Na Nigéria, o país mais populoso de África, houve, de acordo com dados recolhidos pela Fundação AIS e até ao dia 13 de Novembro, o rapto de 23 pessoas ligadas directamente à Igreja Católica. Praticamente todos seriam libertados, mas houve casos que terminaram tragicamente. Esta situação deixa a comunidade cristã num medo constante.
“Com os nossos corações cheios de alegria e acção de graças…” Começa assim a mensagem da Diocese de Wukari enviada para a Fundação AIS Internacional a informar que o Padre Thaddeus Tarhembe, sequestrado no dia 29 de Outubro, na residência paroquial em Sarkin Kudu, havia sido libertado. O sequestro durou apenas umas horas.
Já mais recentemente, em Novembro, outro sacerdote caiu nas mãos de malfeitores. O Padre Andrew Anana foi raptado e libertado ao fim de muito pouco tempo, menos de 24 horas. Curiosamente, já em 2019 Anana havia sido raptado. O sequestro de pessoas ligadas à Igreja Católica começa infelizmente a ser comum na Nigéria.
De acordo com dados recolhidos pela Fundação AIS, até ao dia de ontem, 13 de Novembro, ascendia já a 23 o número total de padres, religiosas e seminaristas raptados ao longo do corrente ano, o que permite concluir que esta é uma das maiores ameaças à segurança do clero e dos religiosos neste país africano. Dos 23 raptados, um acabaria por ser brutalmente assassinado e os outros 22 libertados.
Mas há ainda a contabilizar, neste período, o assassinato de dois outros sacerdotes e de um seminarista.
ASSASSINATO DE UM JOVEM BENEDITINO
Um dos episódios mais graves ocorreu a 17 de Outubro, com o assassinato de um jovem noviço beneditino, Godwin Eze. Na ocasião foram raptados três monges, mas apenas Eze seria morto a tiro, ao que tudo indica por pastores nómadas Fulani, que se têm vindo a assumir como uma das maiores ameaças à comunidade cristã. Os outros dois religiosos seriam libertados três dias mais tarde.
Poucos dias antes, e como a Fundação AIS também noticiou, três irmãs foram também raptadas por homens armados. Duas das religiosas pertencem à congregação das Filhas Missionárias de Mater Ecclesiae e a terceira à Congregação do Senhor Ressuscitado.
O incidente ocorreu quando Rosemary Osiowhemu, Maria Ngozi Okoye e Josephine Mary Chinyekwuo, iam a caminho de Mbano, no estado de Imo, no sul do país, para as cerimónias fúnebres da mãe de uma das religiosas. Um seminarista e o motorista do automóvel em que seguiam foram também raptados. A libertação das irmãs, a 13 de Outubro, ao fim de oito dias de cativeiro, foi também muito saudada pela comunidade cristã local.
A MORTE TRÁGICA DE NA’AMAN DANLAMI
Antes disso, no início de Agosto, ocorreu o rapto do Padre Paul Sanogo e do seminarista Melchior Dominick. Ambos foram levados da Paróquia de São Lucas Gyedna, na Diocese de Minna, e seriam mantidos reféns durante 21 dias.
Em Setembro, a Fundação AIS dava conta igualmente do rapto do Padre Marcellinus Obioma Okide, em Udi, Diocese de Enugu. Este foi mais um caso que, segundo a imprensa local, terá sido da responsabilidade também de militantes fulani. Apesar de libertado ao fim de apenas quatro dias, o rapto deste sacerdote lançou uma enorme inquietação entre a comunidade cristã, pois ocorreu apenas uma semana depois da morte horrível de um seminarista na Diocese de Kafanchan.
Na’aman Ngofe Danlami, de 27 anos de idade, foi literalmente “devorado pelas chamas” em consequência de um ataque, no dia 7 de Setembro, à reitoria da Paróquia de São Rafael, onde se encontrava. Na origem desta tragédia, esteve mais uma vez, uma tentativa de rapto de um sacerdote. Neste caso, como os bandidos não conseguiram entrar no edifício, deitaram-lhe fogo, que acabaria por ceifar a vida do jovem seminarista.
No dia 7 de Setembro, ocorreu outro caso envolvendo um seminarista. Ezekiel Nuhu foi raptado com o pai quando estava de férias e passou quase dois meses em cativeiro antes de ser libertado já este mês de Novembro. Um caso semelhante ao de Na’aman Danlami ocorreu logo no início do ano, no dia 15 de Janeiro. O Padre Isaac Achi morreria queimado após a residência onde vivia ter sido incendiada na sequência de um ataque armado. Um outro sacerdote, que morava no mesmo edifício, ficou ferido a tiro.
UM ALERTA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Infelizmente, para além da questão dos raptos, a violência parece ter-se tornado no padrão normal da vida na Nigéria nos últimos tempos e tem sido amplamente denunciada pela Fundação AIS em Portugal.
Em 22 de Junho, por exemplo, durante a apresentação pública do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, que ocorreu na Assembleia da República, em Lisboa, o Padre Bernard Adukwu, de 38 anos de idade, apresentou um testemunho impressivo do que significa viver num país onde, efectivamente, não há liberdade religiosa e onde os próprios sacerdotes e as religiosas são um dos alvos principais dos grupos terroristas ou de malfeitores.
Poucos dias depois da sessão oficial, que contou com a presença do Presidente da Assembleia da República, o sacerdote espiritano tinha agendado uma viagem à Nigéria, para estar com a família, e não escondia o medo. “Na verdade, tenho medo, mas não posso deixar de visitar a família. É um risco mesmo. Sobretudo, com os padres, com os religiosos e as religiosas. Estou contente por ir visitar a minha família e ao mesmo tempo tenho medo, porque qualquer coisa pode acontecer.”
Um dos que mais impressionou ocorreu a 7 de Junho deste ano. “O Padre Charles [Onomhoale Igechi], na diocese de Benin, estava a sair para o trabalho quando foi raptado. No dia seguinte, o seu corpo foi encontrado ao lado da estrada. Um padre bastante novo, ordenado há 10 meses, no ano passado…” lamentou Bernard Adukwu na Assembleia da República, em Lisboa.
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal