Na manhã deste domingo, dia 6 de agosto, o Papa Francisco presidiu à Missa de Envio da JMJ Lisboa 2023, no campo da Graça (Parque Tejo), que foi concelebrada por largas centenas de bispos, entre os quais o Arcebispo de Évora e o Arcebispo de Évora Emérito, de vários milhares de sacerdotes de todo o mundo, entre eles muitos da Arquidiocese de Évora, e participada por milhão e meio de peregrinos oriundos de todo o mundo, entre os quais pelo menos 1645 da Arquidiocese de Évora que se inscreveram oficialmente.
A Missa foi animada liturgicamente pelo Coro e Orquestra da JMJ, que contou com a participação de vários jovens da Arquidiocese de Évora, sendo que o salmo foi cantado pela jovem Joana Timóteo (Évora).
“Com a presença, a palavra e os gestos que muito agradecemos, muito obrigado”, disse o cardeal patriarca no início da Missa de Envio da JMJ Lisboa 2023, no campo da graça (Parque Tejo).
Após a leitura do Evangelho da Transfiguração do Senhor, o Papa Francisco proferiu a homilia, tendo começado por explicar a leitura acaba de escutar.
“Este banho de luz prepara-os para a Paixão. Queridos jovens, também nós hoje precisamos de luz para enfrentar tantas escuridões e derrotas quotidianas precisamos da luz da ressurreição”. “O nosso Deus iluminou os nossos olhos”, sublinhou o Papa.
“Não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sobre os holofotes ou quando aparentamos uma imagem perfeita”, mas “resplandecemos quando acolhemos Jesus e quando amamos como Jesus, isso é que nos torna luminosos e nos faz fazer obras de amor”.
“Serás luz quando fizeres obras de amor”, afiançou. “Se agires como egoísta, a luz apaga-se”, avançou.
“Escutai a Jesus. Aí está o segredo. O que é que te diz o Jesus. Pega no Evangelho e escuta Jesus. Ele tem palavras de vida eterna para cada um de nós. Escutai a Jesus”, disse.
“Às vezes com boa vontade tomamos caminhos que parecem de amor, mas são de egoísmo. Cuidado com o egoísmo disfarçado de amor”.
“Resplandecer. Escutar. São palavras para recordar assim como a terceira palavra é não ter medo”, sublinhou.
“Às vezes temos pessimismo, temos medo neste tempo. Vocês, Jovens, que querem mudar o mundo, lutar pela justiça, que querem viver a vida com ‘ganas’, a vós jovens a Igreja precisa de vós como a terra da chuva. Vós sois o presente e o futuro. Jesus diz: Não tenhais medo. Não tenhais medo. Em silêncio repitam no vosso coração “não tenhais medo”.
“Queria olhar-vos nos olhos e não tenham medo. Anuncio-vos algo mais belo, não sou eu, é Jesus que vos conhece, que lê o vosso íntimo e o vosso coração. É Jesus que vos diz aqui nesta JMJ em Lisboa: Não tenham medo! Animem-se!”
No fina da Eucaristia, o Papa disse “Muito obrigado, a todos. À Igreja Portuguesa e a todo o Povo Português! E obrigado a ti, Lisboa. Obrigado aos voluntários pelo seu grande serviço. Um agradecimento especial para quem do céu olhou por este JMJ, São João Paulo II. Obrigado a todos vós, queridos jovens. Deus vê todo o bem que vós sois!”, agradecimento muito aplaudido pela grande multidão de um milhão e meio.
“Fixem no vosso coração, queridos jovens, o momento mais marcante que viveram nesta JMJ para que no desânimo possam recordar-se desse momento”, desafiou o Papa, que não esqueceu os jovens que não puderam estar presentes.
“Um último obrigado às nossas raízes, aos nossos avós, que nos transmitiram a fé”, disse o Santo Padre.
O Papa convidou os jovens a participar em 2025, na celebração do Jubileu em Roma.
Depois, o Papa anunciou quem em 2027 a próxima Jornada Mundial da Juventude será em Seul, na Coreia do Sul.
PORTUGAL – Lisboa – 06.08.2023 – 09.00
Santa Missa para o Dia Mundial da Juventude
Parque Tejo
Homilia do Santo Padre
Tradução oficial
As palavras do Apóstolo Pedro no Monte da Transfiguração são as mesmas que, depois destes dias
intensos, queremos fazer nossas: «Senhor, é bom estarmos aqui!» (Mt 17, 4). Foi bom o que
experimentámos com Jesus, o que vivemos juntos e como rezámos. Mas, depois destes dias de graça,
perguntamo-nos: Que levamos connosco quando regressarmos ao vale da vida quotidiana?
A partir do Evangelho que ouvimos, quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecer,
ouvir, não temer.
Resplandecer. Jesus transfigura-Se e – diz o texto – «o seu rosto resplandeceu como o sol» (Mt 17,
2). Recentemente tinha anunciado a sua paixão e morte de cruz, quebrando assim a imagem em voga dum
Messias poderoso e mundano, e dececionando as expectativas dos discípulos. Agora e precisamente para
os ajudar a acolher o amoroso projeto de Deus, que chega à glória pelo caminho da cruz, Jesus toma consigo
três deles – Pedro, Tiago e João – condu-los ao alto dum monte e transfigura-Se: o seu rosto torna-se
resplandecente e as suas vestes cândidas. Este «banho de luz» prepara-os para a noite que terão de
atravessar; esta abertura luminosa ajudá-los-á a suportar a dificuldade das horas mais escuras, ou seja, as
do Getsémani e do Calvário.
Amigos, também nós precisamos de alguns lampejos de luz para enfrentar a escuridão da noite, os
desafios da vida, os medos que nos inquietam, a escuridão que muitas vezes vemos ao nosso redor. O
Evangelho revela-nos que esta luz tem um nome. Sim! Esta luz, que veio iluminar o mundo, é Jesus (cf. Jo
1, 9). Ele é a luz que nunca se põe e brilha mesmo durante a noite. Vêm-me ao pensamento as palavras do
sacerdote Esdras, que encontramos na Sagrada Escritura e que também nós podemos repetir depois destes
dias passados em conjunto: «O nosso Deus quis fazer brilhar os nossos olhos» (Esd 9, 8). Iluminados por
Cristo, também nós somos «transfigurados»: os nossos olhos e os nossos rostos podem resplandecer com
uma luz nova. Irmãos e irmãs, é isto que a Igreja e o mundo esperam de vós: que sejais jovens luminosos,
que levam a luz do Evangelho a todos os lugares e acendem clarões de esperança nas trevas do nosso tempo!
Quero dizer-vos uma coisa: não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sob os holofotes,
quando exibimos uma imagem perfeita e nos sentimos fortes e bem-sucedidos. Mas resplandecemos
quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar como Ele, porque esta é a verdadeira beleza que resplandece:
uma vida que arrisca por amor. Um filósofo escreveu que a beleza da mensagem revolucionária de Cristo
consiste em «encontrar amável mesmo o objeto não amável» (S. Kierkegaard, Gli atti dell’amore, Milão
1983, 579), ou seja, amar o próximo como é: não apenas quando está em sintonia connosco, mas também
quando nos é antipático e apresenta aspetos de que não gostamos. Com a luz de Jesus, isto é possível! Vós,
jovens, podeis amar assim e derrubar certos muros, certos preconceitos, levando ao mundo a luz do amor
que salva. Que possais resplandecer sempre deste amor, resplandecer de Jesus, «luz do mundo» (Jo 8, 12)!
O segundo verbo é ouvir. No monte, uma nuvem luminosa cobre os discípulos e a voz do Pai indica
que Jesus é o Filho amado. O mandamento que o Pai dá é simples e direto: «Escutai-O» (Mt 17, 5). Está
tudo aqui: tudo aquilo que se deve fazer na vida cristã, está nesta palavra, a última que o Pai pronuncia no
Evangelho de Mateus: escutai-O. Ouvir Jesus, conversar com Ele, ler a sua Palavra e pô-la em prática,
segui-Lo… porque Ele tem para nós palavras de vida eterna, porque Ele revela que Deus é Pai e amor,
porque nos tornamos também nós, graças ao seu Espírito, filhos amados. É isto que precisamos na vida:
não é fama, sucesso, dinheiro, mas saber que não estamos sozinhos, que temos sempre Alguém ao nosso
lado, que começamos e terminamos o dia com a certeza do abraço do Senhor. Precisamos de O ouvir, para
acreditar que somos amados e acompanhados por um amor que nunca falha. E lembremo-nos disto: pôr-se
à escuta do Senhor, permanecendo abertos às suas surpresas, torna-nos pessoas capazes também de nos
escutarmos uns aos outros, de escutar a realidade que nos rodeia, as outras culturas, a voz sofredora dos
pobres e dos mais frágeis, o grito da Terra ferida e maltratada. Como é bom escutar Jesus, escutarmo-nos
mutuamente e crescermos no diálogo, num mundo onde tantos viajam fechados na própria solidão,
pensando em si mesmos.
Resplandecer, ouvir e, por fim, não temer. São as últimas palavras que Jesus pronuncia no monte
para animar os discípulos assustados: «Levantai-vos e não tenhais medo» (Mt 17, 7). Agora que tiveram
uma antevisão da glória pascal, que foram imersos na luz divina e ouviram a voz do Pai, os discípulos
podem descer do monte e enfrentar os desafios que os esperam no vale. O mesmo se passa connosco: se
guardarmos a luz de Jesus e as suas palavras, podemos caminhar dia a dia na vida com o coração livre do
medo.
A vós, jovens, que cultivais sonhos grandes mas frequentemente ofuscados pelo medo de não os ver
realizados; a vós, jovens, que às vezes pensais que não ides conseguir; a vós, jovens, tentados neste tempo
a desanimar, a julgar-vos inadequados ou a esconder a vossa dor disfarçando-a com um sorriso; a vós,
jovens, que quereis mudar o mundo e lutais pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis o melhor da
vosso esforço e imaginação ficando porém com a sensação de que não bastam; a vós, jovens, de quem a
Igreja e o mundo têm necessidade como a terra da chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o futuro…
precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz: «Não tenhais medo».
Ressoam mais vivas do que nunca as palavras que São João Paulo II pronunciou durante uma JMJ:
«Na realidade, é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do
que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de
radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que
tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam
sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande. (…) Não tenhais medo
de vos entregar a Ele» (Vigília de oração, Roma 19/VIII/2000).
Queridos jovens, gostaria de poder fixar nos olhos a cada um de vós e dizer: não tenhas medo! Mas
anuncio-vos algo muito mais belo: o próprio Jesus agora olha para vós, Ele que vos conhece e lê no vosso
íntimo; olha para o vosso coração, sorri e repete que Ele Vos ama sempre e infinitamente. Sempre e
infinitamente. Ide então e levai a todos o sorriso luminoso de Deus! Ide e testemunhai a alegria da fé, a
esperança que vos aquece o coração, o amor que colocais em tudo. Resplandecei da luz de Cristo. Escutai-
O para vos tornardes também vós a luz do mundo. E não tenhais medo, porque o Senhor ama-vos e caminha
ao vosso lado. Com Ele a vida ressurge sempre.
Santa Missa para o Dia Mundial da Juventude
Parque Tejo
Ângelus do Santo Padre
Tradução oficial
Queridos irmãos e irmãs,
Uma palavra ressoou muitas vezes nestes dias: “grazie” ou melhor «obrigado». É belo aquilo que o
Patriarca de Lisboa acaba de nos dizer: que «obrigado» não expressa só gratidão pelo que se recebeu, mas
também o desejo de retribuir o bem. Quanto bem recebemos todos nós neste evento de graça, e agora o
Senhor faz-nos sentir a necessidade de por nossa vez, quando regressarmos a casa, partilhar e doar
testemunhando, com alegria e gratidão, o bem que Deus nos colocou no coração.
Mas, antes de vos enviar, quero também eu dizer «obrigado». Digo-o, em primeiro lugar, ao Cardeal
Clemente e, nele, à Igreja e a todo o povo português. Obrigado ao Senhor Presidente, que nos acompanhou
nos eventos destes dias; às instituições nacionais e locais pelo apoio e assistência prestados; aos Bispos,
sacerdotes, pessoas consagradas e leigos. E obrigado a ti, Lisboa, que ficarás na memória destes jovens
como «casa de fraternidade» e «cidade de sonhos». Exprimo depois o vivo reconhecimento ao Cardeal
Farrell e àqueles que prepararam estas Jornadas, bem como a quantos as acompanharam com a oração.
Obrigado aos voluntários, para quem peço o aplauso de todos pelo grande serviço prestado! Um
agradecimento especial a quem velou pela JMJ a partir do Alto, ou seja, os Santos patronos do evento: um
por todos, João Paulo II, que deu vida às Jornadas Mundiais da Juventude.
E obrigado a todos vós, queridos jovens! Deus vê inteiramente o bem que sois; só Ele conhece o
que semeou nos vossos corações. Por favor, guardai-o com cuidado. Quero dizer-vos: recordai, fixai na
mente os momentos mais belos. Depois, quando vier algum inevitável momento de cansaço e desânimo e,
quem sabe, a tentação de parar no caminho ou de vos fechar em vós mesmos, reavivai as experiências e a
graça destes dias, porque – nunca o esqueçais – esta é a realidade, isto é o que vós sois: o Povo santo de
Deus que caminha na alegria do Evangelho. Desejo também enviar uma saudação aos jovens que não
puderam estar aqui, mas participaram em iniciativas organizadas nos seus países pelas respetivas
Conferências Episcopais e pelas Dioceses; penso, por exemplo, nos irmãos e irmãs subsarianos, reunidos
em Tânger.
Em particular, acompanhemos com o pensamento e a oração aqueles que não puderam vir por causa
de conflitos e de guerras. E são tantos por esse mundo fora. Pensando neste continente, sinto grande tristeza
pela querida Ucrânia, que continua a sofrer muito. Amigos, permiti a mim, idoso, partilhar convosco,
jovens, um sonho que trago cá dentro: é o sonho da paz, o sonho de jovens que rezam pela paz, vivem em
paz e constroem um futuro de paz. Através da oração do Angelus, coloquemos nas mãos de Maria, Rainha
da Paz, o futuro da humanidade. E ao voltardes para casa continuai, por favor, a rezar pela paz. Vós sois
um sinal de paz para o mundo, um testemunho de como as nacionalidades, as línguas e as histórias podem
unir em vez de dividir. Sois a esperança dum mundo diferente. Obrigado por isso. Avante!
Um último obrigado, o maior! Dirigimo-lo a duas pessoas especiais, aos protagonistas principais
deste encontro. Estiveram aqui connosco, e estão sempre connosco, não perdem de vista as nossas vidas e
amam-nas como mais ninguém: obrigado a Ti, Senhor Jesus; obrigado a Ti, Maria nossa Mãe: nós Te
rezamos com alegria.