As manifestações doentias com que muitas pessoas pintam os seus dias e transformam num inferno a vida dos seus mais próximos têm raíz no subconsciente. Para entender minimamente as suas reações, é necessário fazer exames de subconsciência, recorrendo à Psicologia clínica para que se tornem percetíveis as maquilhagens de que se encobrem. Essas pessoas maquilham a alma, não com vontade expressa de enganar, mas tão-somente para que se lhes dê mais atenção. Estamos a falar de pessoas necessitadas de carinho, por serem sentimentalmente estranhas e emotivamente exageradas. Sempre a lamuriar-se, nunca estão contentes com nada nem com ninguém. Tudo lhes corre mal, só aos outros é que a sorte sorri. A sua vida não tem cor nem calor, nem incentivos nem atrativos, pelo que recorrem a todos os estratagemas para darem nas vistas. Como nem sempre o conseguem naturalmente, conseguem-no inventivamente… pela negativa. Se os outros têm alguma doença, elas também têm, em grau e quantidade muito superiores. Se os outros se queixam deste ou daquele mal, elas nunca ficam atrás! Sem querer, estão a dar razão aos que afirmam que uma mania é pior que uma doença! E, com este estratagema, lá vão conseguindo a atenção que procuram. O modo de ser destas pessoas esquarteja-me a alma e leva-me a pensar quais serão as razões, reais ou fantasiosas, que podem estar por detrás de tais comportamentos. Será desgaste emocional, desequilíbrio psicológico, encarceramento sentimental? Não sei. Só sei que há muita gente cuja principal atividade é queixar-se dos seus males. Têm quase tudo para serem felizes, mas não se adaptam! São pessoas duma sensibilidade refinadamente apurada. Parecem caixas registadoras a ruminar longamente as suas recordações; são sismógrafos a acusar o mais insignificante abalo; são aparelhos de raios-X que penetram as disposições íntimas e os pensamentos secretos da alma. Lá bem no fundo, são pessoas infelizes e não sabem como sair daí, apesar de quererem ser felizes. E era tão fácil! Bastava que procurassem agir de modo a que o mundo ficasse em melhores condições do que as que existiam quando nasceram. Bastava que quisessem resgatar ao menos uma pessoa amiga dos condicionalismos injustos ou transviados em que se afundara. Mas qual quê! Quem não se esforça em fazer algo por si, pelos seus e pelos outros, esse será sempre infeliz, sem características altruístas. Está em causa a falta de hábito em descobrir as razões da felicidade que se encontra no pensar, no agir e no sentir. No pensar o que é belo, nobre e verdadeiro. No agir em todos os terrenos da personalidade e em todos os momentos da capacidade, produzindo necessariamente a habituação de saborear esse bem. No sentir que à sua volta há outros seres necessitados, para quem é urgente o sorriso pronto, a ajuda eficaz e o conselho amigo. Talvez seja por isso que algumas pessoas se refugiam na religião por saberem que, ao menos aí, encontram sempre alguém que as escuta, as aceita, as ama. Ao seu lado vivem os altruístas que em tudo encontram razões para se darem, ser generosos, ser alegres.
Manuel Maria Madureira, diretor