É sacerdote mas também psicólogo clínico. Fidelis Bature tem uma missão muito especial. Procura ajudar as vítimas do Boko Haram, pessoas traumatizadas após terem vivido, de alguma forma, a violência extrema causada por este grupo terrorista que tem vindo a ameaçar toda a região norte da Nigéria e alguns dos países da região.
Amara – um nome falso para uma mulher real que precisa ainda de preservar a sua identidade –, hoje com 21 anos, conheceu o Padre Fidelis depois de ter sido raptada e violada pelos jihadistas do Boko Haram. O Padre Joseph Fidelis Bature conta à Fundação AIS a sua história.
Amara estava na quinta da família, relativamente perto da cidade de Maiduguri, juntamente com os pais e irmãs quando homens armados apareceram e cercaram a quinta. Vinham todos de motociclo. Exigiram que o pai de Amara lhes entregasse as suas filhas. Ele recusou. Foi decapitado de imediato. A jovem desmaiou quando lhe colocaram a cabeça do pai nas suas mãos.
O tormento da jovem estava a começar. Foi levada para a floresta pelos terroristas. O Padre não descreve os horrores por que ela passou. Apenas diz que “Amara foi repetidamente torturada e abusada de todas as formas imagináveis”.
Ao fim de algum tempo, conseguiu escapar. Desorientada, precisou de ajuda para conseguir voltar a casa para junto da mãe e irmãs. “Naquela época, Amara não conseguia falar nem explicar o que havia acontecido”, recorda o Padre Fidelis, psicólogo clínico e parceiro de projetos da Fundação AIS.
Foi então que a mãe da jovem decidiu levá-la até à igreja para pedir ajuda ao sacerdote. Ela estava profundamente traumatizada. São memórias que, provavelmente, nunca se apagarão. “Via espíritos e pessoas sem cabeça. Estava atormentada por constantes ‘flashbacks’, alucinações e pensamentos perturbadores”, recorda o padre.
Amara é uma das muitas vítimas de Boko Haram que recebem assistência no “Centro de Recursos Humanos para Cura de Trauma”, administrado pela Diocese de Maiduguri, onde o Padre Fidelis trabalha.
A Fundação AIS apoia esta iniciativa da Igreja, em que se procura ajudar aqueles que ficaram profundamente traumatizados na sequência dos ataques dos terroristas. É de facto imenso o sofrimento causado nas populações, tanto cristãos como muçulmanos. “A crise do Boko Haram causou dificuldades incalculáveis. Pessoas perderam as vidas e meios de subsistência. Muitos ainda vivem em campos”, afirma o Padre Fidelis.
É com eles e para eles que a Diocese de Maiduguri lançou, com o apoio da Fundação AIS este projecto. Não são só as vítimas directas da violência jihadista que a Igreja procura apoiar. Há um sem-número de pessoas que se viram obrigadas a fugir e que perderam tudo o que tinham.
Reintegrar todas essas pessoas na sociedade é outra tarefa que os responsáveis deste Centro procuram realizar. “Trabalhamos com todas as partes envolvidas para criar consciência sobre os perigos da estigmatização e a necessidade de integração social”, explica o Padre Fidelis.
Graças à ajuda da Fundação AIS, centenas de pessoas já puderam começar uma vida nova após terem passado pelo inferno da violência jihadista. Amara é uma dessas pessoas. Depois de um período de terapia e de medicação, está a preparar-se para ser costureira mas sonha continuar a estudar.
De acordo com o Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, a Nigéria continua a ser um dos países mais atingidos pelo terror Islâmico. As Nações Unidas estimam que cerca de 36 mil pessoas perderam a vida em resultado da violência relacionada com o Boko Haram, que teve início em 2009, e que haverá cerca de dois milhões de deslocados.
Esta é uma realidade dramática que tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos em todo o continente africano. É o caso da região do Sahel, como o Relatório da AIS documenta de forma exaustiva.
Esta região, segundo D. Oliver Dashe Doeme, Bispo de Maiduguri, “tornou-se um refúgio seguro para grupos terroristas, incluindo o Boko Haram, que prometeram fidelidade ao ‘Estado Islâmico’.”
O Chade, o Mali e o Níger são outros países já atingidos pela violência do extremismo jihadista onde é possível constatar a existência dessas redes terroristas que procuram criar no continente africano diversas “províncias do califado”, como é já perceptível também em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt