O rapto de crianças, jovens e mulheres, pelos terroristas em Cabo Delgado é uma questão que preocupa as autoridades moçambicanas que realizaram, no passado mês de Março, uma acção de formação destinada aos meios operacionais que estão no terreno na região norte do país.

Durante dez dias, no Batalhão de Chimoio, operacionais que trabalham no sector da segurança receberam formação sobre a prevenção e recrutamento e utilização de crianças-soldado no norte de Moçambique. O objectivo desta iniciativa, que terminou a 18 de Março, foi o de melhorar a capacidade de actuação não só dos militares mas de todos os agentes envolvidos no combate aos terroristas, sensibilizando-os para as situações particularmente graves em que se encontram as crianças.

Ainda recentemente, na segunda semana de Março, na sequência de um ataque terrorista na aldeia Nova Zambézia, no distrito de Macomia, desapareceram três menores de uma mesma família que se suspeita terem sido sequestrados pelos grupos armados que continuam activos na região.

Os jovens, segundo relatos de familiares, têm 11, 14 e 16 anos de idade. Já anteriormente, no início de Fevereiro, a Fundação AIS dava eco também da preocupação de uma religiosa que, por questões de segurança, pedia para não ser identificada e que se encontrava na região de Macomia.

Numa mensagem enviada para Lisboa, a religiosa dizia que se estava a assistir a uma nova onda de violência, havendo “o rapto sistemático de pessoas que se encontram nas aldeias e nas machambas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças”.

A questão do rapto de menores e de mulheres pelos terroristas que actuam na província de Cabo Delgado preocupa as organizações de defesa dos direitos humanos e muito concretamente a Igreja Católica.

Frei Boaventura, do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus, presente nesta região, reconhece a existência deste problema. Numa declaração enviada para a Fundação AIS na semana passada, este religioso explica que os terroristas, “quando invadem as aldeias, levam as mulheres, levam as crianças que acabam sendo treinadas lá nesses lugares e acabam sendo doutrinadas também e vivem aquilo que eles vivem lá onde estão, no mato, ou nas zonas onde se concentram para fazer os seus treinos”.

Tal como Frei Boaventura, que nos diz que “há muitas crianças e muitas mulheres que são raptadas e que são levadas” pelos terroristas, também a organização Médicos sem Fronteiras, presente também em Cabo Delgado, denunciava o sequestro, em Fevereiro, de pelo menos sete crianças receando que elas possam vir a integrar as fileiras dos grupos armados.

A questão do rapto de rapazes, mas também de raparigas e mulheres como uma consequência da violência terrorista em Moçambique – que começou em 2017 e já provocou mais de três mil mortos e mais também de 850 mil deslocados – foi tema em destaque de um Relatório produzido a nível internacional pela Fundação AIS e divulgado no final do ano passado.

O Padre Kwiriwi Fonseca, então responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, relatou que nas visitas aos centros de reassentamento, onde estão a viver as populações deslocadas, é relativamente comum encontrar pessoas que confirmam casos de raptos. “Quando fomos aos campos ponde se encontram os deslocados, as mulheres disseram-nos que os seus filhos estão agora nas mãos dos terroristas. A forma como falavam no assunto e a forma como choravam, convenceram-nos de que era verdade. Há crianças nas mãos dos terroristas”, disse o sacerdote.

Embora seja difícil de contabilizar o número de menores e de mulheres raptados pelos terroristas em Cabo Delgado, não é difícil imaginar o que lhes terá acontecido. O Padre Fonseca falou também disso para o Relatório “Oiçam os Gritos Delas”, da Fundação AIS. “Quando estão nas mãos dos terroristas”, as crianças “são envolvidas nos serviços militares, tornando-se assim seus soldados. Também lhes ensinam a doutrina islâmica e as actividades terroristas militares”. Algumas das mulheres – disse ainda o sacerdote – “são forçadas a casar com os terroristas”.

Toda esta situação tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano. A ajuda da Fundação AIS tem-se materializado nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial às populações deslocadas, mas também no fornecimento de materiais para a construção de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS

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