Foi sequestrado no domingo, dia 29 de Agosto e libertado dois dias depois, no dia 31 de Agosto. Apesar de ter sido exigido pelos raptores o pagamento de um elevado valor de resgate, 20 milhões de francos camaronenses, cerca de trinta mil euros, o padre Agbortoko Agbor, que é actualmente o vigário-geral da Diocese de Mamfe, acabou por ser libertado sem que nada tenha sido pago.

“Agradecemos a Deus por ter mantido Julius Agbortoko Agbor seguro durante o cativeiro e por tê-lo trazido de volta são e salvo”, disse o Pe. Sébastien Sinju, Chanceler da diocese num comunicado enviado à agência Fides. O Chanceler acrescentou que o padre Abor agradeceu a solidariedade de todas as comunidades cristãs que “estiveram unidas em oração”.

O sequestro deste sacerdote é sinal da enorme insegurança que se vive neste país africano e que atinge também a própria Igreja Católica. Em 22 de Maio, o padre Christopher Eboka, director de comunicações da diocese, foi também sequestrado e libertado dez dias depois. O mesmo sucedeu em Novembro de 2018 com quatro religiosos claretianos e D. Michael Miabesue Bibi, que era então bispo auxiliar de Bamenda, estando actualmente à frente da Diocese de Buea. No ano seguinte, também o arcebispo emérito de Bamenda, D. Cornelius Esua e D. George Nkuo, bispo de Kumbo, foram igualmente vítimas de rapto.

No início de Novembro do ano passado, sucedeu o mesmo com D. Christian Tumi, arcebispo emérito de Douala, falecido em Abril deste ano. O Cardeal Tumi, de 90 anos, foi levado por homens armados a 5 de Novembro quando se encontrava em Bana, entre Bamenda e Kumbo, tendo sido libertado horas depois. Alegadamente terá sido levado por elementos ligados ao movimento independentista que procura libertar a região anglófona dos Camarões do poder central.

Esta luta pela independência tem custado um preço elevado não só em vidas humanas mas também em pobreza, deslocamento forçado de pessoas e medo nas comunidades. Calcula-se que desde 2016, mais de 3 mil pessoas foram mortas e cerca de 500 mil estão a viver fora das suas casas, das suas aldeias e vilas. São deslocados internos.

Esta questão, dos deslocados internos, é muito relevante e está a obrigar a própria Igreja a mobilizar-se no sentido do acolhimento dos que têm sido obrigados a fugir por causa da violência.

Um jovem sacerdote, que não pode identificar-se por questões de segurança, afirmou em mensagem enviada para Lisboa, para a Fundação AIS, em Novembro do ano passado, que agora, “nos Camarões, todas as paróquias devem receber as pessoas vindas das zonas inseguras e temos de estar próximos destas pessoas”. O padre acrescenta que “não é fácil” lidar com esta realidade, “porque há uma mistura de culturas e temos de nos aceitar uns aos outros”.

O problema que se vive nos Camarões é complexo mas pode tentar resumir-se à ambição da região onde predomina a língua inglesa, no sudoeste e noroeste do país, em ganhar a independência face à ineficácia do poder central que é controlado por pessoas que falam essencialmente o francês.

A ineficiência do poder face aos problemas que os cidadãos enfrentam no dia-a-dia veio agravar este sentimento de exclusão de uma parte do país que se sente menorizada pelas autoridades. O Cardeal Christian Tumi já disse, em várias intervenções, que “as razões da crise” nos Camarões “residem na má governação”.

No dia 1 de Outubro de 2017, faz agora quatro anos, grupos separatistas activos na região noroeste e sudoeste do país proclamaram mesmo a “Ambazónia”, como estado independente. O conflito ganhou enorme violência desde então, com pessoas assassinadas, raptadas, um clima de intimidação e a destruição de infraestruturas e povoações. Há registo de escolas, hospitais e aldeias incendiadas. É comum falar-se em guerra civil.

Em Março do ano passado, a Fundação AIS relatava uma operação das forças armadas dos Camarões para a libertação de um grupo de reféns num acampamento de separatistas. Entre os cativos encontrava-se uma jovem de 17 anos de idade, cuja identidade não foi revelada por questões de segurança, e que tinha sido sequestrada por rebeldes anglófonos “fortemente armados” quando se encontrava numa igreja na cidade de Mbiame.

No ano anterior, em Novembro de 2019, a Fundação AIS recebeu uma carta do Bispo de Mamfe – de onde agora ocorreu o sequestro do padre Agbortoko Agbor – onde D. Andrew Nkea mostrava a sua preocupação pelos sequestros de sacerdotes e incidentes que estavam a ocorrer na região anglófona. “A violência aumentou, trazendo mortes, perda de propriedade, grave insegurança, muitos deslocados internos e muitos refugiados que fugiram para a Nigéria”, escreveu o prelado na missiva.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS 

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