O terror causado por grupos armados que atacam localidades com relativa impunidade na região sudeste da Nigéria, nomeadamente na Arquidiocese de Onitsha, situada estado de Anambra, levou a comunidade cristã local a viver a Quaresma de forma particularmente intensa, marcada pelo jejum e oração.

A região, explica o Bispo de Onitsha, D. Valerian Okeke, numa nota publicada pelo Vatican News, “tornou-se o palco de uma destruição desenfreada e imoral de vidas e propriedades”. Face à dimensão desta onda de violência, a Igreja lançou um apelo “às pessoas e famílias, associações e paróquias, para que rezem o Rosário diariamente e fielmente neste período da Quaresma, para que esta nuvem de sangue que paira sobre a nossa região se desfaça como os muros de Jericó”.

Sinal desta violência, que afecta praticamente toda a Nigéria, houve um ataque, a 14 de Março, a um mosteiro beneditino no sul do país. Segundo informações recebidas pela Fundação AIS, homens armados atacaram o mosteiro e raptaram quatro religiosas, que seriam libertadas em dois momentos, primeiro uma das irmãs, e depois as restantes três já na segunda-feira da semana passada, 21 de Março.

São vários os relatos de ataques à comunidade cristã. A Irmã Esther Nkiru Ezedinachi, por exemplo, viveu um momento dramático a 24 de Fevereiro, quando o carro em que circulava, ao fim da tarde, na zona de Oko, estado de Anambra, foi atacado por homens armados. A sua história foi divulgada pelo Denis Hurley Peace Institute, que tem vindo a monitorizar situações de violência contra comunidades cristãs em África, nomeadamente na Nigéria e em Moçambique.

A Irmã Esther, que trabalha com pessoas na situação de sem-abrigo, viajava de carro com outras pessoas quando a estrada foi bloqueada por homens armados. “Começaram a disparar. Ficou um caos e as pessoas corriam, confusas.” Estavam cinco pessoas no carro com a irmã. Duas procuraram refugiar-se numa loja e foram raptadas. As restantes, incluindo a religiosa, fugiram para o mato.

“Após cerca de 30 minutos, quando deixámos de ouvir tiros e começámos a ouvir vozes normais de pessoas, nós, como muitas outras pessoas, saímos dos nossos esconderijos. Quando chegámos à estrada, vimos uma poça de sangue que, soubemos no dia seguinte, era de um professor que mataram a tiro. Algumas pessoas diziam que tivemos muita sorte, pois dispararam 4 tiros no para-brisas e partiram o vidro da porta lateral”, relata a irmã.

Este ano, no final de Janeiro, a Fundação AIS em França deu relevo à violência contra os cristãos na Nigéria em mais uma edição da Noite dos Testemunhos. Numa mensagem enviada desde a diocese de Maiduguri, uma das mais atingidas pelos ataques, nomeadamente do grupo jihadista Boko Haram, D. Oliver Doeme fez um retrato dramático de uma realidade que atingiu já uma dimensão inimaginável e teve o seu apogeu em 2014.

“Os piores ataques tiveram lugar em 2014. O Boko Haram capturou quase todos os membros da nossa diocese, que foram forçados a fugir das suas casas ancestrais. O número de católicos deslocados é muito superior a 100 mil. Mais de 25 padres foram expulsos do seu local de missão. Mais de 40 religiosas foram forçadas a fugir. Do mesmo modo, mais de 200 catequistas tiveram de fugir dos seus locais de trabalho. Mais de mil católicos foram mortos por estes terroristas”, disse o prelado na mensagem enviada para França.

Uma realidade brutal, marcada pelo rapto de muitos jovens, nomeadamente raparigas. O Bispo fez questão de recordar o caso dramático de Leah Sharibu, uma jovem cristã raptada a 19 de Fevereiro de 2018, quanto tinha apenas 15 anos de idade, e que por ter recusado renunciar à sua fé permaneceu em cativeiro até agora. “Leah, uma estudante cristã de Dapchi, foi raptada pelos terroristas há alguns anos e nunca foi libertada. A maioria das raparigas raptadas pelos terroristas casou à força com homens do Boko Haram. Temos também testemunhos de raparigas e mulheres que escaparam miraculosamente às garras destes ‘leões’. Muitos dos jovens capturados pelos terroristas foram recrutados à força para o seu exército”, disse ainda o Bispo.

Na mensagem enviada para França, para a iniciativa da Fundação AIS, D. Oliver Doeme relatou ainda a destruição colossal que os terroristas já causaram na sua diocese. “Mais de 200 igrejas paroquiais e capelas foram destruídas pelos membros da seita. Dois hospitais missionários geridos por religiosas foram completamente destruídos pelos terroristas. Eles até destruíram o nosso seminário menor e o centro catequético de formação…”

No entanto, apesar desta realidade brutal, o Bispo de Maiduguri diz que há boas notícias. Uma delas é que a Igreja continua a crescer. “Apesar de todas estas dificuldades, tenho uma boa notícia para vós, meus irmãos e irmãs, aqui presentes. É que a Igreja continua a crescer, apesar dos ataques do Boko Haram. A fé do povo torna-se cada vez mais forte. Os tiros e as bombas não impedem o nosso povo de ir à Missa com o mesmo fervor. Os terroristas podem destruir tudo no nosso país, mas não podem destruir uma coisa: a nossa fé. De facto, o nosso povo é corajoso, corajoso, e dá provas de uma forte determinação em servir o seu Deus, apesar dos obstáculos.”

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS 

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