ARCEBISPO DE ÉVORA
SAUDAÇÃO AO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Santuário N. ª Senhora de Aires – 23/07/2021
Senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa, com que alegria, com que honra, recebemos neste Santuário de Nossa Senhora de Aires, Sua Ex.ª, o Senhor Presidente da República, sendo uma visita pessoal e privada, ainda mais nos alegra, no seu escaço e precioso tempo elege a visita a um Santuário do interior alentejano, demonstrando-nos assim o seu carinho atento às nossas terras, ao nosso património, às nossas coisas, a todos nós que aqui vivemos e aqui damos a vida. Muito, Muito obrigado!
A memória e descrição dos primeiros milagres da Senhora de Aires remontam ao ano de 1582 e foram registados no Livro das Visitas de Viana de Alentejo, e copiadas por Frei Francisco de Oliveira. Data desta época a construção da primeira capela em louvor de Nossa Senhora de Aires. Construção levada a efeito, num terreno pertencente a um antigo povoado militar romano, onde terá existido com muita probabilidade um culto ao deus romano Marte, em grego Aires. A cristianização do espaço pode explicar o étimo Aires, Nossa Senhora dos bons ares.
Em 1730, o crescimento do culto motivou a confraria de N.ª Senhora de Aires, a qual presidiu à construção do novo Santuário, no ano de 1743. A empreitada decorreu até ao ano 1804, sob a orientação do Padre João Batista, um Oratoriano (1707-1762) pertencente ao Oratório de Estremoz.
Este património artístico constitui um modelo de referência da arquitectura portuguesa do século XVIII e é um dos mais importantes monumentos do barroco alentejano e nacional, construído na órbita do Real Convento de Mafra (1716-1744) e da capela-mor setecentista da Sé de Évora (1718-1746), ambos da autoria do arquitecto régio de D. João V, João Frederico Ludovice (1673-1752). Para além disso, tem uma das melhores e maiores colecções de ex-votos do país e a particularidade de o altar-mor de talha dourada, executado em 1757 pelo entalhador João de Almeida Negrão, ser concebido em forma de baldaquino, constituindo um dos raríssimos exemplares da Península Ibérica
Monumento Nacional, desde 2012, o Santuário de Nossa Senhora de Aires, mereceu, nos últimos três anos, ser alvo de um projecto de conservação, num investimento a rondar os dois milhões de euros. No dia 15 de maio, ao celebrarmos a Eucaristia de Acção de Graças pelas obras realizadas, e ao benzermos as mesmas, tivemos a honra de contar com a presidência litúrgica de Sua Eminência o Sr. Cardeal Tolentino de Mendonça, que nos deixou um enorme desafio e uma bela missão: sermos “Semeadores de Esperança”. De facto, D. José Tolentino considerou “decisivo” o processo de revalorização da Igreja, sobretudo para uma região do interior. “É decisivo, pois as periferias são fecundas e é de um lugar de paz, e os santuários têm essa grande missão, serem focos de paz, lugares que chamam, onde é possível encontrar o silêncio, a serenidade, esse restabelecimento interior”, observou.
“E a Senhora d´ Aires, neste Santuário renovado e hoje de novo aberto tem essa grande função de ser uma espécie de oásis interior na paisagem, capaz de semear sementes de esperança”.
Como atestam os inúmeros ex-votos, Nossa Senhora de Aires é a última Esperança na Fé de muitos, Ela une não só gentes de todo Portugal, mas inclusivamente das terras de Espanha.
Entre nós, Alentejo, este Santuário cruza linhas espirituais entre o alto e o baixo Alentejo, uma vez que a Diocese de Beja é uma das grandes fontes de peregrinos.
A Senhora de Aires une, congrega e reúne milhares e milhares de Romeiros, não só nas suas duas grandes festas (4º Domingo de Setembro e último fim de semana de Abril), mas durante todo o ano e todos os dias. Contada já pelos homens do Renascimento Humanista, Ela une os Portugueses, nos bons ares da fraterna solidariedade e na beleza da limpidez ecológica, que nos limpa e purifica interiormente, pois n’Ela encontramos uma respiração nova para uma vida nova.
Como muito bem V. Ex.ª sublinhou no seu discurso de tomada de posse, os Portugueses desejam «uma reconstrução que vá para além da mera recuperação». Eis a nossa missão; fazer deste Santuário uma fonte de água viva, onde todos podem beber e dela usufruir, saciando a sede que a aridez e o calor do verão destas terras, tantas vezes acentua. Ser abraço de Esperança e sinal fraterno de acolhimento. A vocação deste Santuário é tão Universal como a Maternidade de Maria, tão belamente expressa na Sua Imagem, a Mãe que oferece o Seu Filho, por todos.
Não seremos meros guardadores de um espólio espiritual e material valioso, seremos continuadores da vocação original deste Santuário: Unir os Portugueses, pela força que nos vem da Esperança.
Obrigado Senhor Presidente por estar connosco hoje fisicamente, no passado dia 15 de maio espiritualmente.
+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora