Nestes dias em que celebramos a manifestação de Jesus a toda a humanidade – Festa da Epifania – é-nos recordada uma dimensão que daí deriva para a Igreja: a sua necessária abertura universal e o seu dever de ir ao encontro de todos os homens e mulheres, nas suas circunstâncias concretas, para com eles caminhar enquanto se constitui em lugar de acolhimento, comunhão e libertação.
Cada tempo oferece particulares obstáculos a esta missão eclesial. Nos dias que vivemos é fácil apontar algumas dificuldades com que a Igreja portuguesa se confronta:
Em primeiro lugar, já o sabemos há muito, a progressiva secularização da sociedade tem levado a uma imparável perda de relevância social e cultural. Habituada a interagir com o contexto a partir de uma posição dominante e respeitada, a Igreja parece ter dificuldade em situar-se.
Esta dificuldade cresce quando à sua frente não encontra sequer oposição, mas uma progressiva indiferença à sua voz e às suas propostas.
Por outro lado, o problema da pedofilia fragilizou e debilitou, objectivamente, a autoridade da Igreja no que se refere a quaisquer temas morais. A percepção pública do que se diz é fortemente contaminada e há uma inegável corrosão da credibilidade.
Neste contexto, corre-se o risco de parecer sensato um certo apagamento acompanhado de uma reorientação para dentro.
Fecharmo-nos em nós constitui uma demissão inútil e perigosa. Inútil porque em nada resolve os problemas existentes; perigosa porque apenas agrava o isolamento e o distanciamento da Igreja em relação à vida dos nossos contemporâneos.
Ao iniciar um novo ano, seria bom ver na Igreja portuguesa uma renovada vontade de assumir, de forma descomplexada, o seu papel no espaço público. Consciente da necessária convivência com a pluralidade, com a diferença e com a oposição. Mas sem renunciar ao seu direito – e dever – de ser uma voz audível.
Há áreas que merecem uma especial intervenção eclesial. Destaco duas.
Em primeiro lugar, o sector social. Estamos assistir a uma progressiva asfixia das instituições de acção social. O sector que devia amparar e acudir aos mais desfavorecido está a ser pervertido e a deixar cair, precisamente, os que mais precisam. Tendo aí uma forte presença, compete à Igreja alertar, negociar e lutar.
Em segundo lugar, o mundo da cultura que, desde há muito, parece ter-se dado por perdido. Mas não está. Até porque onde houver beleza e criatividade, aí se há-de encontrar o dedo de Deus.
Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora