Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 28 set 2023 (Ecclesia) – O Vaticano apresentou hoje aos jornalistas os espaços preparados para a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se vai iniciar a 4 de outubro, no Auditório Paulo VI.
Para evitar o desperdício de papel, os participantes vão contar, neste novo espaço, com tablets para votar, descarregar e ler documentos, ativados por umQR Code.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
Os trabalhos desta sessão decorrem até 29 de outubro e as reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.
Aos 365 votantes, entre eles 54 mulheres, somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
Os trabalhos vão desenvolver-se em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), e o debate conclusivo.
Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).
O documento apela a uma reflexão sobre a questão da autoridade, na Igreja Católica, que aborde “o seu significado e o estilo de seu exercício”.
“A autoridade é um serviço à singularidade de cada pessoa, apoiando a criatividade em vez de ser uma forma de controlo que a bloqueia, e um serviço à criação da liberdade pessoal e não uma amarra que a restringe”, indica o IL.
Os contributos recolhidos, desde 2021, apelam à criação de comunidades inclusivas, onde “todos se sintam bem-vindos”.
“O chamamento radical é para construirmos juntos, sinodalmente, uma Igreja atraente e concreta: uma Igreja em saída, na qual todos se sintam bem-vindos”, indica o documento orientado, que encerrou a primeira fase do processo sinodal, lançado pelo Papa há dois anos.
A primeira secção do documento de trabalho, intitulada ‘Para uma Igreja sinodal’, aponta a uma comunidade católica que deve ser “aberta, acolhedora e abraça a todos”.
Numa Igreja sinodal, acrescenta o documento, “os pobres, no sentido original de pessoas que vivem na pobreza e na exclusão social, ocupam um lugar central”.
“Todos os pontos de vista têm algo a contribuir para esse discernimento, a começar pelo dos pobres e excluídos: caminhar junto com eles não significa apenas responder e assumir suas necessidades e sofrimentos, mas também aprender com eles”, precisa o texto orientador.
O IL traça uma série de “características fundamentais ou marcas distintivas” de uma Igreja sinodal, apresentada como “uma Igreja de irmãs e irmãos em Cristo que se escutam mutuamente e que, ao fazê-lo, são gradualmente transformados pelo Espírito”.
Este percurso, indica o Vaticano, manifestou o “profundo desejo de aprofundar o caminho ecuménico”, na relação com outras Igrejas Cristãs, e do diálogo entre religiões, dando como exemplo de colaboração concreta a causa da proteção do ambiente.
O novo documento alude, por outro lado, a “sinais de graves crises de confiança e de credibilidade”, com particular referência à crise causada por várias formas de abusos – sexuais, de poder e de consciência, económicos e institucionais.
Ao pedido de perdão dirigido às vítimas pelos sofrimentos causados, a Igreja deve unir um compromisso crescente de conversão e de reforma, a fim de evitar que situações semelhantes voltem a acontecer no futuro”.
As sínteses das Conferências Episcopais e das assembleias continentais apelam a uma “opção preferencial” pelos jovens e pelas famílias, convidando a “renovar a linguagem usada pela Igreja”, que para as novas gerações é, muitas vezes, “incompreensível”.
Sobre o mundo digital, o IL admite que falta “consciência plena” das potencialidades para a evangelização e pede “uma reflexão sobre os desafios que coloca, sobretudo em termos antropológicos”.
O texto propõe, como metodologia de reflexão, o “diálogo no Espírito”, descrito como “uma oração partilhada em vista do discernimento comunitário, para o qual os participantes se preparam por meio de reflexão e meditação pessoal”.