O ataque terrorista à vila de Palma, no norte da província de Cabo Delgado, em Março de 2021, terá provocado mais de 1350 mortos e não apenas algumas dezenas, como as autoridades afirmavam, segundo revela agora uma investigação de um jornalista norte-americano. D. António Juliasse, Bispo de Pemba, reagiu já a essas informações e diz que, a confirmarem-se esses números, “houve um massacre” e o governo deve decretar “luto nacional”…

O ataque de terroristas à vila de Palma em 24 de Março de 2021 foi, na verdade, um verdadeiro massacre com 1357 mortos. Estes dados, que contrariam a versão oficial que apontava, desde a primeira hora, para apenas algumas dezenas de vítimas, foram divulgados recentemente pelo jornalista norte-americano Alex Perry, que conduziu durante os últimos meses uma investigação sobre esse ataque. O Bispo de Pemba reagiu já a esta informação e na sexta-feira, dia 9, durante a homilia da missa de encerramento da formação permanente dos missionários, na capela da Universidade Católica, pediu para que as autoridades venham a decretar luto nacional para que a população possa chorar e homenagear os seus mortos. “Se os dados não são refutáveis então nós tivemos aqui em Cabo Delgado um massacre que ninguém mencionou antes. Somadas as outras mortes desta guerra, são milhares de famílias a quem não se prestou condolências”, disse o prelado, segundo mensagem enviada ontem, dia 11, pela Diocese de Pemba para a Fundação AIS em Lisboa.

Memória das vítimas

O Bispo de Pemba, que é também presidente da Comissão Episcopal de Justiça e Paz de Moçambique, afirmou ainda esperar que o governo se pronuncie sobre a investigação do jornalista norte-americano. “Espero que o governo se dê ao trabalho de confirmar os dados divulgados, faça o reconhecimento público do sucedido e, se aplicável, decrete simbolicamente um momento de luto nacional para que os moçambicanos chorem por outros moçambicanos barbaramente massacrados em Palma.” E acrescentou: “Deve-se criar esta memória colectiva de forte repúdio a actos deste tipo. Entendemos todos que Palma é Moçambique e os que foram massacrados são maioritariamente moçambicanos”. A informação que a Diocese de Pemba enviou para a Fundação AIS esclarece ainda que, segundo o relatório publicado pelo jornalista Alex Perry, “o governo e a Total Energies omitiram os dados” referentes à verdadeira dimensão do ataque.

Igreja lidera negociações

Esta informação sobre o ataque a Palma ocorre numa altura em que a Igreja tem manifestado empenho num eventual processo de negociações que ponha fim à violência terrorista em Moçambique. Como a Fundação AIS noticiou recentemente, citando o Padre Eduardo Roca, que lidera em Pemba o Centro Inter-Religioso para a paz, a Igreja Católica tem assumido um papel discreto, mas convicto, nesta matéria. “A Igreja Católica está não só preocupada, está engajada, está comprometida intensamente e a qualquer preço pelas negociações pela paz”, diz o sacerdote, acrescentando que agora, na segunda quinzena de Julho, e em Agosto e Setembro, estão já agendados encontros em Palma – onde alegadamente ocorreu o massacre –, Mocímboa da Praia e Macomia, com cerca de meia centena de lideranças religiosas de organizações muçulmanas e cristãs. Em cima da mesa está a divulgação do ‘Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz’, assinado em Abu Dabhi pelo Papa Francisco e pelo Grão Imane de Al-Azhar. O Padre Roca é pároco de Mahate, um bairro que se confunde com uma favela e que foi precisamente o local onde nasceu a insurgência que transformou Cabo Delgado numa zona de guerra.

Rever os números do terrorismo

Os ataques terroristas que têm espalhado medo e morte em Moçambique, nomeadamente nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula tiveram início em Outubro de 2017. Até ao momento, já terão morrido – segundo dados oficiais – cerca de 4 mil pessoas havendo ainda mais de 1 milhão de deslocados. No entanto, estes dados terão agora de ser revistos pois será necessário acrescentar mais cerca de 1300 mortos em resultado da investigação do jornalista norte-americano Alex Perry ao que, tudo indica, terá sido o massacre de Palma. Moçambique é um país prioritário para a Fundação AIS que tem disponibilizado ajuda para a Igreja local nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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