“Pedimos por eles.” A Irmã Maria Mónica Moreira da Rocha é a responsável pela Casa do Imaculado Coração de Maria, em Lichinga. Apesar dos cerca de 400 quilómetros de distância para Cabo Delgado, também ali, na província de Niassa há pessoas, famílias inteiras que fugiram da violência dos terroristas e que procuram agora refazer as suas vidas. São deslocados de Cabo Delgado.
A Irmã Mónica pertence à Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, cuja missão inclui neste momento apenas duas religiosas e quatro jovens aspirantes. São poucas mãos para tantos pedidos de ajuda.
Numa mensagem vídeo enviada para Lisboa, para a Fundação AIS, a Irmã Mónica da Rocha faz um apelo. É preciso fazer chegar ajuda a estas populações. Nos campos de deslocados de Lichinga falta quase tudo. “As necessidades são muitas, muitas, muitas… e as ajudas são poucas, nomeadamente do governo e de outras entidades”, diz a religiosa portuguesa.
Com o aproximar da época das chuvas, acrescenta a irmã, “as condições vão piorar” nos bairros onde precariamente os deslocados estão a viver. Daí, também, a urgência deste apelo. A Irmã Mónica explica que, “neste momento, só na Paróquia da Cerâmica em Lichinga, onde vivo, vivem 161 deslocados oriundos de Cabo Delgado e que estão espalhados por três bairros em casas de habitantes locais que cederam provisoriamente [o alojamento].”
A Fundação AIS tem procurado desde a primeira hora auxiliar o esforço da Igreja local no apoio às populações deslocadas, tendo concedido uma primeira ajuda de emergência no valor de 160 mil euros. A Irmã Mónica dá conta de que alguma dessa ajuda já chegou ali aos campos de deslocados de Lichinga. “A Caritas, com o valor que recebeu da AIS, segundo o que me contaram os deslocados, [entregou] por família um saco de arroz, um saco de farinha, um saco de sal, 5 barras de sabão, 5 litros de óleo e 2 quilos de açúcar…”
As irmãs estão atentas às necessidades destas famílias que estão, na sua esmagadora maioria, totalmente dependentes da ajuda que lhes façam chegar. “Nós tentamos mensalmente dar alguma ajuda em alimentos e pontualmente dar resposta a alguma necessidade que surja”, explica a responsável da Casa do Imaculado Coração de Maria. Além da alimentação, vestuário e alojamento, os deslocados de Cabo Delgado precisam igualmente de prestação de cuidados de saúde. “Uma senhora ao chegar a Lichinga ficou doente e ao ir ao hospital descobriu que tem HIV… Neste momento está muito frágil e pediu-me também leite e roupa…”
Apesar das recentes vitórias militares no combate aos terroristas e que permitiram a libertação, por exemplo, da vila de Mocímboa da Praia – que estava nas mãos dos ‘insurgentes’ há cerca de um ano –, o regresso a casa não parece ser ainda uma possibilidade em consideração.
A insegurança – explica a irmã – ainda não permite equacionar essa hipótese. “Pedimos por eles, para que todos os que de alguma forma puderem ajudar que ajudem porque realmente as necessidades são muitas e os apoios são poucos e neste momento voltar a Cabo Delgado é algo muito incerto e muito inseguro…”
Além da ajuda de emergência que a Fundação AIS já fez seguir para Cabo Delgado logo nos primeiros meses deste ano, a presença da instituição faz-se sentir em outras áreas, nomeadamente apoiando a subsistência dos sacerdotes e religiosas, financiando a formação de seminaristas e dando suporte a outros projectos relacionados com as necessidades mais prementes da vida da Igreja em Moçambique.