ACTUALIZAÇÃO INTERDIOCESANA DO CLERO

SESSÃO DE ENCERRAMENTO

(Évora, 20 de Janeiro de 2022)

* Senhores Bispos;

* Senhor Núncio Apostólico;

* Caros Professores do ISTE;

* Reverendos Padres;

* Estimados Diáconos;

* Caríssimos Seminaristas;

* Ilustres Conferencistas;

Chegados ao final desta nossa Actualização Interdiocesana do Clero 2022, subordinada ao tema: “Testemunhar com audácia o Evangelho, força renovadora da Humanidade”, para além da síntese que cada um de nós deverá fazer e integrar na sua vida e actividade pastoral, creio ser oportuno deixar algumas notas, sobre aquilo que nos foi comunicado ao longo destes dias.

Antes de mais, quero agradecer, em nome do ISTE, a todos os nossos oradores, salientando, se me permitem as duas belas, profundas e interpelativas intervenções, que nos foram legadas pelo Senhor Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle.

  1. A Evangelização, vivida em dinâmica sinodal, torna-nos conscientes de que, enquanto Povo de Deus, devemos caminhar neste Mundo humildemente com o Senhor. Somos peregrinos da esperança, na diversidade e riqueza das nossas culturas e identidades, e devemos tocar as feridas dos nossos irmãos que sofrem, e cujos gritos, a partir de tantas periferias humanas e existenciais, nos interpelam e desafiam a vivermos e testemunharmos a alegria do nosso encontro com Cristo, na certeza de que só Ele pode sarar todas as feridas, e dar sentido à nossa vida, transformando os lamentos em cânticos de alegria.

Uma Igreja Sinodal é, pois, uma Igreja atenta, que escuta os jovens, aqueles que não praticam ou que abandonaram a Igreja, acolhe as suas críticas, para que elas sejam ocasião de conversão.

Uma Igreja Sinodal, mais do que refugiar-se no “conforto” das regras e dos rituais, deve amar as pessoas concretas, partindo ao seu encontro, procurando responder às suas inquietações profundas, e unindo a pastoral habitual com a missão, pois, todas as dimensões da sua vida devem ser missionárias.

  1. A Evangelização da Cultura, neste Mundo em acelerada transformação, deve ser tarefa prioritária da Igreja, que também se deve deixar interpelar por ela, tornando-se consciente de que a diversidade cultural é uma riqueza dos nossos tempos. É preciso, porém, entrar no debate em torno dos grandes temas que desafiam a Humanidade, como por exemplo, a recusa do conceito de Natureza, e a afirmação de que tudo é construção.

A atenção à realidade torna-nos mais conscientes de que existe uma “luta” com o objectivo de capturar, para posteriormente manipular, a Cultura em geral e a Arte em particular. Urge, por isso, estabelecer um “novo pacto criativo com a Cultura e a Arte” (Bento XVI): dando a conhecer as nossas actividades; desafiando os católicos que se movem nestes âmbitos a assumirem-se sem complexos; suscitando interrogações nos nossos contemporâneos, na certeza de que há no coração humano uma insatisfação, uma ânsia de plenitude e beleza, de que os artistas e as gentes da cultura, melhor do que ninguém, sabem ser “escutadores” e “portadores”.

  1. A Evangelização para ser eficaz, tem de partir do conhecimento da realidade do nosso tempo, a qual nos desafia permanentemente a levar a Boa Notícia, aproveitando as possibilidades que a comunicação social nos fornece; pelo que, é necessário melhorar a nossa comunicação, dotando-a de pessoas e meios mais capazes e eficazes, para que a mensagem seja a mais adequada possível.

O Decálogo da boa comunicação passa por: “Pensar nas relações; Escutar, mais do que Falar; Fazer por ser estimados; Medir quanto nos amam; Comunicar a partir do que se é; Ter como primeiros destinatários «os de dentro»; Reconhecer que o digital é indispensável; Chegar aos desconhecidos através dos media; Preparar as crises…porque vão vir; Estar conscientes que a comunicação faz “parte da mobília”.

  1. A Evangelização está no ADN da Igreja, supõe a pregação e o testemunho dos cristãos, deve levar ao encontro pessoal com Cristo e gerar a conversão, mas depois é necessário a integração comunitária, pois a fé necessita de ser partilhada.

