Os cristãos iraquianos estão determinados a recuperar o património destruído ou subtraído na sequência da ocupação das terras onde viviam pelos jihadistas do Daesh, o grupo terrorista Estado Islâmico, assim como a restaurar a própria vida da comunidade. Esta é uma das principais conclusões da viagem ao Iraque de John Pontifex, do secretariado britânico da Fundação AIS. A viagem, que decorreu em Março, levou Pontifex, responsável pelo gabinete de comunicação da AIS do Reino Unido, não só a Bagdade, a capital iraquiana, como, e muito especialmente, a algumas das principais cidades e vilas na Planície de Nínive, onde historicamente os Cristãos têm vivido. Ankawa, Baghdeda, Karamlesh e Batnaya, foram algumas dessas localidades que testemunharam, a partir de Agosto de 2014, um dos mais violentos ataques alguma vez registados contra a comunidade cristã nos tempos recentes.
Após o regresso, John Pontifex publicou uma mensagem onde fala dos momentos mais significativos da viagem e em que reflecte sobre a importância da ajuda de instituições como a Fundação AIS para que os Cristãos possam manter viva a esperança enquanto comunidade relevante no Iraque. Uma relevância que precisa de ser restaurada após a ocupação, durante cerca de dois anos, das terras cristãs pelos jihadistas e o exílio forçado de milhares de famílias nesse Verão de má memória de 2014.
“Reivindicar aquilo que perderam”
“O que temos de recordar é até que ponto a comunidade cristã foi dizimada pela presença do ISIS [ou Daesh] durante os dois anos em que estiveram no Iraque, na planície de Nínive. Durante esse tempo ocorreu um genocídio de proporções enormes e esforços orquestrados para eliminar a presença cristã”, afirma Pontifex no início da sua mensagem publicada na página da Fundação AIS no Reino Unido. “Aquilo que se verificou desde então, e que eu pude testemunhar em primeira mão, foi a determinação de novos, velhos, sacerdotes, religiosas, leigos, para reivindicar aquilo que perderam, para reconstruir aquilo que foi destruído e para restaurar a fé que foi, e continua a ser, essencial para toda a sua experiência como cristãos naquele território”, acrescentou, o responsável.
Batnaya está a regressar à vida
A viagem de 13 dias ao coração da comunidade cristã levou John Pontifex a querer partilhar as suas impressões, as memórias mais significativas, os encontros com pessoas comuns, simples famílias cristãs, mas também sacerdotes, irmãs, bispos… Todos lhe falaram da crueldade dos jihadistas, da violência brutal que eles protagonizaram, mas também exprimiram a vontade de se virar a página. Como destaque de toda a viagem, Pontifex escolheu Batnaya, “uma aldeia cristã na periferia da planície de Nínive e que foi, provavelmente, a mais devastada das cerca de 14 cidades e aldeias cristãs” após a passagem pela região do ‘ciclone’ de terror dos extremistas islâmicos. Batnaya, diz o responsável da AIS, é hoje sinal dessa violência, “não restando pedra sobre pedra”, mas está a regressar à vida. “A Fundação AIS tem estado na vanguarda do esforço por reconstruir a igreja, a capela, as escolas, as creches, o convento… Quando lá estive pude ver que estão prestes a concluir a principal missão de reconstruir a Igreja de Santo Kyriacos. Foi aí que vimos o ‘slogan’ deixado pelo ISIS: ‘Matem os cristãos. Eles merecem morrer’. E, contudo, era precisamente nesse lugar que estavam a reconstruir a Igreja…”
O exemplo da irmã Grace, em Ankawa
A par desta vontade colectiva de um povo, neste caso dos Cristãos de Batnaya, em recuperar o que já foi seu, John Pontifex escolheu outro momento memorável para a sua viagem ao Iraque. Foi em Ankawa. Foi quando conheceu uma religiosa, a Irmã Grace. “Julgo que foi no final do nosso último dia, quando já estávamos todos preparados para regressar a casa e ainda tínhamos uma última visita às Irmãs da comunidade em Ankawa. Foi lá que conheci a Irmã Grace. Já a tínhamos visto antes a orientar a catequese de um grupo de jovens e ensinando-lhes salmos cristãos. Essa foi a oportunidade que eu tive de lhe falar e ela contou que há muitos anos, em 2003, tinha fugido do Iraque, e que encontrou o seu caminho aos poucos e foi para a Austrália, para Sidney, e começou uma nova vida e tornou-se secretária num gabinete de advogados. Ela percebeu que Deus a estava a chamar para regressar às suas raízes, a regressar a Bagdade, ao Iraque. Não encontrou um caminho para Bagdade, mas sim para Ankawa, o bairro cristão”, conta Pontifex. “E lá estava ela, nessa região do Iraque a ensinar a fé, a convidar as pessoas a levar a sua fé mais seriamente, como jovem que é, cheia de música, cheia de esperança e com o coração em festa, alguém com um dom único para demonstrar a esperança que os Cristãos têm no futuro. É uma verdadeira maravilha que a Fundação AIS esteja a apoiar as Irmãs e o trabalho de catequese que a Irmã Grace orienta”, acrescentou.
“Obrigado, benfeitores da Fundação AIS”
Na mensagem vídeo de partilha sobre a viagem ao Iraque, John Pontifex faz questão de agradecer aos benfeitores da Fundação AIS que, com a sua generosidade, têm permitido aos Cristãos iraquianos olhar para o futuro com esperança. Uma esperança que passa pela recuperação do património destruído, as casas, as igrejas, as escolas… “Os objectivos prioritários têm sido as escolas, as igrejas, as casas e outros alojamentos. Esse trabalho ainda continua. Ainda há uma necessidade urgente principalmente de escolas. Muitas das escolas que têm sido construídas em Ankawa, a área em Erbil de onde tantos cristãos fugiram, precisam de estruturas mais permanentes, pois na sua maioria são caravanas. A Fundação AIS sabe que para se criar um ambiente escolar adequado são necessárias estruturas apropriadas. Essa é a uma das nossas principais prioridades”, explica John Pontifex. A outra prioridade é o apoio pastoral. E há também, destacou o responsável de comunicação e informação da AIS do Reino Unido, o apoio aos sacerdotes que estão em missão em regiões consideradas como pouco seguras, como em Mossul, por exemplo. Dirigindo-se directamente aos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre, Pontifex agradece tudo o que foi feito, todo o apoio que foi dado e que permitiu que se mantivesse vivo “um dos maiores vestígios históricos da comunidade cristã no mundo”. Tão ou mais importante do que isso é a “esperança no futuro” que se oferece a todas estas famílias que tanto sofreram nos últimos anos.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt