Os espetáculos são escolas que muito contribuem para a “normalidade ética” dos portugueses. Os artistas são ídolos e os que vão aos espetáculos são seus imitadores e fãs. O problema é que, por vezes, essa “normalidade ética” não é nada “ética”, porque muitos espetáculos são verdadeiros veículos da droga e todos sabemos que essa é uma forma cruel de violentar os “aprendizes”, confrontados com falsos valores e com ideais desarticulados e contraditórios. Diga-se, em abono da verdade, que o mal está a montante, está nas políticas que despenalizam o vício e, logo a seguir, se esforçam por criar estruturas para ”compor” o que estragam. Fruto de determinações legais apostadas em descriminalizar – com o intuito de agradar aos consumidores-eleitores – e, em simultâneo, com a anuência e concordância das redes sociais postas ao serviço das ideologias que lhes estão na base, tem havido muita influência negativa no que diz respeito às políticas das drogas, para as quais a lei somente considera que não é crime o seu consumo, não o seu tráfico, seja qual for o psicotrópico. Não nos esqueçamos de que, em face da lei geral, não há diferença entre drogas leves e drogas pesadas, mas apenas entre drogas legais e ilegais (ou lícitas e ilícitas). A descriminalização do consumo está ligada ao facto de algumas drogas – assim dizem – serem produto natural. Mas produto natural e produto inócuo não são sinónimos. O tabaco e o ópio também são produtos naturais e ninguém duvida dos riscos que comportam. A cannabis, por exemplo, considerada droga leve, contém mais 50% de componentes cancerígenos do que o tabaco e toda a gente sabe (e a Psicologia confirma) que, de experiência em experiência, se chega à dependência de drogas pesadas. Também a Ciência médica garante que fumar cannabis aumenta o risco de doença cardíaca, pode afetar a memória e a concentração, deixar o utilizador cansado e com falta de motivação, sentir ansiedade, pânico ou confusão e ter delírios ou alucinações; e, nas pessoas que possuam problemas de saúde mental subjacentes, pode até levar à esquizofrenia. Em Portugal o fenómeno do consumo de substâncias estupefacientes iniciou-se nos anos 70 por influência dos hippies. Desgraçaram-se famílias inteiras. Aumentaram os roubos, os crimes e as mortes. De imediato começaram a ser criadas estruturas para travar esse fenómeno, presumindo que, com tais estruturas, se produziria uma mudança no pensar e agir dos consumidores. Desde então até hoje foram criadas mais de 140 instituições com as suas equipas técnicas ligadas ao Ministério da Saúde através das ARS com o intuito de dissuasão da toxicodependência. Com custos altíssimos para o erário público, houve e continua a haver, felizmente, resultados positivos. Não muitos, porque, em simultâneo, se incentivou a aquisição e posse de droga para consumo próprio, tudo descriminalizado, com oferta da metadona. Perguntamos: É com a legalização dos estupefacientes que se recuperam os valores da pessoa, da família e da sociedade? Não é clara a necessidade de outra “sabedoria” capaz de tornar as pessoas mais humanas na sua consciência e na sua dignidade moral?
Manuel Maria Madureira, diretor