A Igreja Católica da Nicarágua continua debaixo de ataque das autoridades com a detenção, nos últimos dias, de pelo menos três sacerdotes, o congelamento de contas bancárias em algumas dioceses e pelo menos um caso de profanação de uma capela em honra de Nossa Senhora de Fátima. Há duas semanas, o governo dissolveu, juridicamente, a Universidade Católica de Manágua…

A detenção de, pelo menos, três padres e o congelamento de contas bancárias em algumas dioceses são os episódios mais recentes do ataque que as autoridades da Nicarágua têm vindo a realizar contra a Igreja Católica neste país do continente americano. Segundo o portal de notícias do Vaticano, que cita meios de comunicação locais, os três sacerdotes “foram detidos para investigação”, enquanto as contas bancárias de algumas dioceses “foram congeladas sob a acusação de branqueamento de capitais”. Um comunicado de imprensa da Polícia Nacional, divulgado sábado, 27 de Maio, dá conta de que foram iniciadas “investigações que levaram à descoberta de centenas de milhares de dólares escondidos em sacos localizados em instalações pertencentes às dioceses do país”. Segundo o Vatican News, estas acções estão a causar “prejuízos à acção evangelizadora das instituições eclesiásticas”.

Dissolução da universidade católica

Para além destas medidas repressivas dirigidas à Igreja, o governo de Daniel Ortega continua a sua campanha também contra diversas instituições da sociedade civil ligadas à solidariedade social. Depois do encerramento de inúmeras ONG’s, nomeadamente da Fundação mariana de combate ao Cancro e de dois escritórios da Cáritas, chegou agora a vez do fecho dos escritórios da Cruz Vermelha. Também a Universidade Católica da Arquidiocese de Manágua não escapou às autoridades e viu a sua existência legal ser extinta por um decreto assinado no dia 18 de Maio pelo Ministério do Interior. Encerrada juridicamente por “dissolução voluntária”, a Universidade Católica da Arquidiocese de Manágua era responsável pela formação filosófica e teológica dos seminaristas, não só locais, mas também de várias Igrejas da América Central. Anteriormente já tinham fechado portas pelo menos outras 17 universidades privadas.

Profanação de capela a Nª Srª de Fátima

Além de tudo isto, continuam a ocorrer episódios de profanação de templos. O mais recente ocorreu na madrugada de quarta-feira, dia 24 de Maio. Desconhecidos profanaram a capela de Nossa Senhora de Fátima de Campuzano, pertencente à paróquia de Santa Ana de Nindirí, em Masaya, forçando a porta, retirando o sacrário e “ultrajando as hóstias sagradas”, espalhando-as numa propriedade situada na zona. No entanto, a comunidade católica local não se deixou intimidar perante mais este ataque à Igreja. Logo no dia seguinte à profanação do templo foi celebrada uma missa como acto de reparação e num comunicado publicado na página da paróquia nas redes sociais, pode ler-se que nada demoverá a fé da população. “Podem profanar os nossos templos, quebrar as nossas imagens, mas a nossa fé continua sempre em Jesus Cristo que fez o céu e a terra. Viva Jesus sacramentado”, refere o texto. Este ataque é apenas um exemplo dos mais de meio milhar de incidentes ocorridos na Nicarágua desde Abril de 2018 da responsabilidade do regime liderado por Daniel Ortega. Segundo o relatório elaborado pela investigadora Martha Molina, que também está no exílio, ocorreram no referido período pelo menos 529 ataques, de que se destaca, até ao momento, um bispo na prisão, 37 padres exilados, 32 religiosas expulsas do país, o confisco de pelo menos sete edifícios da Igreja, nomeadamente um convento, e o encerramento de diversos meios de comunicação social católicos, incluindo rádios e televisão.

Relatório demolidor

Ao longo dos cinco anos avaliados pelo Relatório, percebe-se que a Arquidiocese de Manágua foi a mais atingida pela repressão do regime, seguindo-se a Diocese de Matagalpa – cuja bispo, D. Rolando Álvarez, está detido –, e as de Estelí e de Granada. Particularmente chocante é a constatação do que tem sido a repressão aos membros da Igreja. Durante o período em análise, registaram-se 193 ataques a religiosos [considerando-se bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas e irmãs], que incluem ameaças de morte, tentativas de homicídio, agressões, processos penais, desterro, expulsões, proibições de entrada no país ou de saídas do território e até vigilância permanente por parte das autoridades. Esta pressão sobre a Igreja materializou-se no exílio, até ao momento, de 16 religiosos, ou seja, 1 bispo, dois diáconos e 13 sacerdotes. Foram também expulsos do país o núncio apostólico e dois padres. Oito religiosos foram desterrados.

Encerramento embaixada da Santa Sé

Nem as relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Nicarágua resistiram a esta onda de ataques e de repressão. Como a Fundação AIS já noticiou, a Santa Sé deixou de ter representação diplomática com a saída, em 17 de Março, de Monsenhor Marcel Diouf, encarregado de negócios, que ocupava o lugar deixado vago pelo núncio apostólico, ou seja, o embaixador do Vaticano, D. Waldemar Stanislaw Sommertag, que tinha sido expulso do país em 12 de Março 2022. O encerramento da Sede Diplomática do Vaticano fora pedido pelo governo nicaraguense sete dias antes, a 10 de Março, na sequência de declarações do Papa Francisco a um ‘site’ argentino. Nessa entrevista, o Santo Padre falava do “desequilíbrio da pessoa que lidera” a Nicarágua, referindo-se a Daniel Ortega e descrevia o país como sendo uma “ditadura grosseira”, comparando-a à tirania soviética de 1917 e à de Hitler, em 1935.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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