Violência nas ruas, protestos das populações, aumento do custo de vida, assaltos e insegurança. Para Helen La Lime, responsável pelo escritório da ONU no Haiti, o país caminha para “uma situação de catástrofe humanitária”.

Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, no dia 26 de Setembro, Helen Lime traçou um retrato preocupante deste país onde cerca de 5 milhões de pessoas precisam de ajuda para a sobrevivência no dia-a-dia, e em que os próprios armazéns das Nações Unidas foram alvo de ataque de grupos armados perdendo-se assim cerca de 200 mil toneladas de alimentos.

Mas não é só a ONU que tem sofrido com os ataques dos grupos armados, dos gangues que pululam nas grandes cidades, nomeadamente na capital, Port-au-Price. Há cerca de três semanas, instalações da Igreja, nomeadamente da Cáritas, do Serviço Jesuíta aos Refugiados, e dos Salesianos, foram também assaltadas.

A onda de violência e os protestos das populações têm vindo a crescer desde que o primeiro-ministro anunciou, no início do mês passado, um aumento considerável [quase para o triplo] do custo dos combustíveis, o que teve um impacto imediato no preço dos transportes e em muitos produtos básicos, e agravou a situação de insegurança alimentar que atinge já cerca de 40 por cento da população.

Desde então, as cidades tornaram-se palco de confrontos, havendo barricadas, bloqueio de ruas, e muito medo. Um missionário, citado pela agência Fides, dizia que “tudo está fechado”. “Estamos cercados de violência e não há água, combustível ou comida”, disse o religioso, acrescentando que, tendo-se chegado a esta situação, “as pessoas roubam para comer”.

A situação de insegurança agravou-se no Haiti com o assassinato, no ano passado, do presidente Juvenal Moïse. A onda de violência, que parece imparável, não tem poupado nada nem ninguém.

Ainda no passado mês de Junho, uma religiosa italiana, das Irmãzinhas do Evangelho, seria assassinada na sequência de um assalto. A Irmã Luisa Dell’Orto ia fazer 65 anos quando foi atingida a tiro. Conhecida de todos como o “anjo das crianças de rua”, a irmã estava no Haiti há duas décadas.

O Papa Francisco falou dela e lembrou o exemplo da sua vida, a dedicação aos outros, em especial das crianças de rua.

“Há 20 anos a Irmã Luisa vivia lá, [no Haiti], dedicada acima de tudo ao serviço das crianças de rua. Confio a sua alma a Deus e rezo pelo povo haitiano, especialmente pelos pequenos, para que possam ter um futuro mais sereno, sem miséria e sem violência”, disse o Papa, no dia 26 de Junho, após a oração do Ângelus e horas apenas após o seu assassinato. Francisco acrescentou ainda que “a Irmã Luisa fez de sua vida um dom para os outros, até ao martírio”. A morte da irmã, os raptos constantes de pessoas, inclusivamente sacerdotes, veio demonstrar que o Haiti está a atravessar um tempo de insegurança quase total.

Um pouco antes, em Maio, o Arcebispo de Cap-Haïtien, D. Launay Saturné, denunciava, em declarações à Fundação AIS, a inoperância das autoridades. “A deterioração desta situação deve-se à multiplicação de gangues armados, aos constantes casos de rapto, à insegurança omnipresente, à inflação, especialmente ao aumento dos preços dos bens essenciais, aos incidentes sangrentos e a uma avalanche de distúrbios e actos de crueldade.” E acrescentou: “Ninguém é poupado. Estamos todos expostos”.

Apesar desta situação dramática, a Fundação AIS está presente no Haiti. Só no ano passado foram apoiados cerca de 70 projectos, especialmente relacionados com a aquisição de veículos para o trabalho pastoral da Igreja e para a formação para leigos e sacerdotes.

Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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