Apesar das características específicas de cada época, sem repetir esquemas, podemos sempre aprender a evangelizar hoje, adaptando as Chaves da Primeira Evangelização: “Os seus agentes eram todos os crentes; O processo de conversão foi lento e progressivo; O primeiro anúncio aconteceu nos espaços da vida quotidiana; A fé era vivida em grupos e comunidades, que alimentavam e ajudavam a expressar a fé dos crentes; O estilo novo de vida dos cristãos distinguia-os dos outros.”

Somos Povo de Deus, dotado de uma riqueza e diversidade de dons e carismas; por isso, as formas de evangelização podem ser múltiplas e direccionadas para uma pluralidade de destinatários.

  1. O Concílio Vaticano II veio afirmar um novo Paradigma Eclesial: a Igreja como Povo de Deus, o qual tem como categoria eclesiológica a Koinonia, e se desdobra em diferentes níveis de comunhão: “de realidades; de pessoas; de ministérios; de Igrejas; (comunhão) Ecuménica; com outras Religiões e com toda a Humanidade; (comunhão) dos Santos”.
  2. Este novo Paradigma eclesial está na base da reforma que o Concílio Vaticano II introduziu na vida Igreja, caracteriza-se pela Sinodalidade e Colegialidade, e contribuiu ainda para o surgimento de um novo conceito de Unidade, ainda não consensual, mas que exige um esforço de atenção aos Sinais dos Tempos e uma constante abertura e escuta ao Espírito Santo, que quer conduzir Católicos, Ortodoxos, Anglicanos, Luteranos, Protestantes, Pentecostais e outros cristãos, pelos caminhos da comunhão, numa autêntica “sinfonia de vozes”, pois a “expressão da Verdade pode ser multiforme” (João Paulo II, Ut Unum Sint).

A Sinodalidade deve também marcar o caminho que juntos devemos empreender como cristãos, pois é por aí que o Espírito nos conduz; o que implica descobrir e reconhecer o que de positivo os outros são portadores, apostar num diálogo mais profícuo, na oração em conjunto, numa proclamação renovada do Evangelho e num novo compromisso missionário.

  1. É como Igreja Comunhão que devemos, num Mundo cheio de desigualdades, que precisa “mais de testemunhas que de mestres”, ser Igreja inclusiva, e assumir como nossa a Opção Preferencial pelos Pobres, afirmando a primazia do Ser Humano, acima de uma Economia Financeirista, baseada no Lucro e que “mata” (Papa Francisco), e defendendo o verdadeiro desenvolvimento que deve ser “do Homem todo e de todo o Homem” (Paulo VI, PP).

A acção social e caritativa da Igreja deve, por isso, ser expressão do amor de Deus, não se resumindo a mero assistencialismo, nem tecnocracia, antes procurando chegar às causas da pobreza, o que implica uma melhor programação, um trabalho em rede e um rejuvenescimento dos nossos agentes.

Há que aplicar ainda o Motu Proprio que nos foi entregue em 2012 pelo Papa Bento XVI, para que a Pastoral Social e Caritativa da Igreja esteja plenamente sintonizada com as orientações da Igreja Universal.

  1. Sem renovação das gerações, as nossas comunidades cristãs e a Igreja em geral, terão um futuro pouco risonho, e os dados disponíveis apontam para uma queda acentuada, no seio do universo juvenil, daqueles que se assumem como cristãos. Esta é, sem dúvida, uma emergência pastoral que nos deve despertar, para que o Cristianismo deixe de ser significativo e se torne mero elemento residual das nossas sociedades. Precisamos, por isso, de escutar os jovens, as suas inquietações e críticas, os seus silêncios e rebeldias, e não esquecer aquilo que o Santo Padre João Paulo II nos disse em 1982, quando visitou Portugal: “o jovem é um aliado natural de Cristo”.

Que a Jornada Mundial dos Jovens 2023, que estamos a preparar com a visita dos Símbolos às nossas Igrejas Particulares, seja um momento alto de viragem nas opções pastorais da nossa Igreja “que só será jovem, se os jovens forem Igreja”.

Obrigado pela vossa atenção.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário

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