todos pelo fim desta guerra quase esquecida em África. “Continuem a rezar para que esta guerra sem sentido e trágica chegue ao fim e para que Deus conceda o dom da paz duradoura ao Sudão”, pede o Padre Jacob.
“NECESSIDADES GIGANTESCAS”
Neste momento, o conflito no Sudão – que se pode explicar como uma dramática luta pelo poder entre dois generais, Abdel Fattah al-Burhan, o actual presidente, que tem o exército sob as suas ordens, e Mohammed Hamdan Daglo, o então vice-presidente, também conhecido por Hemedti, e que controla a RSF, as Forças de Apoio Rápido – está circunscrito praticamente à região da capital, Cartum, onde se têm travado violentos combates.
Uma das consequências principais desta guerra, é a profunda crise humanitária que está a causar. Milhares de pessoas têm vindo a procurar refúgio nos países da região. Dados das Nações Unidas apontam para uma situação que afecta já cerca de 6 milhões de pessoas. Destas, mais de 1,2 milhões já cruzaram as fronteiras, rumo a alguns dos países da região, nomeadamente o Sudão do Sul, onde a Igreja tem procurado acolher as pessoas que estão em maior necessidade.
Segundo D. Syephen Ameyu, “as necessidades são gigantescas” e é urgente o apoio de organizações internacionais. O prelado pede que estas organizações “venham em ajuda das pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade. Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida”. Muitos destes refugiados estão em Juba, onde “estão a ser instalados campos”, esclarece o Cardeal.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS