“A situação é muito tensa. Houve repressão, até tiros.” O Padre Rolando Montes de Oca afirma, em declarações à Fundação AIS, que Cuba está a viver um momento único na sua história, depois de milhares de pessoas terem vindo para as ruas num protesto pacífico que teve início no domingo, 11 de Julho.
“Este momento significa uma explosão, uma catarse, depois de tantos anos de silêncio e resistência”, afirma ainda este sacerdote que em 2017 esteve em Fátima tendo participado na Peregrinação Internacional da Fundação AIS ao Altar do Mundo.
“Este é um protesto em que se pede liberdade, direitos e, claro, melhores condições de vida”, explica o Padre Rolando. Apesar do carácter pacífico da manifestação, houve episódios de repressão violenta por parte das autoridades a que nem os membros da Igreja escaparam.
Houve pelo menos os casos do Padre Castor Álvarez, agredido na cabeça e que esteve detido durante cerca de 24 horas, e o de um seminarista, Rafael Cruz, detido quando estava em sua casa. “Chegaram 15 militares que maltrataram o seu irmãozinho e a sua mãe. Ele esteve desaparecido por 6 ou 7 horas mas já foi libertado…”
Além destas duas ocorrências, houve ainda a detenção de vários jovens católicos que se manifestaram empunhando um cartaz onde se podia ler: ‘Viva Cristo Rei’. “Muitos deles estão presos”, esclarece o Padre Rolando à Fundação AIS.
A manifestação juntou milhares de cubanos em protesto por diversas causas. “Por um lado, está a repressão, que se intensificou muito nos últimos tempos. Pessoas são presas com longas sentenças por segurarem um cartaz a dizer ‘liberdade’, ou por dizerem o que pensam”, explica o sacerdote. “A questão da saúde [também] é crítica… é patético porque não há medicamentos, nem mesmo nos hospitais, nem coisas tão simples como aspirina ou paracetamol…não há.”
A questão da saúde é muito relevante até porque aumentaram nos últimos tempos os casos de infecções por Covid19 e o sistema hospitalar entrou em ruptura. Por outro lado, existem cortes de energia às vezes durante 5 a 6 horas, e que “provocam muito desconforto”. Segundo descreve ainda o sacerdote, “falta comida, a crise económica é brutal ao nível das famílias e as pessoas estão a sofrer muito. E no meio de tudo isto, culpa-se os Estados Unidos, culpa-se a população…”
Esta situação levou inclusivamente os Bispos cubanos a emitirem um comunicado, dizendo que “o povo tem o direito de exprimir as suas necessidades”, e apelando à reconciliação, ao diálogo sereno, à busca de soluções e à escuta, e lembrando que “a violência gera violência”, e que “não se chegará a uma solução favorável por imposições, nem por apelos ao confronto”. Para o Padre Rolando da Oca, é pouco provável que esta posição dos prelados produza algum resultado. “Duvido que eles queiram ouvi-los, é disso que falamos há muitos anos como Igreja em Cuba e nunca fomos ouvidos…”
As manifestações que encheram as ruas no domingo, 11 de Julho, são um sinal de mudança que não pode ser ignorado, diz o Padre Rolando. “Cuba precisa mudar para que os cubanos tenham vida e para que Cuba seja de todos….”
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal