A Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre conseguiu angariar, a nível global, 122,7 milhões de Euros em donativos para os Cristãos perseguidos em todo o mundo. Isto significa um aumento de 16,4 milhões de Euros, ou 15,4% face ao ano anterior. Este resultado, obtido pelos 23 secretariados nacionais da instituição – um dos quais em Portugal – é particularmente significativo tendo em conta a situação pandémica que se vive na esmagadora maioria dos países. Portugal também registou um valor inédito, ultrapassando os 3 milhões e 400 mil euros de donativos.

Esta realidade foi sublinhada pelo presidente executivo internacional da Fundação AIS, Thomas Heine-Geldern durante a apresentação do relatório anual divulgado na manhã desta sexta-feira, dia 18 de Junho, através de uma conferência via zoom, pela internet. “A pandemia não só virou de avesso o nosso próprio trabalho, como também agravou drasticamente a situação dos cristãos em muitas regiões do mundo, que se viram literalmente, quase de um dia para o outro, sem trabalho, salário ou comida. E muitos padres e religiosos também ficaram sem saber o que fazer face às despesas”, explicou o responsável.

“Nesta emergência, no entanto, os benfeitores da Fundação AIS mantiveram-se fiéis à caridade. Esta grande generosidade deixa-nos profundamente gratos”, disse ainda Heine-Geldern. “Foi bastante imprevisto, especialmente porque a crise infligiu uma profunda insegurança económica e dificuldades a todos nós. Ficámos particularmente satisfeitos por constatar que o número de benfeitores também aumentou em todo o mundo”, acrescentou.

Mais de 4 700 projectos em todo o mundo

Os donativos obtidos graças à generosidade dos benfeitores da AIS em todo o mundo – a instituição não recebe quaisquer verbas públicas – permitiram apoiar 4.758 projectos. O continente africano esteve em destaque com cerca de 32,6% do total dos projectos, o que reflecte a evolução preocupante que se está a verificar em muitos dos seus países. Thomas Heine-Geldern referiu-se também a isso. “Estamos muito preocupados, particularmente com os países da região do Sahel, onde se registou uma explosão de terrorismo. A pandemia tornou a situação dos refugiados ainda mais difícil, e em muitos casos a Igreja é a única instituição que ainda resta para apoiar estas populações.”

O apoio à Igreja em África mostra uma mudança da situação a nível global. Durante vários anos, o MédioOriente, em particular a Síria e Iraque, encabeçavam a lista dos países apoiados pela Fundação AIS. No ano passado, esta região representou apenas 14,2% do esforço solidário da Ajuda à Igreja que Sofre. “Isto teve muito a ver com a pandemia – muitos projectos de reconstrução estrutural ficaram paralisados porque era simplesmente impossível entregar os materiais de construção necessários”, explicou o presidente executivo internacional. “Mas esta região continua, no entanto, a ser profundamente importante para nós”, acrescentou.

Ásia foi outra região prioritária para a Fundação AIS, com 18% do total de ajuda em 2020. A maior parte deste esforço solidário foi para a Índia. Todo o continente foi particularmente afectado pela pandemia e, em muitos casos, a minoritária comunidade cristã ficou privada de acesso aos apoios estatais. No Paquistão, por exemplo, a Fundação AIS ajudou a providenciar, entre outros projectos, o apoio básico para a sobrevivência dos cristãos que perderam as suas fontes de rendimento como resultado da crise do coronavírus.

Construção de igrejas e veículos para paróquias

Nos vários projectos apoiados pela fundação pontifícia ao longo do ano passado, o destaque vai para o auxílio à construção. Graças à AIS, cerca de 744 igrejas, casas paroquiais, conventos, seminários ou centros comunitários foram edificados, reconstruídos ou restaurados após terem sido destruídos ou danificados, na sua maioria, em consequência de ataques terroristas ou de situações de guerra. Entre todos estes edifícios, destaque para a Catedral Maronita de São Elias, na cidade Síria de Alepo, gravemente danificada por ataques com ‘rockets’, entre 2012 e 2016. Foi finalmente reconsagrada em Julho de 2020.

A ajuda directa aos sacerdotes voltou também a estar em destaque ao longo do trabalho realizado no ano passado pela Fundação AIS. Thomas Heine-Geldern destaca também esse ponto.

