Papa afirmou, no dia 6 de novembro, que o objetivo da Igreja Católica, na gestão de casos de abusos sexuais, é “esclarecer tudo”, lamentando que nem todos os seus responsáveis tenham “coragem”.
“Estamos a trabalhar com tudo o que podemos, mas sabe-se que existem pessoas dentro da Igreja que ainda não veem claramente, não partilham… É um processo que estamos a fazer e estamos a levá-lo por diante com coragem, mas nem todos têm coragem”, referiu aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após uma viagem de quatro dias ao Barém.
Francisco assumiu que, para alguns, “há a tentação de fazer cedências”.
“Também somos todos escravos dos nossos pecados, mas a vontade da Igreja é de esclarecer tudo”, assumiu.
Um jornalista francês perguntou ao Papa os motivos de a Santa Sé não ter divulgado a condenação do bispo de Créteil, D. Michel Santier, que invocara “razões pessoais e de saúde” para renunciar ao cargo, em janeiro de 2021, mas que teria sido julgado por abuso de dois jovens adultos no início dos anos 90 do século passado.
Já em setembro, após investigação de um jornal holandês, o Vaticano informou pela primeira vez que impôs “restrições disciplinares” a D. Carlos Ximenes Belo, antigo administrador apostólico de Díli, a partir de 2020, após ter recebido acusações contra o bispo emérito.
Questionado sobre a não divulgação pública das sanções canónicas, Francisco afirmou que a Igreja Católica está “determinada” e “começou a trabalhar, enquanto na sociedade e noutras instituições normalmente se encobre”.
“Nos últimos meses recebi duas queixas sobre casos de abuso que tinham sido encobertos e não foram bem julgados pela Igreja: pedi imediatamente um novo estudo e agora um novo julgamento está a ser feito; há também isto então, a revisão de julgamentos antigos, que não foram bem feitos”, exemplificou.
O Papa sustentou que “agora tudo é claro” e estão a registar-se avanços, pelo ninguém se “deve surpreender que casos como estes surjam”.
“Agora não é fácil dizer ‘não sabíamos’ ou ‘era a cultura da época e a cultura social continua a ser a de esconder’”, advertiu.
Francisco destacou que o problemas dos abusos sexuais acontecem “em todos os lugares”, a começar pelas famílias ou o próprio bairro, algo que considerou “muito grave”, dado que na maior parte dos casos “tudo é encoberto”. “
“Alguns dizem que somos uma pequena minoria, mas (eu digo): se fosse um único caso, mesmo assim seria trágico, porque sacerdote tem a vocação de fazer as pessoas crescer e ao comportar-se dessa maneira, destrói-as”, declarou.
“Para um sacerdote, o abuso é como ir contra a própria natureza sacerdotal e contra a própria natureza social. Por isso, é uma coisa trágica e não devemos parar, não devemos parar”, disse.
O Papa elogiou o trabalho da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores, liderada pelo cardeal O’Malley, arcebispo de Boston (EUA), admitindo que, ao longo das últimas décadas, nem sempre o tratamento das acusações foi igual e “algumas coisas foram escondidas”.
“Fazemos o que podemos, somos todos pecadores, sabe? E a primeira coisa que temos de sentir é vergonha, a vergonha profunda disso”, indicou.
A Igreja, acrescentou Francisco, deve dar “graças a Deus pelas coisas boas que faz” e pedir perdão pelos seus erros.
“Isto posso dizer: temos toda a boa vontade de seguir em frente, também graças à vossa ajuda”, referiu aos jornalistas.
OC – Agência ECCLESIA