O Ano Pastoral 2023-2024 começará de forma oficial no próximo dia 5 de outubro, com a celebração do Dia da Igreja Diocesana. Este Ano integrará um Biénio Pastoral tendo como horizonte o Jubileu do Ano 2025, que tem como tema geral “Peregrinos da Esperança”. Em entrevista à Esperança Multimédia (Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora), D. Francisco José Senra Coelho aborda alguns dos temas que marcarão este Biénio.
O Biénio Pastoral 2023-2025:
“Construir juntos um novo rosto de comunidade”
Após a realização das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que decorreram em agosto passado, em Lisboa, a Igreja vai iniciar a preparação para a celebração do Jubileu no Ano 2025, que será Ano Santo da Redenção, dedicado ao tema “Peregrinos da Esperança”.
“O Papa escreveu uma Carta a Monsenhor Rino Fisichella, Prefeito do Dicastério para a Nova Evangelização, afim de que coordene o Ano Santo”, explica o Arcebispo de Évora, sublinhando que “todavia não podemos estar desatentos à pós-JMJ, que se nos apresenta como uma realidade desafiante. É necessário que a festa da JMJ que tão eloquentemente vivemos em Lisboa, nos interpele seriamente e faça com que a Igreja esteja em total sintonia com os apelos dos jovens e as oportunas e proféticas mensagens do Papa. Acolhimento e Família, Verdade e Transparência foram as palavras fundamentais que saíram do Sínodo recentemente dedicado aos jovens (XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens e a Vocação Cristã, documento final, 27 de outubro de 2018)”.
“Neste contexto, o COD – Comité Organizador Diocesano tem de pôr a sua enorme experiência ao serviço do Departamento diocesano da Pastoral Juvenil e os COP – Comité Organizador Paroquial – têm de ser instrumentos de serviço na vida das Paróquias. Os jovens não são a Igreja do futuro, os jovens são a Igreja do hoje, do presente. Os jovens são a face luminosa da eterna juventude da Igreja, pois eles refletem a beleza do Ressuscitado”, sublinha o Prelado, afiançando que “este aspeto tem de ser verdadeiramente atendido para que a JMJ não tenha sido um evento, mas seja um elo no conjunto de muitos elos que desencadeia um processo iniciado nas pré-Jornadas e Dias na Diocese, que teve a subida à montanha nos dias com o Papa em Lisboa, e que agora, no pós-Jornadas, em forma de água doce desagua no mar salgado da vida – suor e lágrimas – afim de o renovar e de trazer salubridade, ou seja, esperança fundada na Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo”.
“É necessário que a JMJ seja um processo que ajude em Portugal a renovar a sua Pastoral Juvenil”, refere, explicando que “é importante dizer que temos tido no nosso país uma proposta catequética até ao 10.º ano e que frequentemente só nos voltamos a encontrar com os jovens na preparação para o matrimónio. Somente alguns Movimentos Eclesiais se têm dedicado à Pastoral Juvenil, pois a Igreja Portuguesa nunca teve um plano de acompanhamento, estruturado e devidamente organizado, para propor à Pastoral Juvenil. Esperamos que o pós-JMJ traga esta proposta, partindo dos próprios jovens, como importante contributo para a maturidade da Igreja portuguesa, não uma proposta fechada mas dinâmica, criativa e sinodal, porém consistente e realizável”.
“Sempre motivados por este processo, continuamos a caminhar com o dinamismo que o Jubileu do Ano 2025 já imprime à Igreja universal. Em termos de anos civis, o Papa pede que o ano 2024 seja um ano de oração e apresenta como proposta e como guião para esse ano o “Pai Nosso”. Ou seja, que ‘fatiemos’ o Pai Nosso, que o saboreemos como esse pão orante, que é projeto de conversão”, sublinha o Arcebispo de Évora, acrescentando “além disso, em Portugal, iremos viver o centenário do primeiro Congresso Eucarístico, que se realizou em 1924, em Braga, e no qual teve decisiva intervenção o nosso Santo Arcebispo, D. Manuel Mendes da Conceição Santos. A Eucaristia estará para a Igreja, neste ano orante, em que o Pai Nosso é a proposta do Papa, como ‘sol de cada dia’, pois a Eucaristia faz a Igreja”.
