A luta durou mesmo até ao fim. Cumpriu-se a expectativa e o Grande Final da Volta foi emocionante, com o algarvio a fazer um contrarrelógio entre os melhores, como o momento exigia. Afinal estava a defender a liderança. Amaro da W52-FC Porto partiu em vantagem, 42 segundos separavam-no do uruguaio Mauricio Moreira (Efapel) que, em teoria, poderia ser mais forte no contrarrelógio. Previa-se 20,3 quilómetros de grande emoção. E assim foi!

Rafael Reis deu o mote ao ser o mais rápido, numa exibição que não se concentrava apenas em garantir a quarta vitória de etapa, mas também em dar indicações para o colega Mauricio Moreira. Era a Camisola Amarela Santander o grande objetivo. Moreira estava a voar, bateu Reis no primeiro ponto intermédio, mas pouco antes do segundo, a 11 quilómetros da chegada, caiu à saída de uma curva hipotecando as hipóteses de assaltar o comandante da Volta. Moreira levantou-se, continuou muito rápido e, ainda assim com o tempo perdido, realizou o segundo melhor registo a 12 segundos do vencedor. No fim estava muito combalido, a chorar e com vários vestígios de sangue sobretudo nas pernas, provocados pelos arranhões e escoriações da queda sendo assistido pela equipa médica. Mauricio Moreira de 26 anos havia de subir depois ao pódio para receber, do Regimento de Tropas Paraquedistas, o Prémio Espírito de Sacrifício.

Amaro, não sendo um especialista, acreditou sempre e fez o quarto melhor tempo batendo alguns dos principais favoritos, o que nas contas finais representaram uma diferença de 10 segundos, a vantagem com que venceu a Volta pela segunda vez consecutiva depois de em 2021 ter vencido a Edição Especial da Volta.

“É a concretização do objetivo a que a equipa se propôs. Fizemos algumas três voltas ao circuito. Todos os meus colegas diziam que era possível. Estudámos o contrarrelógio ao pormenor, ao detalhe. Tivemos sempre a confiança. Estes homens merecem. Durante o contrarrelógio houve momentos em que não tinha mais forças, mas pensava que todo o esforço que fizeram por mim tinha de ser recompensado. Esta Volta foi muito dura psicologicamente. Tivemos dias de muita tensão. Toda a gente dizia que não ia ser possível, mas acreditámos”, salientou Amaro Antunes pouco depois de efusivamente ter gritado e festejado a plenos pulmões com os companheiros da W52-FC Porto. Na hora da vitória, não esqueceu o azar que prejudicou o rival. “Quero deixar uma palavra de apreço ao Mauricio (Moreira). Teve um azar. A curva onde ele caiu fi-la umas 10 ou 15 vezes [quando estudou o percurso ponto] para me certificar que podia arriscar naquele ponto.”

O diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, destacou o sofrimento que foi a conquista deste ano. “Foi sofrer até ao fim, até ao risco da meta, mas a equipa esteve sempre concentrada. Estão todos de parabéns, fizeram um excelente trabalho. Tudo podia acontecer. Ontem (sábado) tivemos azar na Senhora da Graça, hoje foi o Mauricio. Só depois de terminar é que se pode festejar a vitória”,

Na Efapel, o diretor Rúben Pereira, não conseguiu esconder as emoções e a enorme desilusão apesar das seis vitórias de etapa e ainda o triunfo na classificação por Pontos de Rafael Reis, Camisola Verde Rubis Gás.

Já Alejandro Marque (Atum General/Tavira/Maria Nova Hotel) sorriu e muito. Aos 39 anos regressou ao pódio da Volta. Venceu em 2013, foi terceiro em 2015 e agora repetiu essa posição. Ficou a 1m 23 de Amaro Antunes.


A vitória agridoce


Rafael Reis foi uma das principais figuras desta Volta a Portugal. Quatro etapas ganhas, vestindo no final a Camisola Verde Rubis Gás. Foi mais uma vez o melhor no contrarrelógio, tal como já tinha acontecido no Prólogo, em Lisboa. Porém, o triunfo final deste domingo foi agridoce.
“Hoje o nosso principal objetivo era eu dar o meu máximo e tínhamos marcado quilómetro a quilómetro os tempos que eu ia a fazer para o Mauricio seguir. O nosso objetivo era ganhar a Volta com o Mauricio. Aconteceu que ele caiu. Estamos muito tristes com isso. Tínhamos a certeza que ele ganhava a Volta não fosse este azar”, afirmou Rafael Reis.

Pódio final

Da festa final em plena Avenida da Europa, em Viseu, com a presença de João Paulo Rebelo, secretário de Estado da juventude e do desporto, e além dos festejos azuis e brancos, é de referir também os pódios vitoriosos de Bruno Silva (Antarte-Feirense) agora definitivamente coroado Rei da Montanha com a Camisola Bolinhas Continente. Abner González, campeão de Porto Rico da Movistar, dominou por completo a classificação dos mais jovens desde a 3ª etapa e envergou a Camisola Branca Jogos Santa Casa.

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