“Muitas pessoas vieram à paróquia à procura de ajuda e abrigo, e por isso criámos instalações de emergência na cave do nosso mosteiro e na inacabada igreja do mosteiro”, explicou, no final da semana passada, à Fundação AIS, o Padre Pauline Roman Laba, no seguimento dos primeiros ataques com misseis à capital ucraniana. “Neste momento, temos cerca de 80 pessoas connosco, incluindo membros da paróquia e pessoas de edifícios circundantes”, acrescentou o sacerdote desde Bowary, um subúrbio de Kiev. “Por favor, rezem pela Ucrânia”, disse ainda na mensagem enviada para a fundação pontifícia.

Incerteza e medo são duas constantes entre os ucranianos que enfrentam desde a madrugada de quinta-feira um ataque em larga escala em todo o país por parte das forças armadas russas. Magda Kaczmarek, directora de Projectos da Fundação AIS, tem estado em contacto permanente com responsáveis da Igreja local e destaca a decisão tomada pelos “principais bispos do país” para que ninguém abandone a Ucrânia. “Esta é uma decisão difícil, sobretudo para os sacerdotes da Igreja Católica Grega, muitos dos quais são casados. Eles têm medo não tanto pelas suas próprias vidas como pela segurança dos seus filhos e famílias, explica Kaczmarek.

Nos contactos estabelecidos nos últimos dias com bispos, sacerdotes e religiosas – e muitos tiveram de passar já noites em “bunkers” –, Magda Kaczmarek ouviu relatos de tiroteios e explosões. “Não é claro [perceber] qual o alvo que vai ser atacado a seguir”, diz, recordando o sentimento de incerteza que escutou com frequência do outro lado da linha telefónica.

O Padre Pauline Laba, por exemplo, testemunhou um ataque de misseis à cidade de Kiev às cinco horas da manhã de quinta-feira, dia 24, que causou a morte a sete pessoas e ferimentos em quase duas dezenas. E esse foi apenas um ataque. Quando falou com a Fundação AIS, a cidade já tinha sofrido sete ataques levando muitas pessoas a abandonar a região rumo ao oeste do país.

Noutra zona da Ucrânia, no sudeste, o irmão Vasyl também viveu momentos difíceis. Desde uma aldeia perto de Mariupol, a apenas 60 quilómetros da fronteira com a Rússia, Vasyl disse à Fundação AIS que, por ali, ninguém teve “tempo para ter medo”, e reafirmou o propósito já anunciado de que a Igreja ficará ao lado do povo independentemente das condições. “Vamos ficar e ajudar as pessoas a sobreviver a esta situação”, afirmou.

O medo instalou-se naturalmente entre os ucranianos. A violência dos ataques, a força utilizada pelo exército russo levou muitas pessoas a procurarem apoio também ao nível espiritual. “Algumas pessoas vieram até nós para se confessarem pela primeira vez na vida”, explicou o Padre Pauline. “Pessoas mais velhas e doentes pedem-nos para irmos ter com elas para as ouvirmos em confissão. Querem estar prontas para a morte…” Também o Irmão Vasyl se tem desdobrado no acompanhamento espiritual e no apoio aos que se encontram numa situação mais fragilizada, nomeadamente procurando auxiliar a evacuação de crianças. “As crianças estão todas traumatizadas, porque tem havido tiroteios aqui nesta zona”, explica.

Outro dos contactos que Magda Kaczmarek estabeleceu logo nas primeiras horas de quinta-feira, quando as tropas russas avançaram pelo território ucraniano, foi com D. Jan Sobilo, Bispo de Saporischschja, uma diocese situada no leste do país. Originário da Polónia, o prelado reafirmou também o propósito de permanecer ao lado do povo, recusando ir para algum lugar eventualmente mais seguro. “Vim aqui para servir o povo”, disse, expressando a esperança de que a guerra possa mudar os corações, fazendo triunfar “a bondade e o amor”.

Mas, quando se está no meio de um conflito armado, não se pode prever o futuro. D. Jan Sobilo não pode saber, que consequências terá a guerra para a sua diocese, mas sabe já que a solidariedade do mundo está em marcha e sabe também que pode contar com a ajuda da Fundação AIS. “Se acontecer o pior, por favor, continuem a ajudar-nos…”

Um auxílio que foi reafirmado logo no primeiro dia da invasão das forças russas, com a Fundação AIS a assumir o compromisso de enviar uma ajuda de emergência no valor de 1 milhão de euros e que se destina, como explicou na ocasião Thomas Heine-Geldern, presidente executivo internacional da instituição, para os sacerdotes e religiosas que trabalham com refugiados, em orfanatos e em lares para idosos em todo o país.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS

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