Mais de metade dos jovens portugueses declaram ser religiosos e cerca de um terço (34%) afirmam ser praticantes de uma religião. Os valores mais importantes para os jovens são o respeito, a liberdade e o amor. E a religiosidade contribui para encontrarem um sentido para a vida, para ajudarem os outros e para um desejo de aperfeiçoamento pessoal. Estas são algumas das conclusões gerais de um estudo da Universidade Católica tornado público na passada semana, realizado no contexto da próxima realização das Jornadas Mundiais da Juventude.
Participaram neste trabalho 2480 pessoas de todo o país sendo o objetivo do estudo compreender como a “actual geração de jovens entre os 14 e os 30 anos vive a dimensão espiritual nas suas vidas, a religião e a fé, e encara o futuro”. A amostra foi dividida em dois grupos, separando os jovens de 14 a 17 anos do grupo dos jovens adultos entre os 18 e os 30 anos.
Quando questionados sobre a sua posição perante a religião, 34% afirmam ser crentes e praticantes de uma religião. A segunda resposta mais frequente é dos que se afirmam crentes, mas não praticando nenhuma religião (22%). Os ateus representam 15% das respostas, sendo que se evidencia uma diferença importante entre os grupos etários: se entre o grupo de 14 a 17 anos apenas 8% se declaram ateus, esse número salta para 20% entre os jovens adultos.
A grande maioria dos que se declaram religiosos são católicos (88%), sendo o segundo grupo (7%) constituído por cristãos não católicos. No conjunto dos jovens portugueses são menos de metade (49%) os que se afirmam católicos, número alinhado com estudos similares anteriores.
A tolerância religiosa é um traço comum a todos os inquiridos, com a maioria dos jovens a reconhecer que “há verdade em todas as religiões” (51%). Apenas uma minoria (7%) afirma que só a sua religião é verdadeira e 12% que a sua é mais verdadeira do que as outras.
Outro objetivo do estudo era conhecer as percepções dos jovens quanto aos principais desafios para o futuro, as suas preocupações. Neste campo, “sobressaem as preocupações com a guerra (63%), as alterações climáticas (55%) e a equidade e discriminação (54%). A economia e a política são preocupações maiores para os mais velhos (40% e 41%, respetivamente) do que para os mais novos, mas ainda assim, menos preocupantes do que aquelas três questões”.
Quando interrogados sobre o que lhes importa mais para a sua felicidade no futuro, verificamos que existem diferenças entre grupos, consoante se considere a presença ou a ausência de crenças religiosas. “Ambos os grupos valorizam os mesmos fatores de felicidade – ter um trabalho estável, que os faça felizes, e contribuírem para uma sociedade que tenha mais equidade e onde não haja discriminação. Contudo, se para os não religiosos não é importante constituírem uma família que inclua filhos, este objetivo é importante para os religiosos que, por seu lado, não valorizam tanto poderem fazer as escolhas que quiserem, independentemente da pressão da família ou da sociedade”.
Quanto aos valores que consideram mais importantes na vida, existe concordância entre os jovens quanto aos mais importantes, independentemente da sua religiosidade: “o respeito (59%), a liberdade (57%), o amor (52%) e a honestidade (51%). Mas se os jovens não religiosos valorizam mais a liberdade, os religiosos valorizam o amor”, o que é consistente com a afirmação dos não religiosos de que terem liberdade será fundamental para serem felizes no futuro, ao passo que os jovens religiosos dão mais importância a constituírem família.
Questionados sobre a Jornada Mundial da Juventude, a maior parte dos inquiridos tem conhecimento sobre a realização deste encontro (58%). Na globalidade, apenas 35% admitem participar, sendo que entre os jovens católicos essa percentagem sobe para 75,23%.
Alguns dados deste estudo trazem matizações interessantes à caracterização da juventude.
Em primeiro lugar, apesar de uma progressiva e evidente secularização da sociedade portuguesa, as questões religiosas e espirituais constituem um aspecto importante para muitos jovens. A vivência dessa religiosidade está a deslocar-se e a reconstituir-se, desligando-se de práticas ritualizadas e reconfigurando-se numa maior informalidade e fluidez.
Em segundo lugar, as relações de casal e a constituição de família estão a perder peso quer nas preocupações, quer no que os jovens consideram importante para o seu futuro. Este dado acentua-se, sobretudo, no sexo feminino, o que consolida uma progressiva alteração cultural no que se refere à família.
Outro dado interessante é verificar que quando questionados sobre o seu envolvimento na construção do futuro, os jovens proclamam valores e propósitos aparentemente adequados, embora manifestem baixos níveis de compromisso na acção.
Por último, e no que se refere às Jornadas Mundiais da Juventude, é curioso que 42% refiram não saber o que são…
Texto: P. Manuel Vieira