“Acima de tudo, durante a crise do coronavírus, os estipêndios de Missa foram um sinal da nossa solidariedade na oração, e, para muitos padres, o seu único meio financeiro de sobrevivência. Ao todo conseguimos enviar-lhes 1,7 milhões de ofertas em missa.” Um em cada nove sacerdotes em todo o mundo beneficiou, no ano passado, do apoio directo da Fundação AIS. O mesmo sucedeu com os seminaristas. Neste caso, a proporção é ainda maior: um em cada oito futuros padres recebeu o apoio da instituição pontifícia para os seus estudos, o que se traduz numa ajuda global a cerca de 14 mil seminaristas. Também as religiosas foram apoiadas graças à generosidade dos benfeitores da Fundação AIS em todo o mundo. No ano de 2020 foram cerca de 18 mil irmãs que beneficiram de ajuda ao nível da subsistência básica, formação e apostolado espiritual.

Se os padres, irmãs e seminaristas são apoiados, isso significa que também não foi esquecida a sua mobilidade. O apoio aos transportes, que inclui também os catequistas, responsáveis tantas vezes pela ligação a comunidades religiosas em regiões quase inacessíveis, foi outra das valências da solidariedade da AIS ao longo do ano passado. Entre todos os veículos fornecidos à Igreja contam-se 783 bicicletas, 280 automóveis, 166 motociclos, 11 pequenos barcos, dois autocarros e um camião.

Máximo histórico em Portugal

Tal como ao nível internacional, também em Portugal se registou um máximo histórico ultrapassando os 3 milhões e 400 mil euros de donativos. “Este valor representa um acréscimo de esforço e de solidariedade dos portugueses dado o contexto muito adverso provocado pela pandemia da Covid19”, diz a directora do secretariado português da Fundação AIS. “A generosidade dos benfeitores da AIS é notável e ficou demonstrada uma vez mais no ano de 2020 – acrescenta Catarina Martins de Bettencourt –, não só ao nível dos donativos mas também na preocupação revelada pela situação difícil que muitas comunidades cristãs têm vindo a enfrentar no mundo por causa do aumento da perseguição religiosa.”

O apoio à Igreja em África, nomeadamente em Moçambique, por causa dos ataques terroristas em Cabo Delgado, é exemplo disso. “O que se passa em África exige a nossa maior atenção. São cada vez mais os países atingidos pelo terrorismo islâmico e a situação em Cabo Delgado demonstra como num curto espaço de tempo toda uma região fica à mercê de grupos armados, extremamente violentos, agravando a pobreza das suas populações”, diz a directora do secretariado português. “ Mas a resposta dos benfeitores, em Portugal e em todo o mundo, face à campanha lançada pela Fundação AIS, tem sido extraordinária. Face ao terror absoluto, temos uma generosidade sem limites…”, acrescenta ainda Catarina Martins de Bettencourt.

Mas houve outras campanhas, outras iniciativas que a directora da AIS em Portugal destaca também como exemplo da solidariedade ímpar dos benfeitores no nosso país. Foi o caso do Líbano, em consequência da explosão no porto de Beirute a 4 de Agosto de 2020. A Fundação AIS lançou de imediato, recorde-se, uma campanha de ajuda de emergência para este país que alberga a maior comunidade cristã do Médio Oriente. Isso permitiu fornecer ajuda alimentar básica às famílias logo após a explosão, assim como o desenvolvimento de vários projectos de reconstrução focados essencialmente no bairro cristão da capital libanesa, um dos mais severamente danificados. As reparações de igrejas, casas religiosas e até de um hospital e um convento só estão a ser possíveis graças a essa campanha que permitiu disponibilizar um total de 4 milhões de euros para o Líbano no ano de 2020. A directora do secretariado português da AIS destaca essa campanha como sinal da capacidade de resposta da instituição perante uma emergência. “De facto, a situação vivida pelos cristãos no Líbano, que atravessa uma profunda crise económica, social e política e que se agravou com a explosão acidental mas de enorme dimensão no porto de Beirute no dia 4 de Agosto, tem gerado uma onda de simpatia em Portugal, o que permitiu acelerar o envio de ajuda para este país, minimizando o sofrimento das suas populações.”

Importante também, para a directora do secretariado nacional, foi o apoio aos padres e irmãs que têm estado na linha da frente no combate à pandemia do coronavírus. “Quero também destacar a generosidade dos portugueses face a esta situação de emergência, apesar de sermos um país pobre e com poucos recursos. Mas a nossa solidariedade, de facto, não tem limites”, disse, ainda Catarina Martins de Bettencourt.

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