Agrava-se a situação na Diocese de Fada N’Gourma, situada na região oriental do Burkina Faso, e que tem estado na mira nos últimos seis meses por parte de grupos radicais islâmicos. Em consequência das ameaças de novos ataques, cinco paróquias foram mesmo forçadas a encerrar por completo as suas actividades e o seminário de San Kisito teve de ser transferido para a capital regional, por segurança.

De acordo com um relatório enviado à Fundação AIS Internacional pela Diocese de Fada N’Gourma, os roubos e assassinatos aumentaram significativamente no decorrer deste ano, com destaque para cinco das dezasseis paróquias, que foram alvo de ataques e tiveram mesmo de fechar por questões de segurança. Mas em outras sete paróquias, a actividade da Igreja está muito condicionada pois os grupos armados bloqueiam a maioria das estradas, controlam as rotas terrestres e têm destruído as redes de comunicação. Por causa disso, os sacerdotes estão impossibilitados de viajar e de contactar também com os seus paroquianos. Nas restantes aldeias da diocese, a circulação de pessoas é muito limitada também.

Segundo as informações prestadas à Fundação AIS, até Setembro do ano passado apenas cerca de um terço do território diocesano estava acessível ao trabalho pastoral da Igreja, o que correspondia a 155 das 532 aldeias. Em Abril deste ano, o número de aldeias acessíveis já havia decrescido para apenas 29, o que representa menos de seis por cento do total.

A violência jihadista, que afecta o Burkina Faso desde 2015, está na origem desta situação, mas agravou-se a partir de 2019. E as comunidades cristãs passaram a ser um dos alvos dos terroristas, com assassinatos, rapto de pessoas e a destruição de propriedades. O roubo de gado passou a ser uma ocorrência comum.

O brutal ataque, no domingo, 3 de Julho, na aldeia de Bourasso, em Nouma, no noroeste do país, em que 14 pessoas foram mortas defronte da Igreja, é apenas um dos mais graves incidentes de que há registo em tempos recentes. Nesse domingo, homens armados entraram na aldeia já de noite, transportando-se aos pares, em motos, e dispararam sem contemplações para as pessoas que estavam reunidas em frente ao largo da igreja. “Foi aterrador”, descreveu à Fundação AIS um sacerdote que, por questões de segurança, não pode ser identificado. “Depois, foram para o centro da povoação e mataram outras 20 pessoas, entre eles muitos cristãos e seguidores da religião tradicional africana.”

Com todos os ataques e toda a violência, ninguém parece estar a salvo dos grupos armados que espalham morte e terror no Burkina Faso. Mesmo os idosos. Há mais de 110 dias que se desconhece o paradeiro de Suellen Tennyson, uma irmã norte-americana de 83 anos de idade, sequestrada a 5 de Abril no norte do país.

A religiosa, que pertence à Congregação das Irmãs Marianitas de Santa Cruz, estava em casa, na paróquia de Yalgo, juntamente com a sua comunidade, quando homens armados invadiram as instalações e a “arrastaram” dali para fora, como descreveu, na ocasião, o Bispo de Kaya. “Antes de deixarem o local – disse D. Théophile Naré –, os assaltantes destruíram os quartos e danificaram o veículo da comunidade.”

No Relatório que a Diocese de Fada N’Gourma enviou à Fundação AIS, um sacerdote local descreve a forma de actuação dos terroristas, que invadem aldeias e localidades de maior dimensão quase sempre sem a oposição das forças da ordem. Em 28 de Fevereiro deste ano, referiu o sacerdote, a Câmara Municipal e a esquadra de polícia da cidade de Tambaga, na parte oriental da diocese, foram incendiadas. Durante alguns dias, os terroristas cercaram o mercado e tomaram conta das ruas. Os habitantes da cidade foram levados para a mesquita e foi-lhes pedido para se converterem ao Islão. “Depois, incendiaram a escola católica local, a escola pública e uma escola privada”, acrescentou o padre, que conseguiu escapar da aldeia ao fim de alguns dias.

Em muitas partes da diocese, os sermões islâmicos tornaram-se algo comum, mas todas as outras práticas religiosas foram proibidas. Em algumas aldeias, os militantes jihadistas permitem que as capelas estejam abertas aos fiéis, mas procuram assegurar, por exemplo, que homens e mulheres estejam em lugares distintos nos templos.

Com o agravamento das condições de segurança, muitas pessoas têm abandonado as suas casas e as suas aldeias, refugiando-se nas localidades onde há uma presença mais visível do exército, como é o caso de Matiakoli, cuja igreja paroquial passou a encher-se de fiéis aos domingos.

Em 2021, a Fundação AIS financiou um total de 75 projectos no Burkina Faso. Na Diocese de Fada N’Gourma, por exemplo, foi apoiada a construção de uma escola e distribuídas bolsas de estudo para crianças deslocadas. Além isso, houve uma forte aposta na formação de seminaristas, e na ajuda de emergência para agentes pastorais e a construção de uma sala de reuniões destinada para a formação catequética de deslocados internos.

Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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