1 – Todo o Povo de Deus que peregrina por terras alentejanas e ribatejanas, neste extenso território que constitui a Arquidiocese de Évora, bem como muitos homens, mulheres e jovens que não se identificam como Cristãos Católicos, mas são pessoas íntegras e de boa vontade, unimo-nos neste último dia do ano 2022 para louvar a Deus pelo dom da vida, da vocação e do ministério concedido ao saudoso Papa Bento XVI, falecido hoje pelas 9.35 horas locais, para viver o encontro com o Bom Pastor, que como a Pedro o chamou e ordenou: “Vem e segue-me, farei de ti pescador de homens” (Mt. 4, 18-22), a fim de receber a coroa da glória, ele que soube servir como Homem Justo a causa da tolerância e da Paz e soube sempre apresentar Cristo como alicerce e coroa da humanização, junto dos mais pobres e dos sem voz.

Hoje, Sábado, Memória do Papa da Liberdade da Igreja, S. Silvestre I, último dia do ano 2022, como pastor fiel, Bento regressou da grande contenda à Casa do Pai. Paz à sua alma! Honra e Glória ao Vencedor da morte e Senhor da Vida e dos Vivos! Aleluia!

2 – Joseph Aloísius Ratzinger foi eleito sucessor de Pedro na Cátedra de Roma a 19 de Abril de 2005, contava 78 anos e escolheu como nome Bento, XVI, na sequência do Papa que acompanhou a primeira Guerra Mundial e sob cujo pontificado aconteceram as Aparições de Fátima, Bento XV. A fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina quando eram 17.40 horas locais.

No dia 24 de Abril tomou posse da Diocese de Roma, a sede onde Pedro deu o testemunho supremo do martírio, afirmando-se discípulo de Cristo, seu Senhor, dia 28 de Fevereiro de 2013. Como Papa, manteve o lema do seu episcopado: “Colaborador da Verdade”.

3 – Ordenado Presbítero conjuntamente com seu irmão George, a 29 de Junho de 1951, pelo Cardeal Faulhaber, Arcebispo de Munique, em 1952 iniciou a sua actividade docente na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Frisinga. Aí, leccionou Teologia Dogmática e Fundamental. Em 1953, defendeu como tese doutoral o argumento “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de S. Agostinho”. A fim de obter habilitação para docência em cátedra, apresentou a dissertação “A Teologia da História em São Boaventura”. A partir de 1969, passou a ser Professor Catedrático de Teologia Dogmática e História do Dogma na Universidade de Ratisbona. No II Concílio Ecuménico do Vaticano, foi “peritus” do Cardeal  de Colónia, Josef Frings. Perante algumas situações difíceis no diálogo teológico pós conciliar, no ano de 1972, Joseph Ratzinger fundou a revista “Communio”, conjuntamente com Urs von Baltasar (1905-1988) e Henri de Lubac (1896-1992).

A 25 de Março de 1977, o Papa S. Paulo VI nomeou o autor da obra “Introdução ao Cristianismo”, Arcebispo de Munique e Frisinga, elevando-o a cardeal no consistório do mesmo ano, reunido a 27 de Junho. Em 1981, o Papa S. João Paulo II escolhe o Arcebispo Ratzinger para Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé. A 19 de Abril de 2005, é eleito sucessor de S. João Paulo II, sendo o 265º Papa da História da Igreja. Desde 2016, com a morte com a morte do Cardeal Paulo Evaristo Arns, era o último cardeal vivo criado pelo Papa Paulo VI.

4 – Nesta hora de luto iluminado pela Esperança Cristã, sentimos e agradecemos o valor da estabilidade que a serenidade deste Pastor nos oferecia a todos. Era uma companhia tão silenciosa quanto presente, uma espécie de reserva moral testada e confirmada pela preciosidade da sua sabedoria.

Perito em Humanidade, iluminava as mentes e os corações com racionalidade da Fé e com a proximidade da ternura de Deus aos vazios humanos. Profundamente conhecedor do Ocidente e da Europa doentes, encetou o diálogo Fé – Cultura através das promissoras e inacabadas iniciativas “Átrio dos Gentios”. Fica para sempre registado o seu abraço ao saudoso gigante do cinema Manuel de Oliveira no contexto do seu encontro com a Cultura realizado em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, quando da sua visita pastoral a Portugal em 2010, por ocasião da celebração dos dez anos da canonização dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Mário, talvez a visita pastoral que mais marcou o seu pontificado.

As inesquecíveis celebrações litúrgicas vividas em Lisboa, Fátima e Porto, fizeram o encanto do nosso povo, que percebeu quão diferente era o homem Bento XVI, ao vivo, daquele que lhe pintavam os fabricantes de opinião pública. A visita de Bento XVI a Portugal foi uma festa e um gratificante encontro de muitos “afastados” com a Igreja. Afinal os verdadeiros sábios são os únicos a saberem falar dos grandes temas complexos e exigentes da vida com linguagem acessível e compreensível a todos.

Papa de Fátima, não só quando como cardeal Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé interpretou o Terceiro Segredo de Fátima, mas como quando, no Santuário de Fátima, com a revelação do Terceiro Segredo, nos afirmou que a mensagem de Fátima e o segredo continuavam actuais, em aberto e a ajudar a iluminar os novos tempos.

Apreciador de Mozart e seu intérprete ao piano, dizia que não o apreciava e executava apenas por motivos artísticos, mas sobretudo antropológicos: “A música de Mozart encerra todo o drama humano.” Foi esse Papa que ele tocou e compreendeu muitas vezes, iluminando-o com a Luz do Evangelho. Foi desse drama que saiu vencedor, quando com toda a Liberdade Interior a 28 de Fevereiro de 2013, perante o reconhecimento das suas limitações humanas abdicou do exercício do ministério petrino ao renunciar à Diocese de Roma.

5 – Unidos ao nosso amado Papa Francisco, acompanhemos com compromisso o seu magistério sobre os seus ensinamentos sobre a vida e obra do Papa Teólogo, bem como os seus apelos e convites à oração pessoal e comunitária por Bento XVI. Que as Paróquias incluam em todas as celebrações Eucarísticas ou da Palavra uma prece pelo eterno descanso do Papa Emérito e que no dia das suas Exéquias Fúnebres, nas Paróquias onde for possível seja oferecida a Celebração da Eucaristia em sua intenção.

6 – Nas comunidades onde é tradicional, no dia e na hora do início das suas exéquias, podem ser dobrados pelo Papa Bento XVI, os sinos “em memória de Defuntos”.

Évora, 31 de Dezembro de 2022

+ Francisco José, Arcebispo de Évora 

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