Monsenhor Victorinus Youn Kong-hi, de 97 anos de idade, Arcebispo Emérito de Gwangiu, acredita que a Igreja Católica continua a crescer na Coreia do Norte, apesar da brutal perseguição do regime comunista liderado com punho de ferro por Kim Jong-un. A afirmação do prelado, que nasceu numa aldeia no Norte a península, é significativa pois ele será, seguramente, das pessoas que melhor conhece a realidade do mais fechado país do mundo.

A referência à existência de uma comunidade católica em crescimento na Coreia do Norte surge num livro, agora publicado, com oito entrevistas de Youn Kong-hi ao escritor Kwon Eun-jung. No livro, “A História da Igreja na Coreia do Norte”, o Arcebispo recorda que a vida da comunidade católica era muito significativa antes da divisão da península coreana.

De facto, a região era um protectorado japonês desde 1905. Com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, a península foi dividida pelos Estados Unidos e a então União Soviética, dando origem a dois países: Coreia do Norte e Coreia do Sul. Daí até à guerra foi um pequeno passo. O conflito armado, de extrema violência, duraria entre 1950 e 1953, altura em que as duas partes assinam um armistício, colocando a fronteira no famoso paralelo 38.

Desde então, os dois países passaram a desenvolver-se em esferas totalmente opostas. Se a Coreia do Sul é hoje uma próspera nação, com uma das economias mais desenvolvidas do mundo, a Coreia do Norte, comunista, é um dos países mais herméticos, sendo governado pela dinastia Kim.

Uma das primeiras consequências da divisão do país foi a expulsão dos elementos da Igreja que se encontravam no norte da península. Victorinus Youn Kong-hi, então um jovem seminarista, recorda isso no livro. Estava no seminário beneditino de Tokwon, perto da cidade de Wonsan, quando a região foi tomada pelas forças comunistas.

Forçado a fugir, chegou a Seul, capital da Coreia do Sul, em Janeiro de 1950. Pouco depois, seria ordenado sacerdote. Anos mais tarde, conseguiria deslocar-se a Pyongyang, em 1985, e encontrou-se com um irmão e uma irmã, numa iniciativa de boa vontade para a aproximação de famílias divididas pela guerra.

Seria ordenado Bispo de Suwon em 1963 e Arcebispo de Gwangiu em 1973. Durante seis anos, entre 1975 e 1981, D. Victorinus Youn Kong-hi foi presidente da Conferência Episcopal da Coreia.

Agora, com a publicação do livro em que procura ajudar a escrever a história da Igreja na Coreia do Norte, o Arcebispo Emérito de Gwangiu volta a alertar o mundo para a existência de uma Igreja Católica clandestina neste país, apesar da brutal repressão que as autoridades desde sempre exerceram sobre a comunidade cristã.

D. Victorinus fala numa Igreja que continua a “crescer escondida, como as árvores do seminário de Tokwon”, e, usando uma linguagem metafórica, diz que se as “árvores brotam novos rebentos em cada galho a cada ano, assim também crescem os católicos que se escondem em algum lugar no norte”.

A questão da liberdade religiosa na Coreia do Norte está quase sempre presente quando se fala neste país. No mais recente Relatório sobre a Liberdade religiosa no Mundo, publicado em Abril do ano passado pela Fundação AIS, refere-se que os norte-coreanos “são obrigados a demonstrar total devoção à dinastia Kim no poder”, e que o regime classifica os cristãos como “hostis” e olha para eles “como agentes estrangeiros”, pelo que “a prática do Cristianismo é tratada como um crime político”.

A tal ponto vai esta obsessão – pode ler-se ainda no documento da Fundação AIS, que a propaganda norte-coreana já chegou a comparar os missionários “a vampiros”. Segundo a organização Open Doors, em 2020 existiriam na Coreia do Norte entre 50 mil a 70 mil pessoas presas por serem cristãs. Todos os que forem descobertos serão “deportados para campos de trabalho como criminosos políticos” e as suas famílias “também partilharão o seu destino”.

As palavras do Arcebispo, que relançam o tema da existência de uma comunidade cristã na Coreia do Norte apesar da repressão do regime, trazem consigo uma preocupação adicional face às notícias de que o país está a viver um grave surto de Covid19. Segundo dados revelados na semana passada pelas Nações Unidas, este surto pode vir a ter um “impacto arrasador” no país, temendo-se as consequências também ao nível dos direitos humanos.

A ONU mostra-se particularmente preocupada com as populações que vivem nas áreas rurais, mais isoladas, mas também com os “detidos que correm o risco de infecção devido às altas concentrações de pessoas em espaços confinados e ao acesso limitado à higiene e aos cuidados de saúde”. Na ONU News de 17 de Maio, pode ler-se que “a desnutrição já era generalizada em locais de detenção antes do inicio da pandemia”, o que faz aumentar os sinais de alarme face à existência de uma considerável população prisional cristã no país.

A Fundação AIS acompanha a questão coreana com particular atenção. Em 2017 houve um momento de oração muito especial no edifício existente na fronteira entre as duas Coreias. Protagonizado por D. Sebastian Shaw, que liderava uma delegação da instituição, e de que fazia parte, entre outros, o secretário-geral internacional Philipp Ozores, o Arcebispo de Lahore rezou pela reconciliação entre os dois países, para que “as pessoas possam viver em paz e harmonia e sem medo” da ameaça nuclear.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS

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