PORTUGAL – Fátima – 05.08.2023 – 09.30

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Obrigado, D. José Ornelas, pelas suas palavras e, a vós todos, obrigado pela presença e a oração.
Rezámos o terço, uma oração muito bela e vital; vital, porque nos põe em contacto com a vida de Jesus e
de Maria. E meditámos os mistérios da alegria, que nos lembram que a Igreja não pode ser senão a casa da
alegria. A Capelinha onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja: acolhedora e sem portas;
é um santuário a céu aberto no coração deste recinto que lembra um grande abraço materno. Assim seja na
Igreja, que é mãe: portas abertas para todos a fim de facilitar o encontro com Deus; e lugar para todos,
porque cada um é importante aos olhos do Senhor e de Nossa Senhora.

Encontramo-nos aqui, sob o seu olhar materno; aqui aonde vem tanta gente peregrina. A
peregrinação é precisamente o traço mariano que liga os mistérios que rezámos. De facto, Maria recebe o
anúncio da alegria – aquele «alegra-Te» (Lc 1, 28) – que Lhe muda a vida e, imediatamente, inicia uma
peregrinação que se estende pelos mistérios sucessivos: vai a casa de Isabel, depois a Belém, em seguida
ao templo de Jerusalém, aonde voltará por último para reencontrar Jesus. Maria caminha, não fica parada.
O mesmo faz ao longo da história, descendo até ao nosso meio, como aqui em Fátima, e convidando a
pormo-nos em peregrinação não só com o corpo, mas sobretudo com a vida. Como? Avançando dia a dia
com alegria e esperança, porque temos uma meta – o Céu –, e ao mesmo tempo com perseverança e
paciência, porque a vida na terra não é um videojogo para entreter, mas um caminho a percorrer com
coragem e constância. Quero agradecer-vos, a vós que estais aqui e sabeis continuar em frente quer na
doença quer na reclusão. Carregais a cruz, mas, com Deus, as vossas cruzes não terão por meta o nada, mas
serão portas para a glória. É verdade! Porque, com Jesus, toda a cruz termina em ressurreição, toda a
escuridão em luz e todo o abandono em comunhão. Obrigado! Obrigado porque sois testemunhas de que a
vida vale mais que a saúde e que a alegria não vem das coisas que se possuem, mas do amor que se dá e
recebe.

Maria está convosco. Ela realizou sonhos maiores do que aqueles que podia imaginar. Como? Não
procurando o sucesso, o poder, a riqueza e as aparências mundanas, mas caminhando pelas sendas de Deus,
pela estrada da verdadeira grandeza. E sabeis como se chama esta estrada para a grandeza? Chama-se
pequenez, o caminho da pequenez. Deus escolhe sempre os pequenos, que para Ele são grandes; escolhe os
simples e são eles que Lhe permitem realizar na história os seus grandes desígnios: como os discípulos no
Evangelho, como as crianças aqui em Fátima. Deus prefere-os. E a pequenez que Deus ama sugere que nos
mantenhamos afastados duma tentação perigosa: o perfecionismo. Parece que hoje não se pode ser nada
menos do que perfeito; é preciso mostrar-se grande, eficiente e realizado. Qualquer fragilidade aparece
como uma culpa, enquanto os modelos inculcados pela sociedade da imagem são sempre resplandecentes
e rutilantes. Mas estão maquilhados… E, por conseguinte, são falsos, porque a vida é feita de verdade e
realidade, não de mentiras e aparências. E quem segue as aparências do mundo, permanece triste por dentro.

Quantos jovens carregam, hoje, a aflição de não conseguir êxito, de lhe ter corrido mal, de serem
inadequados e até errados; exteriormente procuram estar à altura, mostrar-se em forma, mas dentro o
coração grita dor. Amigos, não nos deixemos contagiar pelo perfecionismo, não nos deixemos enganar por
miragens, não nos tornemos discípulos das modas. Apaixonemo-nos pela vida verdadeira, porque somos
chamados a ser artistas da existência, não especialistas em fotos retocadas; chamados a colorir de sentido
os dias que vivemos, não a envernizá-los com aparências.

Ajudemo-nos a avançar juntos, de mãos dadas, com os pés assentes na terra e o olhar voltado para
o céu. Pensemos que as fragilidades não são obstáculos intransponíveis, mas degraus para chegar mais alto,
porque é precisamente através da nossa pequenez que Deus realiza grandes coisas. Tenhamos isto sempre
presente: Jesus faz maravilhas com a pequenez. Mais ainda: Ele identificou-Se com os pequenos. Assim o
diz o Evangelho: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o
fizestes» (Mt 25, 40). E entre estes pequeninos estais vós, doentes e reclusos. Amigos, Jesus ama-vos até
ao ponto de Se identificar convosco. E pede-vos para colaborardes com Ele, fazendo-vos intercessores.
Mas como? Fátima ajuda-nos, pois é uma escola de intercessão. Os pastorinhos de Fátima tornaramse
grandes na intercessão, graças a um anjo que, um ano antes da vinda de Nossa Senhora, os instruiu.
Apareceu-lhes dizendo: «Não tenhais medo!». Sempre que chega Deus, desaparecem os temores. Em
seguida o anjo apresenta-se: «Sou o anjo da paz». Onde está Deus, sempre há paz. Depois faz-lhes um
pedido: «Rezai comigo». E ensina-lhes orações que não tinham em vista eles mesmos nem as próprias
necessidades, como muitas vezes fazemos nós, mas eram orações de adoração e intercessão. Adoração a
Deus e intercessão pelos outros. Então o anjo ajoelha-se com a fronte inclinada até ao chão e convida-os a
rezar dizendo: «Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem,
não adoram, não esperam e não Vos amam».

E acrescenta: «Os Corações de Jesus e de Maria estão atentos à voz das vossas súplicas». Temos a
certeza de que Deus ouve sempre as nossas orações; estas nunca são inúteis, mas sempre necessárias, porque
a oração muda a história. O anjo da paz explica que as orações e os sacrifícios feitos com amor atraem a
paz ao mundo. Eis as últimas palavras que dirige às crianças, quase confiando-lhes uma tarefa: «Consolai
o vosso Deus». Não precisamos só nós da consolação de Deus; também Ele pede para ser consolado por
nós, porque sofre: sofre com o mal, as divisões, a falta de paz, e pede oração e amor. Que grande missão
temos nós na história! Verdadeiramente não podemos considerar-nos inúteis; somos preciosos. Aquilo que
vivemos e oferecemos pode transformar o mundo. Aqui está o coração palpitante e sempre atual da
mensagem de Fátima.

Em 1917, quando Nossa Senhora aparece precisamente no mês de agosto, diz uma coisa
surpreendente. São-Lhe apresentados alguns doentes, e Ela interessa-Se por eles; mas imediatamente depois
veem-Na assumir um aspeto sério e triste, como se estivesse a assinalar uma doença mais preocupante, e
acrescenta: «Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por
não haver quem se sacrifique e peça por elas». Poderíamos esperar que Ela dissesse: há quem se perca,
porque é mau, porque o mundo está torto, porque há pouca fé, porque existe ateísmo, relativismo… Mas
não. Nossa Senhora não faz estes discursos. É Mãe e não acusa ninguém, nem a sociedade; não critica nem
Se lamenta; simplesmente Se preocupa, porque falta compaixão pelos que andam longe, porque não há
quem reze e se ofereça a Deus por eles, porque escasseiam o amor e o zelo.

Acolhamos hoje este convite à responsabilidade, convite a cuidarmos de quem não crê, não espera,
não ama. E Deus cuidará de nós. Rezemos, porque Fátima é um ginásio de treino para a oração. Hoje, como
aliás no tempo das Aparições, há guerra. Nossa Senhora pediu para rezar o terço pela paz. Fez o pedido,
não como se fosse um favor, mas com apreensão materna: «Rezem o terço todos os dias, para alcançarem
a paz para o mundo e o fim da guerra». Unamos os nossos corações, rezemos pela paz, continuemos a
consagrar a Igreja e o mundo ao Coração Imaculado da nossa terna Mãe.

O Papa ofereceu um Terço a Nossa Senhora de Fátima nesta sua segunda visita ao Santuário da Cova da Iria
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