“Profundamente comovido.” Foi assim que D. Alberto Lorenzelli, Bispo auxiliar de Santiago, descreveu em declarações à Fundação AIS a emoção do Papa Francisco ao receber uma cruz feita de madeira da Igreja destruída e queimada durante os protestos que ocorreram na capital chilena em Outubro de 2020.
D. Lorenzelli sublinhou que a cruz oferecida ao Santo Padre no início de Julho, horas antes de ter dado entrada na clínica Gemelli, em Roma, onde foi submetido a uma operação ao intestino, tem “um significado profundo”, pois recorda “uma igreja que foi queimada”, o que deixou “uma ferida profunda” não só para a comunidade cristã “mas também para povo do Chile”.
A Igreja da Assunção, situada na capital chilena, foi um dos templos vandalizados e queimados durante os protestos que irromperam na altura em várias cidades deste país sul-americano.
Na entrevista, o prelado recordou que ao longo dos últimos anos ocorreram incidentes semelhantes em várias localidades, nomeadamente no santuário nacional de Nossa Senhora Maria Auxiliadora, que foi atacado em Junho de 2016 numa altura em que era o reitor da instituição.
No meio dos protestos, um grupo de jovens manifestantes entrou na igreja e retirou de lá uma estátua de Jesus Cristo, que depois foi destruída na rua. “Foi uma acção que chocou o Chile e todo o mundo”, disse o Bispo Lorenzelli, lembrando que na ocasião recebeu inúmeras, mais uma vez, as mensagens de solidariedade incluindo de pessoas oriundas das comunidades judaica e muçulmana.
“O que mais magoa – diz agora D. Alberto Lorenzelli à Fundação AIS –, é que eram jovens. Temos tantos jovens que perderam o sentido dos valores e esqueceram a sua história. Têm entre 16 e 20 anos e revoltam-se contra todas as instituições, contra todas as formas de autoridade. São um movimento incontrolável, sem líder, sem alguém a comandar com quem se pudesse dialogar”, acrescentou, com tristeza.
No entanto, a Igreja chilena tem recebido também manifestações de carinho de outros jovens que não se revêm nesta onda destrutiva e que têm oferecido o seu tempo procurando ajudar a comunidade cristã a ultrapassar estes momentos mais difíceis.
Sinal disso, alguns estudantes universitários da capital chilena, ligados ao ensino profissional de restauro de edifícios históricos e prevenção de riscos, decidiram contactar o pároco da Igreja da Assunção oferecendo ajuda. A eles juntaram-se outros voluntários o que permitiu arrancar com o projecto ‘Sursum Corde’ [Corações ao Alto], de avaliação dos danos causados no templo, mas também com o propósito de se proceder à limpeza do espaço e resgate de esculturas e pinturas com vista ao seu posterior restauro.
Este grupo de voluntários arregaçou as mangas e começou de imediato com a limpeza do interior da igreja, tendo resgatado, por exemplo, diversos pedaços de madeira jé meio carbonizada, mas também páginas de uma Bíblia e fragmentos das pinturas que adornavam as paredes do templo.
Foi então que surgiu a ideia de se fazer algo de simbólico que mostrasse que o amor é sempre mais poderoso do que o mal e que a violência não tem a última palavra.
Os restos de madeira foram entregues a um ourives para que os transformasse em cruzes peitorais. Uma delas foi entregue ao Bispo Auxiliar de Santiago que a enviou como presente ao Papa Francisco.
Logo após os actos de violência contra as igrejas no Chile, em Outubro do ano passado, a Fundação AIS manifestou a sua solidariedade para com a comunidade cristã deste país e avançou com uma ajuda financeira para os trabalhos de reconstrução.
Graças a essa ajuda, já foi possível reconfigurar uma sala paroquial para que os fiéis possam continuar a celebrar a Eucaristia e está a avançar um projecto de remodelação e restauro de alguns dos escritórios paroquiais para uso dos fiéis, incluindo salas para catequese e um local para a realização de funerais.
A reconstrução completa do edifício poderá demorar ainda alguns anos, uma vez que, segundo a lei chilena, o edifício é designado como fazendo parte do património nacional. De acordo com o relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em Abril de 2021 pela Fundação AIS, calcula-se que pelo menos seis dezenas de igrejas e capelas cristãs foram alvo de vandalismo no Chile desde Outubro de 2019.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS