Depois de uma violência crescente no Burquina Fasso, especialmente desde 2015, o ano de 2023 começou com um péssimo auspício com o assassinato, a tiro, dia 2 de janeiro, de um sacerdote, o Padre Jacques Yaro Zerbo, de 67 anos. A morte deste sacerdote veio acentuar o clima de medo e instabilidade que se vive neste país africano, palco constante de ataques e de violência por parte de grupos terroristas.

D. Laurent Dabiré, Bispo de Dori e Presidente da Conferência Episcopal de Burquina Fasso e Níger, diz, em declarações à Fundação AIS, que “a população está exausta e muitos lamentam a perda de familiares”. E acrescenta: “Aldeias inteiras foram destruídas e isso contribui para quebrar o espírito do povo.” Apesar das constantes notícias de ataques contra aldeias, é difícil ter-se uma percepção correcta da dimensão da violência perpetrada por grupos armados jhadistas.

O Bispo afirma, em declarações recolhidas por Amélie Berthelin , que “50% do país está ocupado e controlado por eles”. E não é difícil perceber-se a ideologia que os move. “Se alguns grupos declararam explicitamente as suas intenções, com outros bastam as suas denominações, como é o caso do Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, para se entender que pretendem explicitamente impor o Islão a todo o país, mesmo através do uso de terrorismo”, diz

Trata-se de uma ameaça global, que atinge os cristãos, mas não só. “Os terroristas querem erradicar esta sociedade livre a todos aqueles que não professam o seu próprio tipo de islamismo, incluindo os muçulmanos, o que significa que o terrorismo visa agora a sociedade como um todo”, explica o Bispo de Dori.

Consequências terríveis

O fenómeno terrorista tem tido um impacto dramático na vida das pessoas mas também da própria Igreja. “As consequências desta onda de violência perversa nos últimos sete anos foram terríveis. Do ponto de vista pastoral, não podemos mais nos movimentar como dantes. O nosso alcance é muito menor, porque os terroristas ocupam dois terços do território do Sahel. Praticamente apenas as capitais provinciais permanecem” livres.

D. Laurent Dabiré dá o exemplo da sua própria diocese. “Dori tem seis paróquias, três foram encerradas e estivemos perto de fechar uma outra neste Verão”, diz, reconhecendo que uma outra paróquia está “bloqueada”. O fecho da actvidade das paróquias é decidido muitas vezes pelos próprios fiéis que, sabendo da presença dos terroristas, “pedem que os seus padres sejam encaminhados para lugares mais seguros”.

A violência terrorista provocou também um aumento assinalável de deslocados internos, pessoas que se viram forçadas a abandonar as suas casas e aldeias partindo para outros lugares mais seguros. E a Igreja passou também a considerar isso no seu próprio trabalho pastoral. Afinal, há já cerca de dois milhões de deslocados. “Este é um momento difícil, mas veio também algumas graças nesta situação”, diz o Bispo.

“Estamos unidos. A rádio tem sido uma grande ajuda para chegar aos deslocados, e quando as comunicações são tortalmente cortadas, tentamos usar os comboios humanitários e militares para enviar mensagens escritas, curtas, aos que estão isolados, dando-lhes informações e tentando saber o que eles estão a fazer. Ocasionalmente – acrescenta ainda o prelado – conseguimos levar comida e suprimentos para as áreas isoladas através destes combios militares. Adaptamo-nos à situação da melhor maneira possível”, diz ainda o Bispo D. Laurent Dabiré.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS 

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