MENSAGEM PARA A QUARESMA DO ANO 2023
Caminhar juntos na Esperança
«Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39)
Caros Padres, Diáconos, Consagrados e Leigos, a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, Bom Pastor, esteja convosco!
Convido-vos a refletirmos juntos, de modo sinodal, pondo em comum a minha escuta orante do que o Espírito Santo diz à Igreja de Évora, peregrina por terras do Alentejo e do Ribatejo.
Sem exclusões sintamo-nos todos Povo de Deus, assim como nos lembra o Papa Francisco na sua Mensagem para a Quaresma deste ano 2023: «A Jesus seguimo-lo juntos; e juntos, como Igreja peregrina no tempo, vivemos o Ano Litúrgico e, nele, a Quaresma caminhando com aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado como companheiros de viagem».
Conforme afirma o Plano Pastoral, conclui-se este ano um quadriénio em torno do tema da Esperança. A Missão da Igreja, enquanto reafirma que só Jesus Cristo é a fonte e a meta da verdadeira esperança, faz-nos redescobrir a nossa identidade como discípulos missionários da Esperança; por isso, o presente ano 2022/23 tem como tema “Caminhar Juntos na Esperança”, à imagem de Maria, que se levantou e partiu apressadamente.
Como não poderia deixar de ser, a Mensagem Quaresmal para este ano reflete e insere-se na dinâmica pastoral que procuramos viver.
- A Quaresma e os seus desafios
O caminho missionário que percorre Maria de Nazaré a Ain Karim é o mesmo que percorreu a arca quando David a transportou através da terra de Judá até Jerusalém (cf 2Sm 6,2). Pela mesma estrada caminhou Jesus, quando em obediência ao Pai se dirigiu a Jerusalém (Lc 9, 51). As três viagens, a da arca, a de Maria e a de Jesus, seguem todas o mesmo caminho de Deus, rumo à humanidade velha e necessitada, mas sempre grávida do Homem Novo que, pela redenção operada por Nosso Senhor Jesus Cristo, em manhã de ressurreição e em experiência de Pentecostes, se fez Povo Novo. Em Quaresma, com Ele caminharemos.
Conforme o nosso Plano Pastoral, a frase Bíblica que encerra o Quadriénio, inspirado nas orientações pastorais do Papa Francisco, propostas na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, coincide com a perícope evangélica que iluminará a próxima Jornada Mundial da Juventude: “Maria levantou-se e partiu apressadamente“. Como Igreja, sempre em partida, Maria é para nós, enquanto Mãe, a primeira discípula de Cristo, modelo e educadora, por isso eis-nos em caminhada quaresmal até à Páscoa da Ressurreição e recepção dos dons que farão de nós Homens Novos.
O Tempo Litúrgico da Quaresma, propõe-nos a conversão, através da busca da verdade e da partilha dos dons de Deus; do jejum purificador e caritativo, e sobretudo da escuta da Palavra de Deus, pela catequese mais aprofundada, que nos recordará os grandes temas batismais que nos preparam para a plena vivência libertadora da Páscoa.
Batizados na morte e ressurreição de Cristo, viveremos o mandamento novo, a única lei dos ressuscitados, seguindo o exemplo de Cristo, na sua obediência filial ao Pai e na sua dádiva total aos irmãos.
No Tempo da Quaresma, como povo de Deus, empreendemos um esforço exigente, porém libertador, que nos abre ao chamamento do Senhor e da comunidade cristã. Privando-nos dos alimentos mundanos, nas múltiplas formas que se nos apresentam, aprenderemos a saborear o pão da Palavra de Deus e da Eucaristia e a melhor dividir os bens com os irmãos.
- Permanecer em Igreja, Amar a Igreja
Perante o testemunho de Maria, a Discípula Missionária, encontramo-nos na História da Igreja, com muitos cristãos que ao descobrir o Amor de Deus em suas vidas, souberam amar com esse Amor a Igreja, Esposa e Corpo Místico de Cristo, concretizando-a e descobrindo-a em toda a Humanidade que, em muitos casos ainda procura Cristo, mesmo sem o saber.
Santa Teresa de Ávila, por exemplo, morreu ao dizer: «sou filha da Igreja»; quando ela funda o seu Carmelo, fá-lo primeiro, como resposta às necessidades da Igreja do seu tempo, pois ficara perturbada com as terríveis provações da reforma protestante e com os relatos dos conquistadores sobre os povos indígenas, tratados sem dignidade, a quem era preciso apresentar as belezas do amor de Cristo, e por isso dizia: «o mundo está a arder, não se trata de coisas de pouca importância».
São João da Cruz afirma muito claramente que o amor gratuito e desinteressado a Deus, vivido na oração é o mais proveitoso para a Igreja e do que ela mais precisa: «É mais proveitoso para a Igreja um acto de amor do que todas as obras do mundo».
Talvez seja Santa Teresa do Menino Jesus quem exprime de maneira mais bela e mais completa esta ligação entre o amor pessoal a Deus vivido na oração e o mistério da Igreja. Ela entra no Carmelo «para orar pelos padres e pelos grandes pecadores», e o momento mais forte da sua vida será aquele em que ela descobrirá a sua vocação; ela só encontrou paz quando a Escritura lhe fez compreender que o maior serviço a prestar à Igreja, e o que contém todos os outros, é alimentar nela o fogo do amor: «Sem este amor, os missionários deixarão de anunciar o Evangelho, os mártires de dar a vida… Por fim, descobri a minha vocação: no coração da Igreja, minha mãe, eu serei amor!».
- Igreja Mãe de coração aberto
Caros Diocesanos, proponho-vos a amar com o Amor com que somos amados, a amar com a fraternidade das primeiras comunidades cristãs, doando a nossa Renúncia Quaresmal às vítimas dos sismos que afetaram dramaticamente os territórios da Turquia e da Síria. Como de costume, confio a sensibilização para a Renúncia à Cáritas Arquidiocesana, aos Párocos, Diáconos, Catequistas e a todos os Agentes da Pastoral, e a recolha conseguida será enviada diretamente à Santa Sé, Roma, e colocada sobre o alto critério do Santo Padre, o Papa Francisco, para o fim indicado. Rezo com todos vós, para que esta necessidade clamorosa e urgente de partilha obtenha de todos nós uma resposta empenhada e generosa.
Que os nossos exercícios espirituais tradicionais da Quaresma, tenham sempre presente o dom da Paz para a Humanidade, as intenções de comunhão com todas as vítimas das diversas violências, incluindo violência sexual, doméstica e perseguição religiosa.
Com o Papa Francisco rezemos por uma Igreja Sinodal e pelo próximo Sínodo; com os Bispos do Sul rezemos e trabalhemos pelas vocações sacerdotais, religiosas, monásticas e matrimoniais e que a Jornada Mundial da Juventude continue a desafiar o nosso acolhimento, a nossa criatividade, compromisso responsável e oração.
Évora, 21 de fevereiro de 2023
+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora