Acentuou-se, ao longo de 2022, o clima de forte instabilidade no Haiti. O país caribenho está mergulhado numa profunda crise institucional, económica e social, com as populações reféns de grupos armados que espalham a violência e o terror. No final do ano, os Bispos publicaram uma mensagem em que procuram chamar a atenção do mundo para a “extrema gravidade” desta situação.

A crise o Haiti é de tal forma grave que o Canadá anunciou esta quarta-feira, dia 11 de Janeiro, a entrega ao governo de Port-au-Prince de um conjunto de veículos blindados para ajudar a policia e o exército a combater os gangues, as organizações criminosas que actuam no país.

Há pouco mais de duas semanas, a 21 de Dezembro, era a própria vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, que apelava à comunidade internacional para apoiar os esforços da polícia e do exército no restabelecimento da segurança no país, para tornar possível a circulação de pessoas e bens e também da própria ajuda humanitária, junto das populações em maior necessidade.

Amina afirmava, numa reunião do Conselho de Segurança, que a violência tinha atingido “níveis sem precedentes”, e que “os abusos dos direitos humanos” passaram a ser “generalizados” ao longo do ano. A responsável apontou ainda o dedo aos gangues armados que têm procurado “aterrorizar e subjugar as comunidades”.

A agravar esta situação, já classificada como a pior emergência humanitária e de direitos humanos em décadas, o Haiti está a atravessar também uma grave crise sanitária, com o risco real de uma epidemia de cólera.

É neste contexto que os Bispos do Haiti publicaram, na véspera de Natal, uma mensagem em que procuram alertar a “comunidade internacional para a extrema gravidade da situação” no país.

E o primeiro apelo é dirigido directamente para os gangues, “os grupos ilegitimamente armados e a quem os financia”, para que “cessem a loucura assassina do ódio e do desprezo pela vida”. Num texto carregado de dramatismo, os prelados dizem mesmo: “silenciem as armas, abandonem a lógica diabólica e perversa das armas!”.

Com o país em colapso, paralisado e impotente face à violência, os bispos lembram que, “ao invés da guerra fratricida” é necessário investir na reorganização das infraestruturas, nos sistemas de saúde e de educação, bem como na mudança de mentalidade. “Chegou a hora de reformar as instituições, sobretudo a Justiça; acabar com a cultura da impunidade, causa lógica da corrupção e da violência no país; assegurar um futuro melhor, no espírito de pertença a esta terra haitiana”, pode ler-se ainda na mensagem.

Os bispos alertam ainda para outra consequência dolorosa desta crise, a emigração. “Muitas pessoas, por causa das condições insuportáveis no país, são obrigadas a se refugiar, ‘às pressas e a todo custo’, em territórios onde nem sempre são bem-vindas. Na vizinha República Dominicana, por exemplo, são submetidas a um tratamento indizível, que espezinha os princípios imperativos dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e do direito dos refugiados, sobretudo do Acordo de 1999”.

A violência que cresceu de forma imparável ao longo do ano passado não poupou sequer a Igreja. Além dos casos de sequestro de sacerdotes, houve até o assassinato de uma religiosa, a missionária italiana Luisa Dell’orto, das Irmãzinhas do Evangelho de Charles de Foucault, a 25 de Junho, na cidade de Port-au-prince, a capital haitiana.

A ajuda à Igreja do Haiti tem sido uma constante para a Fundação AIS. Só no ano de 2021, foram apoiados cerca de sete dezenas de projectos num valor global de cercas de 1,4 milhões de euros, destinados essencialmente para a aquisição de veículos para o trabalho pastoral e a formação de leigos e sacerdotes.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS

pt_PTPortuguese

Partilhar

Caro leitor, partilhe esta notícia nas suas redes sociais.