Os arquitetos Álvaro Siza Vieira e Nuno Ribeiro Lopes, o ex-presidente da Câmara de Évora,
Abílio Dias Fernandes, e dezenas de moradores do Bairro da Malagueira são protagonistas do
documentário “Malagueira”, realizado por Luís Godinho, cuja estreia está agendada para a
próxima terça-feira, dia 11 de janeiro, às 18h00, no Auditório Soror Mariana, em Évora.


“A Malagueira é um projeto único, no qual a componente arquitetónica surge enquadrada por
pressupostos ideológicos. O desenho das casas e dos espaços comuns, isto é, a conceção do
próprio bairro, envolveu a participação dos futuros moradores, chamados a opinar sobre questões
como a dimensão das janelas ou a altura dos muros. Foi um projeto participado onde
rapidamente se passou da discussão sobre a tipologia das casas para o conceito de cidade. E foi
também um projeto inclusivo, na medida em que Álvaro Siza Vieira conseguiu evitar a criação de
‘guetos’ numa área com 1200 habitações, integrando a iniciativa privada com a construção social
e cooperativa”, diz o realizador do documentário.

“Mais do que a história do bairro, procurei refletir sobre as suas vivências atuais, indo ao encontro
de quem o habita e reunindo um conjunto de depoimentos de moradores, alguns recémchegados,
outros que se intitulam de ‘pioneiros’, por terem sido os primeiros a instalarem-se”,
acrescenta Luís Godinho, sublinhando que a estreia do documentário marca o início das
comemorações dos 45 anos da Malagueira, porventura o projeto “mais icónico” de Siza Vieira.

“Houve a oportunidade de, simultaneamente, estudar o plano e a tipologia [das casas]”, recorda
o arquiteto, que se deslocou a Évora, pela primeira vez, a 18 de março de 1977 para conhecer o
local onde o projeto seria implementado. As obras prolongaram-se por duas décadas, embora o
bairro continue inacabado uma vez que alguns dos equipamentos coletivos, como a semicúpula,
que deveria marcar a centralidade deste território, não chegaram a ser construídos.

“A Câmara de Évora, naquela altura, tomou a liderança urbanística a nível nacional com várias
ações. Uma delas foi a Malagueira. Outra foi a elaboração de um primeiro Plano Diretor
Municipal, que era uma coisa que legalmente não existia. Aliás, foi feito e só seis anos depois é
que entrou em vigor, quando a lei surgiu. Foi também o combate aos loteamentos clandestinos e
a classificação [do centro histórico] como Património Mundial. Foram quatro ‘linhas de combate’
que modificaram completamente a face de Évora”, diz o arquiteto Nuno Ribeiro Lopes que, à
época, colaborava com Siza Vieira, e foi encarregado de, no terreno, acompanhar o
desenvolvimento do projeto.

“Onde é que a Malagueira entrava neste processo? Por um lado, pela valorização do centro
histórico. Por outro, como alternativa aos loteamentos clandestinos. Era um loteamento
planeado, e a visão que o Siza tinha era prolongar a qualidade do centro histórico. A Malagueira
inseriu-se nesta lógica, não de combate ao centro histórico, mas de continuidade… uma oposição
aos loteamentos clandestinos”, acrescenta Nuno Ribeiro Lopes.

Tanto o documentário com uma página de internet dedicada ao bairro (www.malagueira.pt)
resultam de uma iniciativa conjunta da ALD Produções e da Associação Setespinhas, cofinanciada
pelo Ministério da Cultura, através do programa Garantir Cultura, e apoiada pela Câmara
Municipal de Évora e pela Associação de Moradores Malagueira Viva e Vivida. A direção de
fotografia é de Bruno Lino Vassalo. A produção executiva é de Ana Luísa Delgado.

Jornalista e realizador, Luís Godinho é autor de diversos documentários, entre os quais “O
Salto” (2017), premiado no Farcume – Festival de Curtas Metragens de Faro, “Aldeia
Eterna” (2016), estreado no Colóquio Internacional “Escrever e Pensar ou o Apelo Invencível da
Arte”, em Gouveia, que assinalou o centenário do nascimento do escritor Vergílio Ferreira, ou
“Cartas” (2019), produzido por ocasião dos 350 anos da publicação de “Cartas Portuguesas”.

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