“No pós-JMJ, os desafios são a juventude, a caminho do Ano Santo, com a Eucaristia e a oração, tendo sempre em conta a dimensão vocacional, a qual vivemos em triénio na Província Eclesiástica de Évora (Sul), e que aparece neste caminho como vivência natural e consequente, pois todo o Discípulo é missionário. Será esta a temática deste biénio Pastoral 2023-2025 que estamos a preparar no contexto de um contínuo despertar para a aprendizagem de uma vida eclesial em sinodalidade. Neste Ano Pastoral, o Sínodo sobre a sinodalidade será certamente um importante contributo para o crescimento da sinodalidade na nossa Arquidiocese”, refere D. Francisco José Senra Coelho.
“Queremos apostar na formação
ao serviço do agente da pastoral”
O Prelado eborense aponta ainda a formação como desafio a concretizar no biénio Pastoral. “Sentimos uma necessidade grande de formação não com vista a adquirir apenas conhecimentos e erudição, mas com o objetivo de servir. Queremos apostar na formação ao serviço do agente da pastoral, do leitor, do catequista, do acólito, do visitador de doentes”, explica, acrescentando que “vamos preparar um conjunto de apoios que possibilitarão que os agentes da pastoral se tornem ainda mais aptos para servir as comunidades a que pertencem. Teremos, em princípio, uma temática de introdução à Bíblia, à Teologia e à Liturgia, talvez numa periodicidade trimestral”.
“No próximo dia 11 de setembro, a Assembleia Geral do Clero vai reflectir e especificar melhor esta proposta de apoio para todos os que se sintam chamados a colaborar na construção de um novo rosto de comunidade”, refere.
“Este caminho de um ano de preparação para servir será uma experiência que nos levará a uma avaliação e consequente reflexão, podendo-nos fazer evoluir, quiçá, para uma segunda proposta de valorização mais focada nos ministérios. Por exemplo, alguém que ao frequentar este primeiro ano, sinta o apelo para servir na liturgia, possa ter o segundo ano específico na sua valorização em liturgia”, explica, adiantando que “se isto ficar em formato audiovisual, em ambiente digital, ficaremos com um acervo, com atualidade, por algum tempo, para fazer formação junto dos jovens e dos adultos, por exemplo, ao nível paroquial, de movimentos ou comunidades”.
“Uma Igreja ministerial, que responde à proposta do Papa, que institui Leitores, Catequistas e Acólitos como Ministérios instituídos para todos os leigos, vai brotar desta formação. E um dia será também muito diferente o nosso olhar para o Ministério Diaconal. Pois já teremos uma base ministerial para que percebamos aqueles que o Senhor chama, a partir da sua preparação, experiência comunitária e vivência da fé, ao Ministério diaconal”, adianta. “Este desafio é extremamente importante, pois brota da experiência dos quatro anos pastorais anteriores e das propostas do Papa Francisco”, sublinha.
“Para terminar, quero abraçar todos os que são a Arquidiocese de Évora. Agradecer em nome do Senhor Jesus a generosidade, a dedicação e o amor que põem na sua vida à Igreja e que na Igreja se encontram com Cristo. Cada baptizado é um discípulo de Cristo, e com Jesus temos de construir em conjunto todos os dias a Igreja, pois não somos somente chamados a ir à igreja mas a sermos Igreja, Ele em nós, para o mundo, em atitude de serviço”, agradece.
“A todos deixo um desafio: o mundo que precisa tanto de luz forte e Jesus Cristo, centro de cada comunidade, é essa luz para o mundo. Não dizemos ‘luz forte’ no sentido que encandeia; não dizemos ‘luz forte’ no sentido que brilha e protagoniza no proselitismo; dizemos forte na beleza enquanto luz do Amor que chama, que contagia e que convida a provar o sabor de ser por ela iluminado”, desafia.
“Entre o sabor e o saber há uma relação experimental muito diferente da relação entre o conhecimento e a ciência. Pois do saber e do sabor brotam a sabedoria que nos ajuda a construir a felicidade. Enquanto do conhecimento e da ciência brota apenas o saber fazer, que porventura não nos preenche no ser. Mais do que fazer e ter, a felicidade brota do ser, construído a partir do sabor e da sabedoria. Que tenhamos o sabor de Cristo para quem vem saborear as nossas Comunidades”, conclui D. Francisco José Senra Coelho.
Texto: Pedro Miguel Conceição